Chuva de arroz, purpurina e de confetes para celebrar a diversidade no casamento de 30 casais LGBTI-Q+, que selaram a união na tarde deste domingo (16) em Belo Horizonte. O 'casamentaço', como foi chamado o evento, aconteceu por meio de financiamento coletivo no espaço Centoequatro, na Praça Rui Barbosa, Centro da capital mineira.
Entre os noivos e noivas que se casaram, o discurso era o mesmo. A decisão pelo casamento partiu de um temor por mudanças no quadro político brasileiro a partir de 2019. Nas paredes do Centroequatro e no roteiro da cerimônia, a frase ‘Ninguém solta a mão de ninguém’, que ganhou as redes sociais após o fim das eleições, foi unanimidade.
A aposentada Heloísa Faria, de 55 anos, e a designer Clô Paulielo, de 54, estão juntas há 23 anos. Segundo o casal, o casamento neste ano foi uma urgência. “Pode ser que a gente passe a perder direitos no ano que vem. É uma maneira de responder a este conservadorismo retrógrado e ao momento de julgamento dos LGBT’s”, comentou Heloísa.
As duas também oficializaram o casamento em cartório há duas semanas. “É incrível, agora, casar juntamente com vários outros casais que compartilham das mesmas coisas que a gente”, acrescentou.
Para a gestora de qualidade Luciana Honorato, de 32 anos, e a advogada Isabella Oliveira, de 32, o casamento é a realização de um sonho. As duas estão juntas há dez anos. “Foi um movimento lindo, de união do amor, de pessoas que querem e cultivam o bem”, avaliou Luciana.
Também há dez anos juntos, o professor de teatro Guilherme Augusto, de 33, e o ator Marcos Aurélio Bari, de 30, emocionaram-se após o fim da cerimônia. Chorando, Guilherme agradeceu a organização e pediu união. “Foi um ano muito difícil pra nossa comunidade (LGBTI-Q+). O casamentaço foi uma forma de terminar o ano com esperança. A gente vai precisar muito um do outro nos próximos anos”, disse.
Casamentaço
Mais de 400 pessoas trabalharam como voluntários na organização do evento. Fotógrafos, cabeleireiras, maquiadoras, garçons, recepcionistas, cerimonialistas, técnicos de som, músicos e seguranças. Nenhum dos profissionais cobrou um centavo para realizar os serviços.
A justificativa, de acordo com a maquiadora Tânia Bittencourt, é o amor. A mulher trabalha há 28 anos na área e ficou responsável pelos últimos retoques aos noivos e noivas antes da cerimônia. “A gente tem que doar nosso serviço em qualquer circunstância e com o mesmo carinho e atenção. O que valoriza a vida é o amor e isso foi representado aqui”, comentou.
Quem também atuou de maneira voluntária foi o fotógrafo Tamas Bodolay. “É preciso, acima de tudo, valorizar a diversidade dos casais e respeitar a história que eles carregam”, frisou. A união foi sacramentada por um pastor, uma teóloga e representantes de religiões de matrizes africanas.
“A partir do momento que entendemos a orientação sexual como algo inato do ser humano, nada impede que ela exerça sua fé em plenitude sendo LGBT ou não. É essencial que o ser humano seja tratado com toda a dignidade que lhe cabe”, afirmou o pastor José Barbosa, que foi um dos celebrantes do casamento.
A celebração começou às 17h30 e a festa estava programada até 1h30, com shows da mineira Fernanda Takai, de músicos do tradicional bloco de carnaval de BH, Juventude Bronzeada, do cantor Castello Branco, dos artistas Joana Bentes e Marcelo Veronez. Um dos idealizadores do casamentaço, o cineasta Renan Camilo disse que mais de 600 pessoas, entre familiares e amigos, foram ao evento.
O organizador disse que o maior legado da iniciativa foi ver a felicidade dos casais. “É muito bom sentir que vale a pena amar e de maneira diversa. Cada casal trouxe uma história muito específica e bonita", contou. "O casamentaço foi um grito de amor político”, finalizou Camilo.
O valor total arrecado com o financiamento coletivo para arcar com os custos da celebração e da festa não foi divulgado. Mas até sábado, último dia de doações, mais de R$18 mil foram doados.