AMÉRICA DO SUL

O governo do presidente argentino Javier Milei completou cem dias na segunda-feira,  marcado por manifestações em todo o país para protestar contra o plano de austeridade da nova administração. Sob o lema "O limite é a fome", milhares protestaram pela retomada da entrega de alimentos as cozinhas e restaurantes comunitários, com apelos a uma “emergência alimentar”. 

Em Buenos Aires, houve confrontos com a polícia, que deixou pessoas feridas na sequência dos protestos. As forças de segurança responderam à multidão com canhões de água e gás lacrimogêneo. Os manifestantes são contra a política de choque orçamental imposta por Milei, que fez cortes extremos nos serviços sociais e subsídios das tarifas dos serviços públicos. Os cortes nos gastos públicos alcançaram um superávit financeiro, mas custaram demissões, o aumento dos preços dos alimentos e medicamentos.

A Argentina atingiu níveis inéditos de pobreza e o custo social das medidas do líder, que se define como “anarcocapitalista”, como a desvalorização do peso (54%), a liberalização dos preços e o fim dos subsídios aos transportes e energia causaram um forte impacto no poder de compra dos argentinos. Em apenas dois meses, o poder de compra dos argentinos caiu 18%, a pior queda dos últimos 21 anos, impactando negativamente o consumo e a atividade econômica do país.
 
E apesar do orçamento mensal positivo, em janeiro e fevereiro, e de a inflação estar apresentando uma queda, respectivamente 25% em dezembro, 20% em janeiro e 13%, a pobreza continua a crescer. "As pessoas estão conscientes de que estamos atravessando um período muito difícil, mas começam a ver a saída, a luz ao fundo do túnel", afirmou Milei. 

As associações e movimentos sociais denunciaram, numa declaração conjunta, a falta de fornecimento de alimentos durante meses a milhares de cozinhas comunitárias de sopa em bairros da classe trabalhadora em todo o país.

No entanto o novo Governo nega ter interrompido o fornecimento e garante que está  realizando uma auditoria rigorosa à assistência social e desenvolvendo um sistema transparente, sem a necessidade de recorrer a intermediários que o Governo descreve como “gestores da pobreza”. Milei chegou a acusar recentemente numa entrevista algumas das cantinas populares de serem fictícias. "Vai uma sopa dos pobres e se percebe que ela não existe. Ou então, em algumas delas, dizem que vêm 500 pessoas regularmente, quando nunca são mais de 50", disse o presidente.

As declarações causaram a indignação dos movimentos sociais, que afirmam que milhares destas cantinas nunca receberam a visita dos “auditores” do Governo.