GUERRA

O mais recente relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado na segunda-feira (18) afirma que a fome é “iminente” no norte de Gaza, sendo previsto que se estabeleça totalmente entre agora e maio. “Este é o maior número de pessoas que enfrentam uma fome catastrófica alguma vez já registrada em qualquer lugar. Este é um desastre inteiramente causado pelo homem e o relatório deixa claro que pode ser interrompido. O relatório é a prova A da necessidade de um cessar-fogo humanitário imediato”, declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
 
“Em toda a Faixa de Gaza o número de pessoas que enfrentam a fome catastrófica aumentou para 1,1 milhões de pessoas, que corresponde a cerca de metade da população do território palestino”, diz o documento da ONU.  “O único meio de inverter a tendência é abrir mais passagens terrestres e inundar o enclave com alimentos. Estamos numa corrida contra o tempo”, disse Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA).
 
O porta-voz do gabinete dos direitos humanos da ONU, Jeremy Laurence, afirmou que o governo israelense pode estar cometendo um crime de guerra ao impedir a entrada de ajuda suficiente em Gaza.  "A extensão das restrições contínuas de Israel à entrada de ajuda em Gaza, juntamente com a forma como continua a conduzir as hostilidades, pode equivaler à utilização da fome como método de guerra, o que é um crime de guerra", apontou Laurence.
 
Já na semana passada, um relatório da confederação humanitária Oxfam International Oxfam concluiu que Israel estava a usando a burocracia para impedir sistemática e deliberadamente que a ajuda chegasse aos palestinos em Gaza, mesmo quando as condições de fome se propagavam.
 
Israel recusa entrada de chefe da UNRWA em Gaza 
 
As autoridades israelitas negaram autorização ao chefe da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, de entrar em Gaza. Em coletiva de imprensa no Cairo, Lazzarini, disse que pretendia ir à cidade de Rafah, no sul de Gaza, que fica junto à fronteira com o Egito. “Mas fui informado que a minha entrada em Rafah foi recusada”, revelou.

Por outro lado, a informação foi rebatida por um porta-voz da chancelaria israelita, que declarou ao jornal The Times of Israel que não proibiu a passagem de Lazzarini.
 
Após a recusa de Israel em permitir sua entrada em Gaza, Lazzarini explicou que a sua viagem tinha como objetivo coordenar e melhorar a resposta humanitária no território, que enfrenta níveis sem precedentes de fome. "No dia em que foi divulgado novos dados sobre a fome em Gaza, as autoridades israelitas negam a minha entrada em Gaza. Dois milhões de pessoas, toda a população de Gaza enfrentam níveis críticos de insegurança alimentar ou pior. Metade da população esgotou completamente os fornecimentos de alimentos e as capacidades de sobrevivência. Eles estão lutando contra a fome e a inanição catastróficas. Este é o maior número de pessoas alguma vez registrado como vítimas de fome catastrófica e o dobro do número de apenas três meses atrás. Anteriormente, a Unicef alertou que o número de crianças menores de dois anos que sofrem de desnutrição aguda duplicou num mês. As crianças estão agora morrendo de desidratação e fome", relatou o chefe da UNRWA. 
 
Pressão da União Europeia

Já o Chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, também acusou que as Forças de Defesa de Israel (FDI) estão propositadamente matando de fome os habitantes de Gaza e a usa como arma de guerra. “Gaza era, antes da guerra, a maior prisão a céu aberto. Atualmente é o maior cemitério a céu aberto, um cemitério para milhares de pessoas e também um cemitério para muitos dos mais importantes princípios do direito humanitário”, denunciou o alto representante da UE para a política Externa, que ainda adiantou a discussão sobre um debate de orientação política e a eventual suspensão do acordo de cooperação da UE com Israel para pressioná-la a aceitar um cessar-fogo.
 
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores israelita, Israel Katz, assegurou que Israel permite a entrada de ajuda em Gaza, rejeitando a afirmação de Borrell. “Israel permite ampla ajuda humanitária a Gaza por terra, ar e mar para qualquer pessoa disposta a ajudar. Apesar do Hamas interromper violentamente os comboios de ajuda e a colaboração da UNRWA com eles, nós persistimos”, escreveu Katz na rede social X, acrescentando que Borrell deveria parar de atacar Israel e reconhecer o seu direito à autodefesa contra os crimes do Hamas.