TRANSPORTE PÚBLICO

Sucateamento, superlotação e descumprimento do horário estão entre as queixas

Em um universo de 294 linhas de ônibus que atendem diariamente 1,4 milhão de usuários do transporte público na capital, cinco se destacam negativamente ao liderar o ranking de reclamações registradas pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) no último ano. A insatisfação dos passageiros chegou ao limite principalmente nas linhas 30 (Estação Diamante/Centro), 9250 (Caetano Furquim/Nova Cintra), 4205 (Ermelinda/Salgado Filho), 9101 (Alto Vera Cruz/São Bento) e 8207 (Maria Goretti/Estrela Dalva). Juntas, elas acumularam 627 queixas formalizadas em 2018. Mas o descontentamento com a qualidade do serviço pode ser ainda maior, já que o próprio diretor de transporte público da BHTrans, Daniel Marx Couto, admite que muitos usuários desistem de oficializar a reclamação “por achar que não resolve o problema”.

A equipe de O TEMPO embarcou em viagens nas cinco linhas e ouviu queixas sobre sucateamento de veículos, superlotação, descumprimento do quadro de horários e comportamento inadequado de motoristas. Antes mesmo de conseguir falar com passageiros, repórter e fotógrafo foram deixados para trás por dois veículos da linha 30, que passaram sem parar no ponto da avenida Amazonas, em frente ao número 7.675, às 7h05 de uma sexta-feira.

O operador de call center José Luiz Alves de Souza Júnior, 30, utiliza o coletivo que liga a estação Diamante ao centro da capital diariamente e reclamou das condições dos veículos. “Às vezes, a gente pega ônibus que está um caco, principalmente em dias de chuva, quando chove mais dentro do que fora do coletivo”, apontou. Apesar das queixas, Souza Júnior nunca procurou a BHTrans para denunciar a má prestação de serviço: “A gente fica com aquele pensamento de que não vai resolver e que vai continuar a mesma coisa”.

Mesmo entre usuários que já acionaram a BHTrans, a percepção é que o registro da queixa não é suficiente para solucionar as mazelas do transporte público na cidade. “Já entrei em contato com a BHTrans umas três ou quatro vezes, fotografei (o ônibus), e nada é resolvido”, contou a coordenadora de recursos humanos Cláudia Abreu, 47, sobre a linha 4205. Para ela, o maior problema é a pouca quantidade de veículos para atender à demanda. “A partir de 17h é uma vergonha. Para conseguir pegar esse ônibus e sentar é uma luta, mesmo pegando no ponto de partida”, relatou.

Enquanto se equilibrava de pé entre outros passageiros que seguiam viagem na linha 9101, a auxiliar de dentista Laurena Aparecida Silva Vieira, 37, também cobrou melhorias no transporte: “Além da passagem cara, a gente não tem qualidade nesse ônibus e nem segurança”.

Aplicativo

Ajuda. Quem não suporta a ideia de perder tempo à espera do ônibus pode utilizar o aplicativo SIU Mobile. Entre outras funções, ele informa a previsão de chegada do veículo ao ponto.

Novas faixas exclusivas vão ajudar, diz BHTrans

Para tentar solucionar problemas como o descumprimento dos pontos de embarque e os atrasos – duas das principais queixas de quem pega ônibus diariamente –, a BHTrans analisa a implantação de mais 50 km de faixas exclusivas para veículos coletivos em vias de grande fluxo da capital. Segundo o diretor de transporte público do órgão, Daniel Marx Couto, ônibus de linhas que circulam pelos corredores exclusivos de Belo Horizonte têm cerca de 50% menos queixas do que aqueles que trafegam por pistas mistas.

Segundo Couto, uma licitação para elaboração de projetos de viabilidade em corredores da capital ainda será lançada. Ele não quis adiantar datas nem quais devem ser as vias beneficiadas pela medida. Na avaliação do especialista em transporte e trânsito Osias Baptista Neto, as faixas exclusivas podem ajudar tanto os usuários quanto os motoristas: “Nas vias que não têm pista ou faixa exclusiva, os ônibus ficam presos no congestionamento. Isso acaba retardando o ônibus e, se o motorista sabe que vem outro veículo atrás, ele passa direto mesmo. Isso vai se somando a cada ponto, provocando atrasos e superlotação”.

Tecnologia Ainda neste ano, deve ser lançado um aplicativo para celular dedicado exclusivamente ao registro de reclamações sobre o transporte coletivo de Belo Horizonte. “A ideia é que o usuário possa se manifestar de forma mais rápida e objetiva”, afirma Couto.

Nenhuma multa de 2018 foi paga

Multas

As empresas que detêm as concessões para operar o transporte coletivo em BH foram multadas 26.570 vezes por problemas na prestação do serviço em 2018, uma média de 72 infrações por dia. A BHTrans não informou o valor total devido pelas infrações, mas nenhuma foi paga, já que para todas ainda cabe recurso. Segundo o diretor de transporte público da BHTrans, Daniel Marx Couto, nenhuma empresa teve o contrato cancelado por falta de pagamento de multas nos últimos anos.

Sem resposta

A reportagem solicitou, durante um mês, uma entrevista com representante do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), mas a entidade não demonstrou interesse em se manifestar. O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários (STTR-BH) tampouco atendeu.