Brasília - Revistas Veja e IstoÉ que apoiaram decididamente o golpe contra Dilma Roussef e a eleição de Jair Bolsonaro começam a romper com o bolsonarismo; ambas publicam capas com ataques devastadores contra o guru do clã Bolsonaro, Olavo de Carvalho. Numa delas, Carvalho aparece como "imbecil" na capa; na outra, sua boca aparece modelada por um mictório. O "guru" já bateu duro na imprensa ao dizer no Twitterque "os jornalistas são os maiores inimigos do povo, seja nos EUA ou no Brasil", o que aumenta ainda mais as dificuldades de Bolsonaro na articulação com os meios de comunicação.
Além de problemas com jornalistas, o entrave de Olavo com militares gera preocupação no governo. Os alvos preferidos do escritor são o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e o ministro da Secretaria de Governo da presidência, o general Santos Cruz. E um forte indicativo da influência de Carvalho no governo são as indicações de Ricardo Vélez Rodriguez para comandar a pasta da Educação (Vélez foi demitido) e também o atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
O fato é que a ala militar tem ficado cada vez mais irritado com as posições de alguém fora do governo. Segundo a coluna Painel, por exemplo, membros da ativa das Forças dizem que o Bolsonaro soou dúbio ao tentar sufocar o impasse sem antes defender os generais que estão no governo. Os olavistas, alinhados ao escritor Olavo de Carvalho, garantem que o chefe do Planalto está cansado das cobranças pois avalia que os fardados deveriam protegê-lo e não o contrário.
Um dia após Carvalho chamar Santos Cruz de seu "merda", o general Eduardo Villas Bôas, membro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e ex-chefe das Forças Armadas qualificou o escritor como "trotski de direita" e disse que ele tem um "vazio existencial". "Derrama seus ataques aos militares e às FFAA demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia", afirmou (veja aqui).
A influência de alguém de fora do governo sobre a gestão reflete a incapacidade de liderança do presidente Jair Bolsonaro, que terá a missão de apaziguar os ânimos com a imprensa. Mas esta tarefa será difícil com um presidente impopular. Pesquisa XP Ipespe, divulgada nesta sexta-feira (10), apontou que a avaliação negativa do governo passou para 31% em maio ante 26% em abril. Um levantamento do Ibope, divulgado em março, já havia apontado a reprovação do governo (ruim ou péssimo) em 24%, percentual que, embora menor, já deixava Bolsonaro como presidente mais impopular em começo de primeiro mandato desde 1995.