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string(88) "Leila Ferreira lança ‘O nome disto é vida!’, livro que nasce de uma escuta radical"
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string(8965) "“Minha editora tinha me pedido para não passar de dez entrevistas. Quando percebi, eu tinha dois times em campo: 22 pessoas”, descreve Leila Ferreira ao falar sobre o processo de escrita do seu novo livro “O nome disto é vida!”, que ela lança em Belo Horizonte nesta segunda-feira (3/11), dentro da programação do longevo programa de encontros literários Sempre Um Papo.
Saindo pela Editora Planeta, o novo trabalho, como ela antecipa, reúne 22 entrevistas realizadas em nove países, resultando em um mosaico de conversas “sobre o que sustenta a existência quando o barulho do mundo silencia”, para citar palavras da jornalista.
Nesse caleidoscópio de vozes estão filósofos, escritores, psicólogos, psicanalistas, atrizes, educadores, um jardineiro octogenário da Serra da Canastra, um pastor de ovelhas cego em Portugal, um capelão hospitalar na Flórida, além de nomes conhecidos, como Mia Couto, Marina Colasanti, Martha Medeiros, Christian Dunker, Andrew Solomon, Denise Fraga e Mário Sergio Cortella.
A autora detalha que a seleção dos entrevistados foi orgânica. “Eu sabia apenas que queria um livro de entrevistas, porque entrevistar é o que mais amei fazer na vida”, conta, inteirando que a cada novo encontro, se deixava guiar pela curiosidade, se colocando aberta às histórias que ouvia – e que, não raro, levavam a novos personagens. “Eu escutava falar de alguém e pensava: essa pessoa pode ter reflexões interessantes sobre a vida. Outra pessoa lembrava mais um nome, e assim foi. Quando vi, o livro estava tomado”, resume.
O próprio título, conta, surgiu espontaneamente de uma conversa com a amiga Martha Medeiros, uma de suas entrevistadas. “Ela ouviu uma história e comentou: ‘Gente, o nome disso é vida’. Eu disse: ‘Pronto, achei o título’. Ela ainda tentou se defender: ‘Mas todo mundo fala isso, Lele!’ — e eu: ‘Pois é, mas você falou e eu gostei’”, conta.
A história de como Leila pescou a frase no meio da conversa é um bom exemplo do seu método, que, simultaneamente simples e radical, se baseia no exercício da escuta – prática que a autora define “ameaçada de extinção”.
“Não escutamos mais, não temos paciência nem disponibilidade para o outro”, crítica. Em contraponto a essa lógica apressada e dispersa dos tempos modernos, fez questão de que todas as entrevistas fossem presenciais, evitando que os encontros precisassem ser medianos pelas telas. “Eu queria sentar e escutar uma pessoa, nem que fosse por apenas uma hora, mas escutar de verdade”, crava.
“Eu quis ser analógica”, resume. “Queria ser nostálgica. Fui criada no interior de Minas, onde a gente aprende a conversar na cozinha, escutando com atenção. Foi isso que tentei fazer”, acrescenta a jornalista, que, agora, se dá conta de que nenhuma teoria da comunicação estudada ao longo de sua carreira foi mais importante em sua formação do que aquelas lições domésticas. “Talvez houvesse um desejo inconsciente de voltar à cozinha de Araxá, ao encantamento pelo outro”, conclui.
A escolha lhe custou pequenas epopeias. Para conversar com Mia Couto, por exemplo, embarcou em uma viagem de 11 horas até Maputo, em Moçambique. “Fiquei uma hora e pouco com ele lá e voltei. Muita gente achou um exagero, mas uma hora com Mia Couto, presencialmente, na terra dele, vale muitas horas em termos de profundidade. É, aliás, algo que um dos meus entrevistados diz: o tempo tem duração e tem profundidade. E eu estava interessada também nessa outra dimensão”, explica.
