O jornal Washington Post, um dos mais importantes dos Estados Unidos, destaca que “o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), perdendo nas pesquisas de reeleição para um segundo mandato, levantou temores do velho fantasma que ainda assombra a América Latina: um golpe. Ou, talvez, uma versão brasileira da insurreição de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio dos EUA”. “37 anos depois que o maior país da América Latina se livrou da ditadura militar, a eleição presidencial está se configurando como um referendo sobre a democracia”, destaca reportagem assinada pelos jornalistas Gabriela Sá Pessoa e Antonio Faiola.

“Ele semeou dúvidas sobre as urnas eletrônicas, minou as autoridades eleitorais e apelidou seu principal adversário de um 'ladrão' corrupto. Fã descarado da antiga ditadura militar, ele incitou sua base eleitoral a 'ir à guerra' se a eleição no domingo for 'roubada'", diz o jornal, em referência às declarações de teor golpista feitas pelo atual ocupante do Palácio do Planalto. 


Ainda segundo a reportagem, “a escolha entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 76, e Bolsonaro, 67, colocou o Brasil na linha de frente do cabo de guerra global entre democracia e autoritarismo. A disputa está sendo observada de perto nos Estados Unidos – cuja política e polarização o Brasil parece espelhar”.
 
“A votação de domingo lembra o confronto Biden-Trump em 2020. Bolsonaro, que manteve ligações com estrategistas de Trump, incluindo Stephen K. Bannon, está cerca de 10 pontos percentuais atrás de Lula, um leão da esquerda latino-americana que se mudou para o centro e lançou-se como um defensor da jovem democracia brasileira”, ressalta o Washington Post.

O texto observa, ainda, que "as pesquisas sugerem que Lula está a uma distância de 50% dos votos - a margem necessária para evitar um segundo turno em 30 de outubro. Caso vença, qualquer tentativa de Bolsonaro de se apegar ao poder esbarra em instituições mais fracas do que as dos Estados Unidos – e seria o maior desafio à democracia aqui desde o fim da ditadura em 1985. Se Bolsonaro vencer, por mais quatro anos, dizem os críticos, a quarta maior democracia do mundo pode sofrer uma maior erosão das instituições. Também marcaria outra vitória para a extrema direita global, após grandes vitórias este mês na Itália e na Suécia”.

A reportagem também informa que “Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, disse ao The Washington Post que houve ‘manipulação flagrante’ de pesquisas de opinião e alertou que ‘várias forças nacionais e estrangeiras’ estavam organizando um 'golpe' contra seu cliente. Bolsonaro, disse ele, tomará 'todas as medidas legais' para contestar qualquer vitória de Lula, e sugeriu que a direita protestará ou fará greves nacionais se seu candidato perder. ‘Não acredito em nada sério, em termos de violência’, disse Wassef. ‘Mas as pessoas não vão ficar quietas enquanto a cadeira é roubada de um presidente em quem todos votaram e amaram’”. 

A reportagem observa que analistas dizem que ”a maior ameaça é um cenário da cartilha de Trump”, em que Bolsonaro alegue a existência de supostas fraudes e se recuse a reconhecer o resultado da eleição. 

 
“Ele poderia convocar seus apoiadores para ir às ruas e causar tumulto, principalmente se houver um segundo turno”, disse o analista político da Fundação Getulio Vargas Guilherme Casarões. “Ele poderia tentar subverter os resultados ou forçar um estado de emergência para adiar o segundo turno até o próximo ano”, completou.