MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - A um ano das eleições que vão definir a nova composição das instituições da União Europeia, a maioria dos europeus acha que seus países estão indo na direção errada; quase metade pensa o mesmo do bloco como um todo; e oito em cada dez consideram que o padrão de vida já caiu ou vai cair no próximo ano.

Os europeus só vão às urnas entre 6 e 9 de junho de 2024, mas seus humores, reflexos das crises que afetam o continente, foram medidos pela pesquisa Eurobarômetro, divulgada nesta terça-feira (6) pelo Parlamento Europeu. Cerca de 400 milhões de eleitores dos 27 países-membros vão escolher 705 eurodeputados, que em seguida vão aprovar os nomes da cúpula do bloco, incluindo o de presidente da Comissão Europeia. Tanto legisladores quanto o braço executivo têm mandato de cinco anos.

Desde a última eleição, em 2019, a UE esteve no centro de grandes mudanças. Em 2020, o brexit se confirmou, com a saída do Reino Unido, e a pandemia de Covid-19 atingiu em cheio o continente. Em meio à recuperação econômica, uma guerra começou no Leste Europeu, o que trouxe alta da inflação e uma onda de descontentamento. No último ano, forças políticas da ultradireita ganharam espaço ou chegaram ao poder em países como França, Itália e Suécia, e cresceram em Espanha, Alemanha e Áustria.

Os resultados das eleições do ano que vem podem mudar o equilíbrio dentro do Parlamento Europeu, os rumos da Comissão Europeia e ter influência no cenário geopolítico. Com Ursula von der Leyen como presidente, a Comissão acumulou poderes, especialmente na gestão da pandemia e nas tratativas da Guerra da Ucrânia, com o bloco alinhado aos EUA.

Nesse clima, 47% dos entrevistados afirmam que a situação na União Europeia está indo na direção errada, percentual que já foi pior e havia registrado quatro pontos a mais na sondagem anterior, realizada no fim de 2022. Mesmo assim, apenas um terço (32%) acha que as coisas estão indo na direção certa.

A percepção piora quando o entrevistado é questionado sobre a situação do próprio país. Para 61%, as perspectivas são ruins, enquanto 26% respondem o contrário. Entre os 27 países, os mais pessimistas são eslovacos (75%), gregos (74%) e franceses (73%).

A grande maioria (79%) afirma que, como reflexo do conjunto de crises, o próprio padrão de vida já foi reduzido e/ou será afetado no próximo ano. Mais da metade dos entrevistados (57%) se diz insatisfeita com as medidas tomadas pela UE para combater a alta do custo de vida -percentual que sobe para 65% quando as respostas dos governos nacionais são avaliadas.

Mesmo assim, a resposta do bloco à Guerra da Ucrânia é considerada positiva. Mais de três quartos (76%) aprovam o apoio da UE à Ucrânia após a invasão russa. Desses, 36% aprovam fortemente, uma alta de três pontos percentuais desde o último levantamento. A UE, junto com os países e suas instituições financeiras, já disponibilizaram quase € 40 bilhões em auxílios a Kiev, além de outros € 15 bilhões em apoio militar e o acolhimento de milhões de refugiados.

"De um lado, os cidadãos sentem que a crise tem um impacto em suas vidas pessoais, no padrão de vida, mas, de outro, isso não impacta negativamente no apoio que a UE está dando à Ucrânia", afirmou Philipp Schulmeister, diretor de monitoramento de opinião pública do Parlamento Europeu.

O levantamento não inclui questões de teor político-partidário, como intenção de votos, e se limita a perguntar aos entrevistados quais deveriam ser as prioridades dos eurodeputados. Em primeiro lugar, com 38%, é citado o combate à pobreza, seguido por saúde pública (33%), emergência climática (31%) e medidas econômicas como criação de empregos (31%).

A pesquisa Eurobarômetro foi conduzida pelo instituto Kantar entre 2 e 26 de março, com 26.376 pessoas acima de 15 anos residentes em todos os 27 países do bloco. A margem de erro é de 1,4 ponto percentual.