A qualidade do encontro físico, genuinamente interessado, foi inclusive tema de uma das conversas apresentadas neste compêndio. No caso, a entrevista com a psicóloga Susan Pinker, feita no Canadá, em que trataram especialmente sobre as conexões presenciais. “Ela me disse: ‘Leila, se esta entrevista fosse online, seria outra conversa’. E, então, falou da dança dos movimentos, do balé da comunicação – quando você recua, o outro se aproxima; quando você se aproxima, o outro recua. Falou ainda dos sinais não verbais, que são os mais honestos. Aspectos que se perdem no online”, relata Leila, animada.
Se, de um lado, os momentos de encontro foram um deleite e, de outro, o processo de produção trabalhoso, a verdade é que nada foi mais desafiante que a etapa da edição. “Foi a parte mais dolorosa de todas”, admite. “A editora me disse que eu tinha que cortar no mínimo 50 páginas, e foi muito difícil, mas eu sabia que tinha exagerado no número de entrevistas, então sabia que era o preço a se pagar”, conta. “Sinto que, mais do que um corte, é sempre uma amputação. Você sente que está tirando um pedaço vivo. Acho que aceitei tão pouco isso que, até agora, não sei o que cortei. Prefiro não saber”, diz, rindo da situação que se colocou.
Contraponto à pressa
Leila Ferreira descreve “O nome disto é vida!” como resultado de uma inquietação: a percepção de que, na pressa, estamos encurtando as possibilidades da vida. “Desfrutamos menos das coisas e das pessoas. Aprendemos menos, sentimos menos. Estamos na epiderme da vida”, diz. “E a vida tem tantas camadas – não é possível que vamos nos contentar com a epiderme”, reflete.
Para ela, o mosaico de entrevistas que agora apresenta são, também, um gesto de resistência à lógica da distração crônica e da performance que domina as relações contemporâneas.
Ao falar do fenômeno da distração crônica, ela lembra de quando, em um trem entre Cascais e Lisboa, observou que os passageiros eram indiferentes às paisagens deslumbrantes do percurso, ficando presos apenas às telas de seus celulares. “A memória não é mais uma paisagem vista de um comboio em movimento”, lamenta, fazendo menção a uma frase de Gonçalo M. Tavares.
Sobre a excessiva performatividade nas redes, diz: “A sensação que tenho é que estamos todos morando no Projac. São vidas cenográficas, roteiros escritos por outros. De repente, você para e diz: ‘O que estou fazendo neste emprego? Neste casamento?’. É porque o roteiro não é seu. Foi escrito para outra pessoa”.
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Saindo pela Editora Planeta, o novo trabalho, como ela antecipa, reúne 22 entrevistas realizadas em nove países, resultando em um mosaico de conversas “sobre o que sustenta a existência quando o barulho do mundo silencia”, para citar palavras da jornalista.
Nesse caleidoscópio de vozes estão filósofos, escritores, psicólogos, psicanalistas, atrizes, educadores, um jardineiro octogenário da Serra da Canastra, um pastor de ovelhas cego em Portugal, um capelão hospitalar na Flórida, além de nomes conhecidos, como Mia Couto, Marina Colasanti, Martha Medeiros, Christian Dunker, Andrew Solomon, Denise Fraga e Mário Sergio Cortella.
A autora detalha que a seleção dos entrevistados foi orgânica. “Eu sabia apenas que queria um livro de entrevistas, porque entrevistar é o que mais amei fazer na vida”, conta, inteirando que a cada novo encontro, se deixava guiar pela curiosidade, se colocando aberta às histórias que ouvia – e que, não raro, levavam a novos personagens. “Eu escutava falar de alguém e pensava: essa pessoa pode ter reflexões interessantes sobre a vida. Outra pessoa lembrava mais um nome, e assim foi. Quando vi, o livro estava tomado”, resume.
