Xi Jinping assegurou o terceiro mandato consecutivo para governar a China, um período que se anuncia repleto de riscos em um cenário de inédita desaceleração econômica e de tensões crescentes com os Estados Unidos, alertam os analista.


O presidente chinês foi reeleito como secretário-geral do Partido Comunista, o cargo essencial do poder na China, o que abre o caminho para um novo mandato presidencial de cinco anos, em março de 2023.


Isto representa uma ruptura porque desde o fim do regime de Mao Tsé-Tung (1949-1976) a transição de poder na China estava institucionalizada: o presidente só poderia permanecer no poder por dois mandatos, com uma duração máxima de 10 anos.


Em 2018, Xi Jinping conseguiu modificar a Constituição e suprimiu as restrições. Aos 69 anos, Xi pode, em tese, presidir a República Popular da China até o fim de sua vida. "A reeleição de Xi Jinping é resultado de uma extrema concentração de seu poder pessoal", declarou à AFP um cientista político chinês que pediu anonimato. "E não há nenhuma dúvida de que Xi deseja permanecer no poder pelo resto da vida", completa. 


Esta decisão é "catastrófica para a China" e prejudica o Partido Comunista, opina o intelectual, porque antecipa, segundo o analista, "o declínio e a estagnação" da segunda maior economia mundial.


Freio econômico


No início do terceiro mandato do líder chinês, todos os olhares estão voltados para a economia do gigante asiático. Após décadas de crescimento expressivo, o país enfrenta atualmente uma grave desaceleração, acentuada por uma política inflexível de "covid zero", que gera muitos confinamentos.


Esta semana, em um gesto incomum, a China adiou sem apresentar explicações a divulgação dos resultados trimestrais de crescimento.


Embora nos últimos anos Xi Jinping tenha priorizado o consumo e a demanda interna, a manutenção das restrições sanitárias na China dificulta a estratégia. "Com a magnitude das restrições, é pouco provável que o consumo recupere o nível anterior à covid", opina o economista Dan Wang, do banco chinês Hang Seng.


Os setores do turismo, transportes e restaurantes foram muito afetados. A conjuntura também atingiu o outrora lucrativo setor imobiliário e várias empresas lutam atualmente para sobreviver. Este setor representa, junto com a construção, 25% do Produto Interno Bruto da China.


"Erro de cálculo"


As dificuldades são registradas no momento em que as relações entre a China e as potências ocidentais são cada vez mais tensas. As divergências são numerosas: controle autoritário em Hong Kong, repressão da minoria uigur em Xinjiang (noroeste), guerra na Ucrânia, rivalidade tecnológica com Estados Unidos, entre outros.


"O mundo passa por mudanças inéditas em um século", afirmou Xi Jinping na abertura do congresso do Partido Comunista. E a questão da "segurança nacional" apareceu como prioridade, destacam analistas.


O partido incluiu pela primeira vez em seus estatutos uma menção à "firme oposição" à independência de Taiwan. Pequim considera esta ilha de 23 milhões de habitantes como parte de seu território, embora Taiwan tenha um governo democrático próprio há mais de 70 anos.


As tensões a respeito da ilha aumentaram com Washington após a visita em agosto da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi. Pequim considerou a viagem uma afronta a sua soberania e organizou pouco depois os maiores exercícios militares de sua história ao redor de Taiwan.


A reeleição de Xi Jinping "pode constituir um elemento (...) que aumente o risco de um conflito armado", opina Dan Macklin, analista que mora em Xangai. Em caso de desaceleração econômica, o Partido Comunista poderia intensificar a pressão sobre Taiwan para reforçar sua legitimidade, afirma o analista à AFP.


Atualmente, o Partido Comunista baseia sua legitimidade no aumento do poder aquisitivo da população, mas a estratégia está em perigo. Mas a idade avançada de Xi e uma cúpula de poder formada por aliados pessoais podem "aumentar o risco de um erro de cálculo" nas decisões, conclui Macklin.