Foco em treinamento faz Apac ter aproveitamento de 80% na recolocação de ex-detentos

 

 

 

Apostar na capacitação é o caminho das unidades da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) para ressocializar os detentos no país e inseri-los no mercado de trabalho. Sistema alternativo ao prisional convencional, a Apac tem um índice nacional de 15% de reincidência ao crime de seus ex-recuperandos (como são chamados os detentos nas Apacs), contra 80% no sistema convencional, segundo dados da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (Fbac), que administra as Apacs no país. “Faço o acompanhamento há cinco anos dessa unidade e posso afirmar que 80% dos ex-recuperandos voltaram para a sociedade sem cometer crime e estão trabalhando legalmente”, afirma o presidente executivo da Apac em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, Walesson Gomes da Silva.

Os resultados motivaram a rede de cursos profissionalizantes SOS Educação a inaugurar, no início de abril, uma unidade dentro da Apac Santa Luzia e oferecer mais de 40 formações – entre elas informática, educação financeira, designer gráfico e inglês – aos 162 recuperandos da unidade. “Ofertar educação para todos sempre foi um valor para a empresa. Nesse caso, o trabalho realizado na Apac nos motivou a participar”, afirma o gerente nacional da SOS Educação, Ighor de Castro. “Até o momento: foram investidos nesse laboratório entre R$ 25 mil e R$ 30 mil”, conta o franqueado da SOS Educação e responsável pela unidade da Apac Santa Luzia, Fernando César Fernandes Borba. Segundo Castro, trata-se de um projeto-piloto, mas a empresa já estuda replicá-lo em outras 60 Apacs nos país.

Sonhos

Para os recuperandos, estudar vai além da possibilidade de um emprego. “Para a gente, que está privado de liberdade, aperfeiçoar é muito importante. A gente sabe que o mercado de trabalho está difícil até para quem está la fora, para gente que vai ser ex-presidiário vai ser muito mais. Essas oportunidades vão minimizar as barreiras”, avalia o recuperando da Apac José Luiz Filho, 32, que sonha em arrumar um emprego quando cumprir sua pena. “Eu tenho um sonho muito grande de trabalhar na área de administração, ser auxiliar administrativo”, diz.

Vagner Lacerda, 35, quer ser microempreendedor individual. “Pretendo montar uma empresa de arte em gesso usando os cursos profissionalizantes (que cursei) nessa época que estive preso”, diz Lacerda, que está cursando, via ensino a distância, o curso de administração de empresas.

Apac atende só 5% de detentos

Minas Gerais conta com 39 Apacs, sete delas femininas, com 3.700 recuperandos, 5% do total de detentos no sistema prisional convencional administrado pelo governo estadual. Segundo a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), são 74.216 presos. “Temos expectativa de aumentar o número de Apacs no país, mas faltam políticas públicas”, diz o presidente da Apac de Santa Luzia, Walesson Gomes.

O custo mensal de um recuperando na Apac de Santa Luzia é de R$ 1.055, segundo Gomes, enquanto no sistema convencional é R$ 4.000. “Temos capacidade para atender 200 recuperandos, mas o Estado (responsável pelo valor) nos repassa dinheiro para 160. Temos 162, e queremos receber mais seis, mas nesse caso ficaria no vermelho”, conta Gomes.

A Apac Santa Luzia recebe, em média, 200 solicitações por mês para transferir detentos do sistema prisional convencional. A metodologia da Apac não utiliza guardas armados e oferece cursos de marcenaria, pintura, padaria, informática, além de supletivos. “Na Apac, (o interno) tem a obrigatoriedade de concluir pelo menos o ensino básico. É um grande esforço para garantir esse direito à educação”, explica a diretora da educação da Apac Santa Luzia, Suzane Duarte.

Tutor interno

Os recuperandos Alexandro Afonso, 27, e Flávio Pinheiro, 32, foram contratados pela SOS Educação como tutores para atuar na unidade da escola dentro da Apac Santa Luzia. “Ser tutor aumentou a minha autoestima e me motiva a ter mais conhecimento em informática”, diz Alexandro.