Teerã, Irã — O ultraconservador Ebrahim Raïssi venceu a eleição presidencial iraniana com 61,95% dos votos no primeiro turno, segundo os resultados definitivos anunciados neste sábado (19) pelo ministro do Interior, Abdolfazl Rahmani Fazli, um dia após a realização da eleição.
 
A participação foi de 48,8%, informou o ministro, a menor mobilização registrada para uma eleição presidencial desde a instauração da República Islâmica em 1979.
 
"Com a bênção de Deus, faremos o melhor para que a esperança de um futuro vivo no coração das pessoas agora cresça mais", disse Raisi, acrescentando que quer reforçar a confiança da cidadania no governo para uma "vida brilhante e agradável juntos".
 
O guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, comemorou neste sábado a eleição vencida por Raisi como uma vitória da nação contra a "propaganda do inimigo".
 
"O grande vencedor das eleições de ontem é a nação iraniana, porque se levantou outra vez contra a propaganda da imprensa mercenária do inimigo", disse.
 
Pouco antes da divulgação dos primeiros resultados oficiais - segundo os quais houve cerca de 14% de votos em branco ou nulos -, o atual presidente Hasan Rohani anunciou que havia um vencedor no primeiro turno, sem nomeá-lo.
 
"Parabenizo o povo pela sua escolha (...). Sabemos quem obteve os votos suficientes nessas eleições e quem foi eleito hoje pelo povo", declarou Rohani, em um discurso televisionado.
 
Em mensagens no Instagram, Twitter e transmitidas pela mídia iraniana, os três candidatos que enfrentaram Raisi reconheceram a vitória do ultraconservador.
 
A votação se prolongou consideravelmente até as 02h00 deste sábado (18h30 de sexta-feira no horário de Brasília) para permitir uma máxima participação em boas condições, levando em conta a pandemia de covid-19 que deixa oficialmente cerca de 83.000 mortes em uma população de 83 milhões de habitantes.
 
Mal-estar generalizado
 
Raisi enfrentou três candidatos: o general Mohsen Rezai, ex-comandante-chefe dos Guardiões da Revolução - exército ideológico da República Islâmica -, o ex-presidente do Banco Central, Abdolnaser Hemati, e o deputado Amirhosein Ghazizadeh-Hashemi.
 
Mohsen Rezai ficou em segundo lugar, com 11,8% dos votos; Abdolnaser Hemati, em terceiro (8,4%) e Amirhosein Ghazizadeh-Hashemi, com 3,5% dos votos, em quarto.
 
Chefe da autoridade judicial, Raisi, de 60 anos, era o favorito para esta eleição devido à falta de concorrência após a desqualificação de seus principais adversários.
 
A campanha foi branda, com um clima de mal-estar generalizado entre os cidadãos devido à crise vivenciada por este país rico em hidrocarbonetos, mas submetido a sanções dos Estados Unidos.
 
Raisi se apresentou como o líder do combate à corrupção e defensor das classes populares que perderam poder aquisitivo pela inflação. Foi o único dos quatro candidatos que fez uma verdadeira campanha eleitoral.
 
No exterior, os expatriados iranianos puderam votar nas embaixadas, principalmente nos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido. Segundo a mídia iraniana, em alguns desses centros de votação foram registrados incidentes.
 
Neste sábado, Teerã anunciou que convocou o embaixador do Reino Unido no Irã para protestar pelo o que o Executivo iraniano apresentou como uma agressão por parte da oposição no exílio contra uma de suas cidadãs quando ela foi votar em Birmingham (centro da Inglaterra).
 
Raisi começou a receber mensagens de felicitações do exterior neste sábado.
 
O presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou Raisi em um telegrama e afirmou esperar que a "cooperação bilateral construtiva" seja reforçada.
 
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, também parabenizou Raisi por carta, esperando que "a cooperação entre nossos dois países se fortaleça mais adiante" e afirmando que deseja visitar o Irã quando a pandemia passar.
 
Também recebeu felicitações do novo presidente eleito sírio, Bashar al Assad, que desejou que continue com "a abordagem da Revolução Islâmica na gestão do país (...) contra os planos e pressões" externos, e que as relações bilaterais "sejam reforçadas".
 
Reeleito em 2017 no primeiro turno justamente contra Raisi, que obteve então 38% dos votos, Rohani, um moderado que deixará a presidência em agosto, termina seu segundo mandato com um alto nível de impopularidade.
 
O presidente tem poderes limitados no Irã, onde o poder real está nas mãos do guia supremo.
 
Raisi está na lista de responsáveis iranianos sancionados por Washington por "cumplicidade em graves violações dos direitos humanos".