IGREJA CATÓLICA


O papa Francisco "criará" no fim de novembro 13 novos cardeais, incluindo nove eleitores, o que dá continuidade a seu trabalho de transformação do conclave que escolherá o próximo pontífice.

Fiel a sua linha a favor de uma igreja mais social, o papa latino-americano designou como cardeais "pastores", que compartilham sua visão de uma igreja comprometida com os pobres e desfavorecidos de todo o mundo.


O anúncio foi feito pelo próprio Francisco em 25 de outubro, ao final do angelus dominical, e desconcertou os católicos porque o mundo está concentrado na emergência de saúde provocada pelo coronavírus.


Por este motivo ainda não foram divulgados os detalhes sobre a cerimônia de designação dos novos cardeais, prevista para 28 de novembro.


O Vaticano respeita as restrições determinadas na Itália devido à pandemia e muitos novos cardeais procedem de vários continentes, o que significa que podem não estar presentes.


Dos nove cardeais com menos de 80 anos e, portanto, com direito a voto no conclave para a eleição do futuro chefe da Igreja figura o primeiro afro-americano da história, o arcebispo de Washington, Wilton Gregory, natural de South Side de Chicago, conhecida por suas opiniões progressistas a favor dos homossexuais.


Personalidades fora do comum


"Escolheu personalidades fora do comum", afirma o vaticanista Iacopo Scaramuzzi.


Receberão o título cardinalício o arcebispo de Kigali, em Ruanda, Antoine Kambnada, representante de um dos países mais afetados pelas guerras e a fome, assim como o monsenhor Cornelius Sim, o primeiro cardeal da história da pequena nação de Brunei.


"Ele prefere pastores e não deu o título de cardeal a arcebispos italianos de cidades importantes como era a tradição", destaca Scaramuzzi.


"Surpreende que tenha excluído personalidades ilustres da igreja italiana, como o arcebispo Mario Delpini, da diocese de Milão, a mais importante", escreveu Francesco Grana, vaticanista do jornal 'Il Fatto Quotidiano'.


Opapa "se sente cercado pela Cúria romana", completou Grana, em referência ao recente escândalo por desvio de fundos que envolveu a influente Secretaria de Estado, o equivalente ao ministério do Interior.


"O pontífice está equilibrando o colégio cardinalício com novos critérios, independentemente dos grupos de poder internos, e segundo a população católica", explica Scaramuzzi.


Entre as nomeações mais emblemáticos estão os nomes de dois simples religiosos italianos: o romano Augusto Paolo Lojudice, "Don Paolo", atual arcebispo de Siena, conhecido por sua defesa dos ciganos da capital, e o sacerdote franciscano Mauro Gambetti, guardião do Santo Convento de Assis, a cidade de São Francisco, o santo dos pobres.


"Reforça assim sua relação com Assis, a cidade símbolo da paz e onde assinou em outubro sua terceira encíclica, 'Fratelli tutti'. Um texto chave de seu pontificado", destaca Grana.


O papa latino-americano, que costuma dar muita atenção ao continente, optou desta vez por premiar o religioso espanhol, e residente há décadas no Chile, Celestino Aós, arcebispo de Santiago, responsável pela delicada tarefa de renovar a igreja chilena após a renúncia de todo o episcopado pelos escândalos e acobertamento dos abusos sexuais cometidos por padres.


Outro gesto emblemático para a América Latina é a concessão do título cardinalício ao bispo emérito de San Cristóbal de las Casas, o mexicano Felipe Arizmedi Esquivel.


Ele não poderá participar no conclave por ter mais de 80 anos, mas Arizmendi representa a igreja empenhada com as comunidades indígenas e emigrantes centro-americanos.


O novo cardeal mexicano é considerado um progressista na área social e um conservador no campo moral.


Após o consistório de novembro, o Colégio de Cardeais terá 232 religiosos, incluindo 128 eleitores em um futuro conclave e 104 com mais de 80 anos.


O papa argentino "criou", de acordo com o termo religioso, 101 cardeais, 79 deles com idade para votar quando foram designados.