A chamada “Guerra ao Terror” desencadeada pelos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2201, que deixaram mais de 3 mil mortos em solo estadunidense, resultaram em processos contra mais de 800 pessoas sob a acusação de terrorismo por parte das autoridades, muitos deles marcados por ações policiais ultrajantes e abusos legais. De acordo com reportagem  do The Intercept, “a guerra doméstica contra o terrorismo muitas vezes perseguiu pessoas que não representavam uma ameaça real” e que ainda se encontram presas.  

Um dos casos listados pela reportagem trata da família do imigrante Ferik Duka, falecido em 2018. Os três filhos mais velhos do albanês – Shain, Dritan e Eljvir – foram condenados à prisão perpétua “após uma operação com agentes infiltrados liderada pelo então procurador federal de Nova Jersey, Chris Christie,  e durou mais de um ano, envolvendo vários informantes do governo”. 

“Esse foi apenas um entre muitos casos em que promotores e agentes do FBI – no acalorado contexto pós-11 de setembro – rotularam como inimigos de Estado indivíduos que não representavam qualquer ameaça significativa. Muitos deles, como os irmãos Duka, foram condenados a penas longas ou tiveram suas vidas arruinadas após condenações por apoio material em acusações de terrorismo”, destaca o Intercept.

“‘Não houve ajuste de contas com o legado dessa era’, afirma Ramzi Kassem, professor da Escola de Direito da City University de Nova York e fundador do projeto ‘Creating Law Enforcement Accountability & Responsibility’, voltado à responsabilização das polícias. “As pessoas seguiram avançando em suas carreiras, muitas vezes obtendo ganhos políticos com esses casos. Essa é a história da guerra ao terror, pelo menos dentro do país”, ressalta. 

Ainda segundo Kassem, “é alarmante quando você analisa esses casos e encontra uma sobrerrepresentação de suspeitos com deficiência intelectual, marginalizados ou em situação de vulnerabilidade como alvos de operações com agentes infiltrados. Isso gera questionamentos sobre a realidade da ameaça terrorista retratada pelo FBI”. 


A reportagem observa, ainda, que “o uso ostensivo de agentes infiltrados foi uma das táticas mais controversas usadas pelo FBI e por promotores em casos de contraterrorismo doméstico. Segundo estimativas, o FBI empregou mais de 15 mil informantes nos EUA. Muitos deles participavam das chamadas ‘expedições de pescaria’, infiltrando-se em comunidades mesmo sem haver notícia de qualquer trama criminosa”.

O Intercept também ressalta que “apesar das mudanças voltadas a aperfeiçoar práticas judiciais e policiais, casos questionáveis de terrorismo continuaram a resultar em processos nos EUA, inclusive em nível estadual. Embora o governo tenha mudado sua abordagem – de modo hesitante e reativo –, ainda se faz necessário revisar centenas de situações em que pessoas foram presas em casos inventados de terrorismo”.