GUERRA

A Organização Mundial de Saúde (OMS) denunciou Israel de bloquear a entrada de diversas organizações médicas na Faixa de Gaza. “Pela primeira vez agências de saúde inteiras foram impedidas de entrar no enclave durante a guerra”, relatou.
 
A agência de saúde das Nações Unidas comunicou que foi notificada por oito organizações da Célula de Coordenação EMT, que coordena as equipes médicas internacionais de emergência e que mais de 50 especialistas foram atingidos pelos bloqueios.
 
“Duas organizações tiveram o acesso negado entre agosto e setembro de 2024, afetando 25 equipes médicas altamente especializadas, enquanto em outubro, seis organizações parceiras tiveram a entrada negada, incluindo 28 equipas médicas especializadas”, diz a OMS.
 
Segundo a agência de saúde da ONU, os especialistas deveriam apoiar tratamentos médicos, incluindo cirurgias, hemodiálise e apoio à saúde mental dos profissionais de saúde, em instalações como o Complexo Médico Nasser e o Hospital Europeu, no sul de Gaza, além do Hospital Al-Aqsa, localizado no centro.  
 
“Com o impacto destas recusas no sistema de saúde de Gaza, na semana passada, já se registrou uma redução de um terço nos cuidados de trauma e um declínio de mais de 25% nas cirurgias apoiadas por paramédicos em Gaza, colocando uma pressão adicional sobre o pessoal hospitalar já sobrecarregado. Com apenas 17 dos 36 hospitais de Gaza e 43% das instalações de cuidados primários funcionando, as necessidades de cuidados de saúde excedem largamente a capacidade do sistema, pelo que as equipes de emergência médica são essenciais para tentar manter o sistema operacional”, afirma a OMS.

O diretor do hospital Kamal Adwan, Dr. Hussam Abu Safiya, explicou que essa é uma das poucas unidades de saúde que ainda funciona no norte de Gaza, mas que o hospital está sobrecarregado com a quantidade de pacientes que chegam, com o pessoal fatigado e com falta de material médico e alimentos. “Trata-se de uma situação catastrófica em todos os sentidos do termo, tendo em conta a falta de capacidades, de material, de ferramentas e de métodos médicos”, declarou.  
 
Além disso, Safiya disse que o número de pessoas que precisam ser tratadas apos o recente ataque aéreo israelense contra uma escola que servia de abrigo aos deslocados no campo de refugiados de Jabalya, que, segundo as autoridades de saúde, matou cerca de 30 pessoas e causou dezenas de feridos, colocou uma pressão adicional sobre a unidade de cuidados intensivos no último dia. “Desde ontem até este momento, ninguém dormiu. Há um grande número de pessoas que chegaram devido ao massacre. O hospital também acolhe muitos bebês nascidos prematuramente por causa do estresse e à pressão psicológica sob as mulheres grávidas provocados pelos fortes bombardeios. A maior parte destes bebês nasce com trinta e três e trinta e duas semanas, com pesos muito baixos”, lamentou o diretor.

O Dr. Hussam Abu Safiya apelou a uma intervenção realmente rápida das instituições internacionais para defender a criação de uma passagem segura para entrar ajuda médica e alimentar.
 
Na semana passada, um inquérito das Nações Unidas acusou Tel Aviv de praticar uma política de destruição do sistema de saúde em Gaza no conflito, no qual os ataques ordenados a estes locais constituem crimes de guerra e violação dos direitos humanos.
Também os ataques israelenses contra escolas em Gaza, muitas delas utilizadas como abrigos para pessoas deslocadas, atingiram uma frequência inimaginável. Só nas últimas duas semanas, se registraram cerca de 30 ataques deste tipo, de acordo com o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). 
 
“O norte da Faixa de Gaza está sendo submetido a um massacre sistemático, a um genocídio e a uma deslocação aos olhos do mundo, o que constitui uma mancha de vergonha para os organismos internacionais que são incapazes de salvaguardar a humanidade”, diz um comunicado do Hamas divulgado nesta sexta-feira, que também confirmou a morte já anunciada pelas forças israelenses do comandante Muhammed Hamdan, no mesmo ataque em Rafah que eliminou o líder do grupo, Yahya Sinwar.
 
Mas, um dos principais dirigentes políticos e vice-chefe do Hamas em Gaza, Khalil al-Hayya, declarou que a morte de Sinwar só nos vai fortalecê-los. “Esses prisioneiros não voltarão para vocês antes do fim da agressão a Gaza e da retirada de Gaza. A morte dos prisioneiros vão se transformar numa maldição para os ocupantes”, acrescentou.
 
Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a morte de Sinwar deve conduzir a um cessar-fogo imediato, à libertação incondicional de todos os reféns e a um acesso humanitário sem restrições em Gaza.
 
Entretanto, analistas internacionais especulam que Sinwar será substituído pelo seu irmão Mohammad, considerado tão ou mais sanguinário do que o próprio.
 
Em Israel, depois do anúncio oficial da morte do líder do Hamas, muitos israelenses se concentraram em frente ao Ministério da Defesa e pedem agora que o governo de Tel Aviv pare a guerra em Gaza. “O presidente israelense Isaac Herzog e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tiveram uma reunião de segurança, nesta sexta-feira, onde discutiram a janela de oportunidade significativa que a morte de Sinwar representa como o regresso dos reféns e a eliminação do Hamas”, informou o gabinete presidencial. 
 
Por sua vez, os Estados Unidos asseguraram hoje que não foi retomada as conversações de um cessar-fogo no Oriente Médio e que não há condições para isto neste momento. “Não estamos atualmente numa posição que permita negociações sérias de cessar-fogo, mas morte de Sinwar cria um ponto de viragem que poderá acelerar as negociações para o fim da guerra”, reconheceu o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.