Os primeiros dias do outono - que começou na última quinta-feira (20), às 6h01 - têm sido marcados por grande volume de chuva em Belo Horizonte. Nessa segunda-feira (24 de março), um temporal atingiu a capital deixando ruas alagadas, famílias ilhadas e uma adolescente, de 14 anos, ferida após ser arrastada pela enxurrada. Como diria Elis Regina na clássica composição de Tom Jobim, "são as águas de março fechando o verão". Bem mais que uma crença popular eternizada na clássica canção brasileira, segundo especialista, a frase é explicada pela incidência de fenômenos climáticos e fatores sazonais que resultam no aumento das precipitações nesta época do ano. 

A doutora em Ciências Ambientais e docente do curso de Engenharia Ambiental do UniBH, Elizabeth Rodrigues Ibrahim, explica que o mês de março é tradicionalmente associado ao encerramento do verão e início do outono no Brasil, período em que as chuvas se intensificam em diversas regiões do país. Esse fenômeno climático é resultado de uma combinação de fatores, como maior evaporação e avanço de massas de ar frio, que intensificam a instabilidade atmosférica nesta época do ano.

“A transição do verão para o outono intensifica a instabilidade atmosférica, favorecendo a formação de tempestades. Entre as principais razões para esse aumento das chuvas estão a alta umidade, o avanço das primeiras frentes frias e a intensificação da convecção”, afirma.

Conforme a especialista, as altas temperaturas durante o verão promovem uma maior evaporação da água de superfícies como oceanos, rios e vegetação. Esse vapor d'água sobe para a atmosfera, onde se resfria e condensa, formando nuvens carregadas que resultam em chuvas frequentes e intensas. Além disso, a maior incidência de luz solar durante o dia acelera esse processo, aumentando a umidade no ar e favorecendo a formação de tempestades.

Associado a isso, segundo Ibrahim, a chegada de frentes frias típicas do outono também contribui para o aumento das chuvas na transição das estações. Essas massas de ar frio avançam sobre as regiões quentes e úmidas, provocando instabilidades atmosféricas que culminam em precipitações volumosas. "Esse contraste térmico é um dos principais gatilhos para as chuvas intensas características dessa época", pontua.

Em Belo Horizonte, por exemplo, a segunda quinzena de março tem sido marcada por chuvas significativas. Nessa segunda-feira (24), em apenas duas horas, choveu, no Barreiro, quase 20% de todo volume esperado para o mês. Conforme a Defesa Civil de Belo Horizonte, entre 11h e 13h, a regional registrou 38 milímetros (mm) de precipitação, o equivalente a 19,2% do esperado para março. O temporal causou alagamentos e transtornos no trânsito. 

Chuva deve continuar até abril 
Segundo a especialista, as chuvas que fecham o verão devem se estender na capital mineira pelos próximos dias. A previsão é que os temporais permaneçam pelo menos até a primeira semana de abril. 

“Esse período marca a transição para o outono, quando as condições atmosféricas começam a mudar gradualmente. Embora essas chuvas possam causar transtornos em áreas urbanas, elas também desempenham um papel essencial na renovação dos recursos hídricos e no ciclo natural das estações”, finaliza.