Muita gente levou susto ao acordar nesta manhã (29/1) e ficar sabendo que a rua mais badalada do bairro com metro quadrado mais caro da capital mineira, a Marília de Dirceu, estava sob água após mais um temporal bíblico. Afinal, enchente quase nunca chega aos ricos. Mas, o evento extraordinário desta noite, com a inundação de locais e estabelecimentos de luxo, era previsível dentro da lógica das mudanças climáticas e do tipo de urbanização da cidade. Um dia tinha que acontecer.

Há anos que especialistas em todo o mundo vêm alertando para a chegada de eventos climáticos dramáticos em consequência do aquecimento do planeta. Pode ser cômodo negar ou ignorar o problema, mas não dá para escapar da realidade. A vingança da natureza nos alcança. E nem os mais riscos estão a salvos, como vimos nas últimas horas em BH.

Também não dá mais desconhecer os erros da urbanização da nossa cidade, que a tornam vulnerável e propícia a alagamentos. Os moradores precisam aceitar a realidade de que BH é uma cidade singular no mundo, devido à sua topografia irregular. Deve ser a aglomeração urbana mais populosa e verticalizada já construída sobre terreno montanhoso. Acaso alguém já ouviu falar de uma cidade com mais ruas e prédios em morros do que a capital mineira? Eu não conheço. E o que isso tem a ver? Tudo. BH copia modelos de cidades planas, que não lhe servem.

As águas no Lourdes e adjacências podem demorar a baixar por dificuldades de escoamento. As saídas já estão entupidas pelo lixo e lama arrastados pelos temporais da semana passada. E o tempo sombrio indica mais chuva. Mas, uma hora as enchentes vão passar. Então, a população terá que encarar a verdade: BH está totalmente despreparada para o seu novo clima. É preciso repensar muita coisa sobre a cidade e nosso modo de vida. Um boa oportunidade para isso está chegando com as eleições municipais.

Parece impossível mudar, mas não é. O primeiro passo, o mais difícil, é vencer nossa própria apatia, preguiça ou covardia. Só que a cidade e o clima vêm piorando muito e rápido demais. Depois desta noite, não dá mais para fingir que não está vendo.