No 131º dia de buscas, o Corpo de Bombeiros encontrou, nesta terça-feira (4), um corpo masculino inteiro em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde houve o rompimento da barragem I da mina Córrego do Feijão no último dia 25 de janeiro. 

O corpo foi resgatado por volta das 8h, na região do Terminal de Carga Ferroviário 3 (TCF), que está localizado antes da área administrativa, na frente de trabalho mais próxima do local do rompimento. 

"Em vários pontos deste TCF a gente tinha profundidade de 8, 10, 12 metros, e, graças ao trabalho que o Corpo de Bombeiros vem realizando há mais de quatro meses de busca de manejo desse minério, a gente conseguiu localizar esse corpo que estava em uma camada bem mais profunda", explicou o porta-voz do Corpo de Bombeiros, tenente Pedro Aihara. 

O corpo estava sem nenhuma separação de membros. "Quando a gente fala em corpo intacto é o estado de decomposição não está tão avançado assim. É um estado mais avançado, só que não tanto quanto a gente esperava nesta fase da operação", complementou Aihara. 

O tenente explicou que a identificação do corpo deve ser mais fácil por estar inteiro e ter sido encontrado até mesmo com roupas. Os bombeiros já têm suspeita da identidade do corpo, mas, para preservar as famílias, a informação só será divulgada após o trabalho da Polícia Civil. 

Passo a passo 

De acordo com o médico legista, responsável pelo serviço de tanalogia do IML de capital, Ricardo Moreira Araújo, existe todo um procedimento até que a vítima seja identificada.

"O procedimento inicial é sempre no local. Existe uma perícia  de local para avaliação do contexto em que foi encontrado. Nós temos todo um cuidado extra durante a remoção, como proteger mãos (em caso de possível encontro de digital, proteger o segmento cefálico para possível exame odontológico e, paralelamente, a gente está consultando aqui no IML toda a documentação das pessoas que ainda estão desaparecidas para fazer o cruzamento de dados, características particulares para o reconhecimento da vítima", detalhou o médico.

Segundo ele, o prazo para o resultado dos exames para a identificação vai depender da situação em que o corpo foi encontrado. "No momento atual que a gente está vivendo na tragédia de Brumadinho, a família só é acionada após a identificação. Todas as famílias foram consultadas para fornecimento de informações. Mas os familiares só depois da identificação científica for confirmada", finalizou o profissional. 

O Serviço de Inteligência do Corpo de Bombeiros está conversando com as famílias para saber quais as roupas que as pessoas estavam usando, as cicatrizes ou tatuagens que possuem e até o trajeto feito pelas vítimas. Todas essas informações são úteis para encontrar e identificar todos os desaparecidos.  

Outros corpos inteiros 

Esta é a terceira vez que, após muito tempo, um corpo é encontrado intacto em Brumadinho. A última vez em que isso aconteceu, segundo o Corpo de Bombeiros, foi no dia 18 de maio, quando um corpo, masculino, foi encontrado apenas sem um membro. 

Em abril, após três meses de buscas, um corpo completo também foi encontrado. O resgate foi no domingo de Páscoa, comemorado em 21 de abril, e a identificação da vítima pelo Instituto Médico-Legal (IML), ocorreu no dia seguinte. 

Na época o corpo foi identificado pela técnica de papiloscopia, que é o método de identificação por meio de digitais. As outras técnicas são o reconhecimento por arcada dentária, exames antropológicos e exame de DNA.

Solo protege corpos 

O presidente da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM) e professor de medicina legal da Universidade de São Paulo (USP), Ivan Dieb Miziara, explica que, no caso desses dois corpos, o que pode ter permitido que eles ficassem praticamente intactos foi o efeito do solo.

Segundo ele, os corpos podem ter sofrido um processo transformativo chamado "saponificação", que acontece em solos úmidos e argilosos. "É como se o corpo virasse um sabão. Fica conservado dentro do próprio solo”, explicou.