SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar do aumento das detenções e das ameaças da junta militar que controla o país contra a população civil para tentar impedir os protestos na rua, a mobilização contra o golpe de Estado em Mianmar continua.
Nesta sexta-feira (12), que marca o sétimo dia consecutivo de protestos, manifestantes voltaram às ruas em todo o país e três pessoas ficaram feridas após entraram em confronto com a polícia.
 
O escritório de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) disse que mais de 350 pessoas, incluindo funcionários, ativistas e monges, foram presos desde o golpe em 1º de fevereiro -e que alguns ainda enfrentam acusações criminais.

Na cidade de Mawlamyine, no sudeste do país, manifestantes atiraram pedras na polícia, que revidou com tiros de bala de borracha para dispersar a multidão de dezenas de milhares, contou Kyaw Myint, funcionário da Cruz Vermelha de Mianmar, que testemunhou o confronto.


Três pessoas foram feridas com os tiros, segundo Myint. "Uma mulher foi acertada na região do ventre, um homem na bochecha e outro no braço", disse à agência de notícias Reuters.
Várias pessoas em Mawlamyine foram presas, mas em seguida libertadas após uma multidão protestar em frente a delegacia, exigindo a liberdade do grupo.

Na maior cidade do país, Rangoon, médicos em aventais brancos marcharam pelo principal templo budista de Mianmar, o Shwedagon. Houve ainda um segundo protesto em outra região da cidade, com pessoas carregando com cartazes humorísticos denunciando os militares.

Outras manifestações aconteceram em Naypyitaw, a cidade costeira de Dawei, e em Myitkyina, a capital do estado de Kachin.

Os protestos desta sexta foram os maiores até agora, e ocorreram dois dias após os EUA imporem sanções aos generais e seus familiares -o presidente Joe Biden anunciou o bloqueio de bens do governo do país nos Estados Unidos, que somam US$ 1 bilhão (R$ 5,3 bi).

Os militares deram um golpe de Estado em Mianmar no dia 1º de fevereiro, sob liderança do general Min Aung Hlaing. Ele e outros comandantes, no entanto, já estão sob sanções desde 2019, por ligação com o massacre da minoria muçulmana rohingya.

A junta que agora comanda o país depois de prender toda a cúpula do governo civil -incluindo a conselheira de Estado Aung San Suu Kyi e o presidente Win Myint- proibiu ajuntamentos de mais de cinco pessoas em várias regiões e estabeleceu um toque de recolher das 20h às 4h em Rangoon e Mandalay, as duas maiores cidades do país.


Eles alegam fraude nas eleições de novembro, em que o partido de Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia (LND), venceu por ampla maioria Ao assumirem o poder, os militares declararam um estado de emergência que deve durar um ano. O próprio Hlaing, entretanto, afirmou que pode continuar no poder após esse período para coordenar a realização de um novo pleito.

Para "agradar o público", também nesta sexta os militares ordenaram a libertação de mais de 23 mil prisioneiros do país –a medida vem na esteira de detenções, nos últimos dias, de pessoas próximas de Suu Kyi e altos funcionários eleitorais.
E

m um comunicado publicado no jornal estatal Global New Light of Myanmar, a junta disse que a decisão de conceder anistia era consistente com "o estabelecimento de um novo estado democrático com paz, desenvolvimento e disciplina".

No total, o governo suspendeu a pena de 23.314 pessoas detidas em prisões e centros de detenções, mas sem dar grandes detalhes sobre os liberados –disse apenas que a lista incluía 55 presos estrangeiros.

Desde o golpe, a opositora Suu Kyi não foi vista em público. De acordo com membros da LND, ela está em prisão domiciliar, mas se encontra "bem de saúde".

A ativista e vencedora do Nobel da Paz de 1991 continua extremamente popular, apesar dos danos à sua reputação internacional devido à situação difícil da minoria rohingya.

Em uma sessão especial do Conselho de Direitos Humanos em Genebra nesta sexta, o investigador de direitos humanos do órgão em Mianmar disse que havia "relatórios crescentes e evidências fotográficas" de que as forças de segurança usaram munição real contra os manifestantes.

Myint Thu, embaixador de Mianmar na ONU, afirmou que o governo gostaria de "uma melhor compreensão da situação prevalecente no país" e uma maior cooperação da comunidade internacional.

"Não queremos atrasar a transição democrática nascente no país", ele disse, embora nenhuma data ainda tenha sido definida para as eleições.

Cerca de 300 parlamentares eleitos em Mianmar pediram às Nações Unidas nesta sexta que investiguem "graves violações dos direitos humanos" cometidas pelos militares, incluindo prisões de líderes civis e disparos contra manifestantes.

Em uma carta lida ao Conselho de Direitos Humanos em Genebra pelo embaixador britânico Julian Braithwaite, eles disseram que a junta também "colocou restrições à liberdade de expressão das pessoas ao preparar um projeto de lei de telecomunicações destinado a controlar o acesso à Internet e serviços móveis.

O Facebook anunciou nesta sexta que reduziria a visibilidade do conteúdo publicado pelos militares do país, sob a justificativa de que eles "continuaram a espalhar desinformação" –o governo chegou a bloquear a rede social em seu território para tentar conter a articulação dos opositores .