A imigração foi colocada pelo presidente no centro da campanha para as legislativas de 6 de novembro

Washington

O presidente Donald Trump pretende eliminar, por meio de uma ordem executiva, o direito de os nascidos nos Estados Unidos de pais estrangeiros adquirirem a cidadania norte-americana. Trump anunciou esta última medida em sua luta contra a imigração ilegal em uma entrevista ao site de notícias Axios, que antecipou alguns trechos e a publicará na íntegra nesta terça-feira. Também faz o anúncio apenas uma semana antes das eleições legislativas em que o republicano manobra para mobilizar suas bases e evitar o aumento da bancada dos democratas.

A Constituição dos Estados Unidos reconhece há 150 anos o direito à cidadania para os nascidos em solo nacional de pais estrangeiros. Acabar com esse direito é uma ideia que Trump já havia formulado ao longo de sua carreira política. Mas, como colidiria com o enunciado da 14ª emenda, seria difícil pôr a medida em prática unilateralmente, e tentar fazer isso desencadearia um intenso debate constitucional.

"Somos o único país do mundo onde uma pessoa vem e tem um bebê, e esse bebê é essencialmente um cidadão dos Estados Unidos durante 85 anos, com todos os benefícios. É ridículo. É ridículo. E tem que acabar ", disse o presidente. O anúncio vem acompanhado da habitual porção de deturpação da realidade: não é verdade que seja "o único país". A verdade é que mais de 30 países reconhecem o jus soli, de acordo com um relatório do Centro de Estudos de Imigração, um órgão, muitas vezes citado pelo entorno de Trump, que defende o controle das fronteiras. Entre os países que reconhecem esse direito estão o Brasil, o Canadá e o México. Nenhum dos países da UE, por outro lado, contempla este direito automaticamente.

Trump explica, nos trechos antecipados da entrevista, que seus assessores indicaram que ele poderia fazer isso por meio de uma ordem executiva. O argumento é que a 14ª emenda, segundo eles, foi pensada apenas para cidadãos e residentes permanentes, não para imigrantes que estão no país ilegalmente.

O anúncio acontece um dia depois de o presidente ter informado que enviará mais de 5.000 soldados para a fronteira sul do país para impedir a entrada da caravana de solicitantes de asilo que atravessa o México na direção da fronteira com os Estados Unidos. O presidente Trump, que chegou a se referir às eleições na próxima terça-feira como "as eleições da caravana", levou a questão da imigração ao centro da campanha, na esperança de mobilizar suas bases para impedir nas urnas que os republicanos percam o controle do Congresso