Flybondi vende 10.000 assentos em apenas 24 horas, mas não sabe se poderá usar aeroporto alternativo
Nas primeiras 24 horas, 10.000 bilhetes de avião vendidos. A estreia da primeira companhia aérea de baixo custo da Argentina, a Flybondi, demonstra a grande demanda que existe por voos baratos no país. Os argentinos estão acostumados, como os brasileiros, a passar muitas horas dentro de um ônibus para movimentar-se por um país que tem uma extensão de 2,78 milhões de quilômetros quadrados, mas a Flybondi e as companhias aéreas que se preparam para seguir seus passos nos próximos meses estão dispostas a oferecer preços mais baixos que os do transporte terrestre.
A empresa começará com 16 rotas locais. As passagens aéreas entre Buenos Aires (El Palomar) e Córdoba, a segunda maior cidade da Argentina, começaram neste mês em 697 pesos (cerca de 120 reais), quase 30% mais baratas que as das demais companhias aéreas e empresas de ônibus, que beiram os 900 pesos (155 reais).
“Nosso objetivo é oferecer passagens por 380 pesos (65 reais)”, diz a EL PAÍS Julián Cook, o CEO da Flybondi, Não podem fazer isso porque na Argentina existe uma tarifa mínima que todas as companhias aéreas têm de respeitar, imposta anos atrás para proteger a estatal Aerolíneas Argentinas. O governo de Mauricio Macri mantém esse preço mínimo, inexistente em outros países, mas deixou de atualizá-lo, e seu valor diminui ao ritmo da veloz inflação, que em 2017 foi de quase 25%. “Nós argumentamos que é preciso removê-la (a tarifa mínima)”, acentua Cook, que antecipa que sua empresa apresentará um pedido com preços especiais preparado com um estudo legal. “O que estamos fazendo hoje é dar de presente a taxa do aeroporto, isso está dentro da lei”, explica, ao falar das ofertas com as quais iniciaram as vendas.
Na quinta-feira, o mesmo dia em que a empresa começou a comercialização, a Justiça argentina ordenou a suspensão das operações no aeroporto de El Palomar, na periferia norte de Buenos Aires, até avaliar um estudo de impacto ambiental. A companhia aérea, que fará seu primeiro voo a partir desse aeroporto alternativo em 9 de fevereiro, está convencida de que o estudo será aprovado a tempo e, por isso, não interrompeu as vendas. A questão judicial tampouco foi suficiente para deter a febre argentina pela chegada das low cost.
Se a Flybondi não conseguir a autorização para operar em El Palomar terá de usar o Aeroparque, em Buenos Aires, com um custo até 50% superior. Se obtiver luz verde, um segundo obstáculo a aguarda. Um grupo de moradores denunciou que as obras previstas no aeroporto para fazer hangares e ampliar sua capacidade violam a memória histórica.
Nesse aeroporto, de uso militar, funcionou um centro clandestino de detenção durante a ditadura (1976-1983) e o espaço é agora um Lugar de Memória, como prevê a legislação argentina. A juíza Martina Forns ordenou a suspensão provisória das obras até o pronunciamento da Secretaria de Direitos Humanos e dos juízes federais aos quais expediu ofícios.
Os entraves não desanimam as low cost, convencidas de que ganharão a guerra no longo prazo. A Argentina é o oitavo maior país do mundo em superfície e o único desse grupo que não tem companhias aéreas de baixo custo. O número atual de passageiros em voos domésticos, 11 milhões, é inferior ao de países vizinhos com menor população e território: 13 milhões no Peru, 15 no Chile e 25 na Colômbia, segundo Hugo Díaz, gerente comercial da Avianca Argentina. Por isso, os novos investidores acreditam que há margem para duplicar o mercado argentino em dois ou três anos.