O jornal Folha de S.Paulo desistiu em definitivo de Jair Bolsonaro e resolveu reconhecer o fiasco de seu governo. "Decorridos dois terços do governo Jair Bolsonaro, o saldo é um fracasso inegável e, tudo indica, irreversível", afirma  editorial da família Frias. Em 2016, o jornal foi um apoiador entusiasmado do golpe contra Dilma Rousseff e, em 2018, apresentou uma suposta "neutralidade" que teve como objetivo atacar de maneira brutal Fernando Haddad.

Num editorial em 29 de setembro de 2018, sob o título "A hora do compromisso", o jornal publicou: "A agressão constante a decisões legítimas da Justiça e do Congresso, bem como o recurso sistemático à corrupção nas gestões petistas, ainda não foi objeto de autocrítica da legenda nem de seu candidato". Fez críticas a Bolsonaro, mas voltou-se, com esperança, para o presidente que agora abandona: "É o momento de corrigir, em linguagem clara, esse conjunto de afrontas ao patrimônio civilizatório".

Os ataques continuados ao PT e a Haddad fizeram com que o ex-candidato desistisse de ser colunista do jornal em 9 de janeiro deste ano. Ponderou Haddad sobre a situação em artigo de despedida de sua função: "Quando fui convidado para ser colunista da Folha, relutei em aceitar. Na época, me incomodava o posicionamento do jornal no segundo turno das eleições de 2018. Pareceu-me uma falsificação inaceitável um órgão de imprensa que apoiou o golpe militar de 1964 equiparar, em editorial, um professor de teoria democrática a uma aberração saída dos porões da ditadura. Àquela altura, a Folha já sabia que a família Bolsonaro era autoritária e corrupta, mas entendia que a agenda econômica neoliberal de Paulo Guedes compensaria o risco. Teria sido mais correto assumir isso publicamente",
 
Sobre Bolsonaro, no editorial desta quarta-feira, a Folha continua: "Não se vê em Brasília pensamento, liderança ou mera disposição para levar adiante uma agenda que permita ao país chegar ao final de 2022 em condições melhores que as herdadas pelo mandatário".

O jornal destaca que "não houve nova política, muito menos combate à corrupção". "O centrão ganhou protagonismo inédito, a Procuradoria-Geral perdeu em autonomia e a Polícia Federal teve dirigentes trocados ao sabor das preocupações do Planalto com aliados e familiares", diz.


"O malogro de seu governo se deve ao despreparo e à indolência, não a sabotagens e conspirações imaginárias. A perspectiva de derrota nas urnas, que desencadeou toda a atual gritaria golpista, decorre tão somente da constatação do óbvio pelo eleitorado".