Mais de 2 milhões de fiéis iniciaram neste domingo (19), sob um calor sufocante, a grande peregrinação a Meca, o lugar mais sagrado do Islã na Arábia Saudita. Os rituais se prolongarão até sexta-feira (24) em meio a temperaturas de mais de 40ºC.
A concentração de multidões representa um desafio logístico para as autoridades.
O "hach" (peregrinação) é um dos cinco pilares do Islã de cumprimento obrigatório para todos os muçulmanos ao menos uma vez na vida, sempre que disponham de meios para fazê-lo.
"Vir aqui é o sonho de todo o muçulmano", é "a última viagem", declarou à AFP Soliman Ben Mohri, um comerciante de 53 anos que mora na França.
Os peregrinos chegam a Meca, na parte oeste do reino, saídos de todo mundo, especialmente de Egito, Índia, Paquistão, Bangladesh e Sudão, detalham as autoridades.
A peregrinação termina com o Eid al-Adha, também conhecido como Festa do Sacrifício, que dura três dias e é seguido pelo ritual da "lapidação de Satanás".
Com o passar dos anos, o hajj foi adquirindo um aspecto cada vez mais tecnológico, com diversos aplicativos de celular para ajudar os fiéis a compreender as instruções, se orientar, ou obter atendimento urgente do Crescente Vermelho saudita.
A peregrinação de 2015 ficou de luto por uma gigantesca explosão, na qual morreram 2.300 pessoas, entre elas centenas de iranianos.
A de 2018 ocorre em um momento no qual a Arábia Saudita, um país ultraconservador, encontra-se em plena transformação, com uma série de reformas que, por exemplo, permitiram que as mulheres dirijam. No entanto, ao mesmo tempo, as autoridades calam duramente as vozes dissidentes.
"Hotéis cápsula"
Cabines minúsculas com ar-condicionado, colchão e lençóis, que lembram os "hotéis cápsula" japoneses, permitirão que os fiéis façam a sesta e fiquem como novos durante a peregrinação a Meca.
Para facilitar a peregrinação dos que não podem pagar por um quarto de hotel, uma associação de caridade decidiu, em colaboração com as autoridades sauditas, instalar este ano cerca de 20 "cápsulas de sesta" na cidade de Mina (oeste), limítrofe com Meca.
Esses peculiares "quartos" serão gratuitos e representam uma "solução econômica" para os peregrinos, assegura à AFP Mansur al-Amer, diretor da Haji and Mutamer Gift Charitable Association.
As cabines de 2,64 m2 e 1,2 metro de altura, foram fabricadas em fibra de vidro para proteger do sol e podem ser colocadas umas sobre as outras para economizar espaço.
O usuário pode regular a temperatura do interior, onde dispõe de um espelho e uma tomada para carregar o celular.
Os peregrinos poderão descansar nelas durante três horas e os serviços de limpeza aproveitarão o horário de oração (cinco vezes ao dia) para trocar os lençóis e esterilizar as cabines, explica Amer.
Economia colaborativa
"Esta ideia já está estendida em vários países, como o Japão. Achamos que se adapta perfeitamente aos lugares muito concorridos como a Meca", comenta Amer.
"As cápsulas fazem parte da economia colaborativa, como as bicicletas alugadas por uma hora", argumenta.
Doze cabines como essas foram testadas com sucesso perto de Meca durante o Ramadã, o mês do jejum dos muçulmanos, com 60 pessoas por dia, afirma Amer.
Como todos os fiéis devem realizar o haje ao menos uma vez na vida se dispuserem de meios econômicos para fazê-lo, a chegada de centenas de milhares de pessoas supõe um desafio logístico considerável.
Este ano, as autoridades sauditas lançaram uma iniciativa chamada "smart hajj" (haje inteligente) com aplicativos para ajudar os peregrinos a se orientar, ou obter atendimento médico urgente do Crescente Vermelho saudita.
O aplicativo também permite localizar os peregrinos se estes se perderem.
O Ministério da Peregrinação administra também o aplicativo "Manasikana" com traduções ao árabe.
A peregrinação de 2018 ocorre em um contexto de modernização na Arábia Saudita, um dos países mais conservadores do mundo. Desde junho as mulheres podem dirigir, uma mudança promovida pelo príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, considerado reformista.
Mas, ao mesmo tempo, o reino sunita usa mão de ferro para calar as vozes dissidentes. Prova disso foi a detenção nas últimas semanas de uma dezena de ativistas defensores dos direitos humanos, alguns dos quais foram libertados.