Brasília - A delação de Antonio Palocci tem muita história rocambolesca mas poucos fatos, muita conversa e quase nenhuma prova. Por isso, é praticamente imprestável. Esta é a avaliação da cúpula da Procuradoria Geral da República (PGR), segundo a coluna Radar, da revista Veja, insuspeita de qualquer simpatia por Lula (aqui). A avaliação coincide com a do Ministério Publico Federal de Curitiba. Tanto que o acordo foi rechaçado em 2018 pelo MP, sendo costurado de forma improvisada pela Polícia Federal para tornar-se uma peça da campanha presidencial -às vésperas das eleições, Sérgio Moro liberou a delação para divulgação e ela foi amplamente utilizada para atacar Lula e Haddad, então candidato do PT à Presidência.
Faltando apenas seis dias paras eleições presidenciais, Moro quebrou, em 1 de outubro, nesta segunda-feira, 1, o sigilo de parte do acordo de colaboração de Antonio Palocci com a Polícia Federal. No trecho que Moro liberou à imprensa, Palocci relata um suposto esquema de indicações para cargos na Petrobras durante o governo Lula, sem apresentar qualquer evidência ou prova (aqui). No despacho, o então juiz afirmava que "examinando o seu conteúdo, não vislumbro riscos às investigações em outorgar-lhe publicidade".
A delação é tão frágil que até um aliado histórico de Moro em Curitiba recusou-se a acolhê-la. "Demoramos meses negociando. Não tinha provas suficientes. Não tinha bons caminhos investigativos. Fora isso, qual era a expectativa? De algo, como diz a mídia, do fim do mundo. Está mais para o acordo do fim da picada. Essas expectativas não vão se revelar verdadeiras", disse em 2018 o procurador da Lava Jato Carlos Fernando dos Santos Lima (aqui).
Imprestável para o MP em Curitiba, imprestável para a cúpula da PGR, a delação de Palocci serviu a Moro, em aliança com a Polícia Federal, que agora chefia.