Frota registrada na capital bate pela primeira vez na história marca emblemática. Relação atual é de um veículo por 1,24 habitante e tendência, segundo especialistas, é de que taxa se equipare



Em meio a congestionamentos que parecem cada vez mais longos e duradouros em ruas e avenidas de Belo Horizonte, a capital alcança um número emblemático, mas nada favorável para as perspectivas do trânsito. Dados do Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG) mostram que a frota registrada na cidade rompeu pela primeira vez na história a barreira dos 2 milhões de veículos, dos quais 1,3 milhão de automóveis e 219 mil motocicletas, número significativo para se medirem os níveis de mobilidade urbana em um município que dobrou sua frota em 12 anos e quase a triplicou neste século (veja arte).

No mesmo período, nenhum quilômetro de linha de metrô foi construído, ignorando a forma mais indicada por especialistas para garantir qualidade no deslocamento dos habitantes da metrópole. Com uma população estimada em 2,5 milhões de pessoas para 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a marca dos 2 milhões de carros, motos, ônibus, caminhões e demais veículos significa um veículo para cada 1,24 habitante e a previsão de estudiosos no assunto é alcançar a paridade de um para um em um prazo que só depende dos níveis de crescimento econômico do país. Perspectiva ainda mais grave quando se considera que apenas uma parcela da população é formada por motoristas.

Em 2006, 12 anos atrás, BH tinha menos de 1 milhão de veículos. De lá para cá, o conjunto das 931.287 unidades da frota que fecharam aquele ano cresceu 114%, para mais que dobrar em outubro de 2018. No mesmo período, a malha metroviária da capital mineira permaneceu com os 28,1 quilômetros de extensão entre as estações Eldorado, em Contagem, na Grande BH, e Vilarinho, na Região de Venda Nova.

No mesmo intervalo, a capital mineira ganhou apenas o Sistema Move como mudança significativa na estrutura do transporte público. O BRT, na sigla em inglês, deu prioridade de espaço para os coletivos em quatro grandes corredores da cidade, além de duas vias menores no Hipercentro de BH. Muito pouco diante do avanço da frota, para o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende. “Nós não aumentamos a densidade do transporte coletivo, do transporte de massa, principalmente o metrô – porque é o metrô que tem a capacidade de deixar o veículo em casa”, afirma o especialista.

Resende destaca que a barreira dos 2 milhões de veículos é simbólica para o trânsito. “A cidade perdeu a luta que vinha mantendo, de maneira extremamente tímida em suas intervenções, com o veículo privado”, afirma. Quando se analisa o crescimento apenas dos automóveis, esse número também dobrou em 12 anos. Enquanto em 2006 a capital mineira tinha 673 mil carros registrados, hoje são 1,3 milhão, 105% a mais.

O resultado disso é o que o professor chama de “espraiamento dos congestionamentos”. Enquanto há 10 anos o horário de pico da manhã era das 7h às 8h30, hoje, segundo o especialista, esse horário se estendeu das 6h30 às 9h. Outro problema ainda mais grave é o potencial que pequenos acidentes ou outros eventos têm para instalar o caos nas ruas da capital. “Dependendo de onde acontecer um acidente ou outro evento, imediatamente cria-se o que chamamos de efeito de arrasto. Vai-se criando o famoso nó no trânsito. São Paulo já atingiu isso há muito tempo e Belo Horizonte caminha nessa direção”, acrescenta Paulo Resende.

Não resta outro caminho, na avaliação do coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Cabral, senão investimentos que visem ao melhor uso e ocupação do solo, voltar a fazer linhas de metrô, aumentar o BRT/Move, aumentar integração entre os modais públicos e usar trechos abandonados de ferrovias para implantar trens intermunicipais na região metropolitana