No fim do ano passado, quando a crise política alemã recrudesceu e a coalizão do governo Olaf Scholz ruiu, vários episódios de vandalismo aparentemente banais começaram a pipocar no noticiário, chamando a atenção das autoridades. Escapamentos de carros eram preenchidos com espuma isolante usada em construção. Os veículos também recebiam adesivos com slogans como "seja mais verde" e imagens de Robert Habeck, líder dos Verdes e candidato a primeiro-ministro.
A ação foi logo atribuída a ativistas climáticos radicais, e a suspeita chegou a habitar, por exemplo, as manchetes do Bild, o tabloide mais popular da Alemanha. Ao lado da economia estagnada e da crise imigratória, a retórica antiambiental ocupa espaço de destaque no debate eleitoral.
Habeck, atual ministro da Economia, é responsabilizado por conservadores e pela extrema direita por patrocinar legislações que encarecem o custo de vida alemão. Da renúncia da energia nuclear, bandeira histórica dos Verdes, à imposição de carros e aquecimento elétricos, atos impopulares de sua gestão são muito explorados pelos adversários.
Na entrevista que deu a Elon Musk há algumas semanas, Alice Weidel, candidata da AfD ao cargo de premiê, chegou a declarar que iria derrubar "todas as torres eólicas do país" caso fosse eleita. No discurso da extrema direita, o alto custo da energia no país é provocado pela insistência dos Verdes na transição energética.
A estratégia repete a cartilha bem-sucedida do populismo em outros países europeus e nos EUA, onde Donald Trump prometeu e está desmontando a política ambiental do antecessor, Joe Biden. A diferença, na Alemanha, é o peso histórico e político do Partido Verde, terceira força do campo democrático no país.
Na investigação revelada pela revista, um sérvio, um bósnio e um alemão confessaram estar recebendo 100 euros por carro vandalizado. O dinheiro viria de um homem de origem russa estabelecido na Sérvia. Segundo a inteligência alemã, sem recursos devido à guerra na Ucrânia, Moscou estaria apelando para criminosos comuns para fazer os chamados ataques híbridos -em geral, atos de sabotagem mais sofisticados, como explosões e incêndios provocados, feitos para desestabilizar adversários e países inimigos.
Em agosto, um pacote provocou um princípio de incêndio em um centro de distribuição da DHL em Leipzig. À época, a polícia federal alemã fez um alerta sobre "dispositivos incendiários não convencionais" que estariam sendo enviados de forma anônima por serviços de correio. Episódios semelhantes foram registrados na Inglaterra e na Polônia.
Também no ano passado, Vladimir Putin foi acusado de interferir em eleições nacionais na Moldova, na Geórgia e na Romênia, tendo como alvo sempre os candidatos e partidos pró-Europa. O pleito romeno foi cancelado pela corte superior do país, depois que os serviços de segurança detectaram uma campanha irregular e maciça no TikTok que teria favorecido Calin Georgescu, azarão defensor de uma aproximação com a Rússia.
Moscou nega as alegações de interferência externa.