O próprio título, conta, surgiu espontaneamente de uma conversa com a amiga Martha Medeiros, uma de suas entrevistadas. “Ela ouviu uma história e comentou: ‘Gente, o nome disso é vida’. Eu disse: ‘Pronto, achei o título’. Ela ainda tentou se defender: ‘Mas todo mundo fala isso, Lele!’ — e eu: ‘Pois é, mas você falou e eu gostei’”, conta.
A história de como Leila pescou a frase no meio da conversa é um bom exemplo do seu método, que, simultaneamente simples e radical, se baseia no exercício da escuta – prática que a autora define “ameaçada de extinção”.
“Não escutamos mais, não temos paciência nem disponibilidade para o outro”, crítica. Em contraponto a essa lógica apressada e dispersa dos tempos modernos, fez questão de que todas as entrevistas fossem presenciais, evitando que os encontros precisassem ser medianos pelas telas. “Eu queria sentar e escutar uma pessoa, nem que fosse por apenas uma hora, mas escutar de verdade”, crava.
“Eu quis ser analógica”, resume. “Queria ser nostálgica. Fui criada no interior de Minas, onde a gente aprende a conversar na cozinha, escutando com atenção. Foi isso que tentei fazer”, acrescenta a jornalista, que, agora, se dá conta de que nenhuma teoria da comunicação estudada ao longo de sua carreira foi mais importante em sua formação do que aquelas lições domésticas. “Talvez houvesse um desejo inconsciente de voltar à cozinha de Araxá, ao encantamento pelo outro”, conclui.
A escolha lhe custou pequenas epopeias. Para conversar com Mia Couto, por exemplo, embarcou em uma viagem de 11 horas até Maputo, em Moçambique. “Fiquei uma hora e pouco com ele lá e voltei. Muita gente achou um exagero, mas uma hora com Mia Couto, presencialmente, na terra dele, vale muitas horas em termos de profundidade. É, aliás, algo que um dos meus entrevistados diz: o tempo tem duração e tem profundidade. E eu estava interessada também nessa outra dimensão”, explica.
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Se, de um lado, os momentos de encontro foram um deleite e, de outro, o processo de produção trabalhoso, a verdade é que nada foi mais desafiante que a etapa da edição. “Foi a parte mais dolorosa de todas”, admite. “A editora me disse que eu tinha que cortar no mínimo 50 páginas, e foi muito difícil, mas eu sabia que tinha exagerado no número de entrevistas, então sabia que era o preço a se pagar”, conta. “Sinto que, mais do que um corte, é sempre uma amputação. Você sente que está tirando um pedaço vivo. Acho que aceitei tão pouco isso que, até agora, não sei o que cortei. Prefiro não saber”, diz, rindo da situação que se colocou.
Contraponto à pressa
Leila Ferreira descreve “O nome disto é vida!” como resultado de uma inquietação: a percepção de que, na pressa, estamos encurtando as possibilidades da vida. “Desfrutamos menos das coisas e das pessoas. Aprendemos menos, sentimos menos. Estamos na epiderme da vida”, diz. “E a vida tem tantas camadas – não é possível que vamos nos contentar com a epiderme”, reflete.
Para ela, o mosaico de entrevistas que agora apresenta são, também, um gesto de resistência à lógica da distração crônica e da performance que domina as relações contemporâneas.
Ao falar do fenômeno da distração crônica, ela lembra de quando, em um trem entre Cascais e Lisboa, observou que os passageiros eram indiferentes às paisagens deslumbrantes do percurso, ficando presos apenas às telas de seus celulares. “A memória não é mais uma paisagem vista de um comboio em movimento”, lamenta, fazendo menção a uma frase de Gonçalo M. Tavares.
Sobre a excessiva performatividade nas redes, diz: “A sensação que tenho é que estamos todos morando no Projac. São vidas cenográficas, roteiros escritos por outros. De repente, você para e diz: ‘O que estou fazendo neste emprego? Neste casamento?’. É porque o roteiro não é seu. Foi escrito para outra pessoa”.