MEIO AMBIENTE

Aos 8 anos, ainda confinada em casa durante a pandemia da Covid-19, Júlia Bonitese repetia uma frase para a mãe, a professora Karina Venâncio Bonitese: “Eu preciso fazer alguma coisa para salvar o planeta.” A inquietação surgiu após aulas sobre mudanças climáticas na escola, tema que despertou nela um senso de urgência. Cinco anos depois, aos 13, a adolescente vive um dos momentos mais marcantes dessa trajetória.

Júlia será uma das representantes brasileiras no painel “Diálogo Intergeracional de Alto Nível sobre Crianças e Clima”, na COP30, em Belém, no dia 17 de novembro. O espaço é restrito a autoridades, embaixadores e lideranças globais. O convite veio após ela se tornar Embaixadora da Justiça Climática pela Plant-for-the-Planet Brasil e, depois, Embaixadora Regional da América Latina e Caribe pela organização internacional.

A atuação de Júlia ganhou força com o projeto Pequenos Protetores do Planeta, criado para conversar com outras crianças sobre meio ambiente, sustentabilidade e direitos da infância. O que começou como um simples perfil no Instagram, administrado pelos pais, se transformou em uma plataforma de alcance internacional.

"Quando eu converso com outras crianças, sinto-me inspirada a continuar", comenta Júlia. Três meses após a primeira publicação, ela foi chamada para participar de uma live da ONU, dentro da campanha global Geração Restauração. A partir dali, passou a colecionar convites para eventos e debates ligados à pauta ambiental. 

"A gente vive em uma sociedade adultocêntrica, que coloca o adulto como centro das decisões políticas. As crianças, muitas vezes, não são inseridas. E isso prejudica muito, porque temos uma visão diferente de mundo e precisamos expressar isso", diz a ativista mirim.

Infância marcada pela natureza

Karina conta que a relação da filha com o meio ambiente é antiga. “Ela sempre foi assim. Brincava com folha, casca de árvore, fazia circuito para formigas, cuidava delas”, lembra. Durante a pandemia, a família viveu por seis meses em um sítio em Jaboticatubas, na Região Metropolitana de BH, o que intensificou ainda mais a conexão de Júlia com a natureza.

O retorno à capital coincidiu com o aprofundamento dos estudos sobre clima. Segundo a mãe, o conteúdo escolar gerou “ansiedade climática” na menina. “Ela dizia que precisava fazer alguma coisa”, afirma Karina.

Hoje, além do Instagram, Júlia usa o tempo livre para fazer palestras em escolas e participar de debates. Já esteve em unidades de ensino de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, além de ter participado de sessões na Câmara Municipal de BH.

Karina reforça que a filha é uma adolescente comum. “Ela gosta de maquiagem, de sair com os amigos, de internet. Não precisa ser uma criança diferente para proteger o planeta. A ideia é mostrar que qualquer adolescente pode agir.”

Participação na COP30

Na COP30, Júlia falará sobre educação ambiental, redução das desigualdades e responsabilidade compartilhada entre governos, empresas e cidadãos. A mensagem central defende o protagonismo de crianças e jovens como agentes de transformação, não apenas como vítimas da crise climática.

“Pequenas ações valem muito. Quando a gente se junta com outras pessoas, a força aumenta. Sozinhos não conseguimos mudar o mundo; juntos, sim", comenta a ativista mirim. 

No Pequenos Protetores do Planeta, Júlia promove ações presenciais de educação ambiental, plantios, campanhas e entrevistas com especialistas no programa “Papo Natural”, no YouTube. Ela também participa de fóruns e sessões legislativas defendendo o direito de voz das crianças.