CESSAR-FOGO

 

O movimento islamista palestino Hamas libertou, neste sábado (15), três reféns israelenses em troca de 369 presos palestinos, como parte do sexto intercâmbio com Israel sob o cessar-fogo vigente na Faixa de Gaza, que esteve prestes a ser rompido esta semana.

Seguindo o programa previsto, o Hamas entregou em Khan Yunis, no sul de Gaza, o israelense-argentino Yair Horn, de 46 anos; Sasha Trupanov, um russo-israelense de 29 anos; e o americano-israelense Sagui Dekel-Chen, de 36.

Como ocorreu em ocasiões anteriores, os milicianos do Hamas, encapuzados e armados, colocaram os reféns em um estrado, uma cena que vem sendo muito criticada em Israel.

Cercados por uma paisagem em ruínas, consequência da campanha militar israelense, eles foram obrigados a tomar a palavra rapidamente e falaram em hebraico com microfones nas mãos, antes de serem entregues à Cruz Vermelha.Após 498 dias de cativeiro, Dekel-Chen reencontrou a esposa e conheceu a filha mais nova, que nasceu dois meses após ele ter sido sequestrado.

"Recuperei o fôlego novamente", disse a esposa Avital. Dekel-Chen não sabia nem mesmo o nome da filha, Shahar Mazal, que pode ser traduzido como "bem-aventurado amanhecer".

 Em troca, Israel libertou 369 presos palestinos.

Horn, Trupanov e Dekel-Chen foram sequestrados no kibutz Nir Oz durante o ataque surpresa do Hamas, em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.

A ação deixou 1.211 mortos, segundo um balanço da AFP com base em dados israelenses.

Os comandos islamistas também sequestraram 251 pessoas, das quais 70 seguem em Gaza, embora segundo o exército israelense 35 estariam mortas.

A ofensiva israelense em represália em Gaza devastou o território e deixou pelo menos 48.264 mortos, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, que a ONU considera confiáveis.

"A maior prisão do mundo" 

A televisão israelense divulgou imagens dos presos palestinos antes da libertação, nas quais os detentos aparecem vestindo camisetas com o logotipo do serviço penitenciário e a mensagem em árabe "Não esquecemos nem perdoamos".

O Hamas condenou esses atos, classificando-os como um gesto "racista" e afirmando que representam "uma violação flagrante do direito internacional humanitário".

Ao chegarem a Gaza, os prisioneiros libertados queimaram as camisetas em uma fogueira.

Ibrahim, que retornou a Gaza após ser libertado de uma prisão israelense, afirmou que deixou para trás "a prisão e o sofrimento", mas ressaltou que o território palestino, submetido a um severo cerco por Israel, é "a maior prisão do mundo".

 A Cruz Vermelha pediu a ambos os lados que façam mais para respeitar a "dignidade" dos libertados.

 Entre os palestinos libertados, 24 foram expulsos para o Egito. Os deportados, com a cabeça raspada, sorriram e acenaram de dentro dos veículos que cruzaram a fronteira.

Quatro dos prisioneiros libertados por Israel foram hospitalizados, informou a Cruz Vermelha.

Netanyahu agradece "apoio total" de Trump

Meses de difíceis negociações com a mediação de Catar, Egito e Estados Unidos resultaram em um acordo de trégua, que entrou em vigor em 19 de janeiro e pôs fim a 15 meses de combates devastadores em Gaza.

No entanto, o cessar-fogo esteve por um fio esta semana, em meio a acusações trocadas de violações do acordo.

O Hamas afirmou, neste sábado, que os Estados Unidos devem "obrigar" Israel a respeitar as condições do pacto para garantir a libertação dos reféns.

O primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, agradeceu ao presidente americano, Donald Trump, pelo "apoio total" às decisões de Israel sobre o futuro de Gaza.

O secretário de Estado americano, Marco Rubio, chegou neste sábado à noite a Israel, onde se reunirá com as autoridades israelenses antes de continuar a gira pelo Oriente Médio.

No âmbito militar, o Exército israelense afirmou que está "preparando planos de ataque" em paralelo ao "entusiasmo" que acompanha cada libertação de reféns.

Até agora, o cessar-fogo permitiu libertar 24 reféns, inclusive cinco tailandeses. Do lado palestino, 1.134 presos foram libertados.

Na primeira etapa do acordo, com duração inicial de 42 dias, deveriam voltar a Israel 33 dos sequestrados em troca da soltura de 1.900 presos palestinos.

A continuação do acordo, no entanto, é incerto porque as negociações sobre a implementação da segunda etapa ainda não começaram.

Os países mediadores esperam iniciá-las "na próxima semana em Doha", disse uma fonte próxima das negociações. O Hamas informou que confia em implantá-las "no começo da semana".

Esta segunda etapa deve permitir o retorno de todos os reféns e o fim definitivo da guerra. A terceira e última será dedicada à reconstrução da Faixa, para a qual a ONU estima que serão necessários mais de 53 bilhões de dólares (R$ 303,5 bilhões, na cotação atual).

O futuro deste território é motivo de controvérsia depois que o presidente americano, Donald Trump, lançou a ideia de assumir o controle da Faixa, deslocar sua população para o Egito e a Jordânia, e transformá-lo em um destino turístico como a Riviera francesa.