RFI - A reforma da Previdência foi debatida na Assembleia Nacional nesta sexta-feira (10) em uma sessão tumultuada, às vésperas de uma nova mobilização massiva convocada pelos sindicatos. Desta vez, eles esperam mobilizar trabalhadores que não podem fazer greve durante a semana.  

Fontes policiais preveem uma participação de 600.000 a 800.000 pessoas, em cerca de 240 manifestações previstas para acontecer neste sábado (11), em toda a França. Só na capital Paris, são esperados de 90.000 a 120.000 participantes.  

Os trabalhadores se preparam para um longo confronto, destacou o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, cogitando a possibilidade de "greves mais duras, mais numerosas, mais massivas e longas".

Mais cedo, os deputados validaram por um placar relativamente apertado, de 181 votos contra 163, o artigo primeiro do projeto de lei do governo prevendo a extinção gradual de numerosos regimes especiais de aposentadoria. Todos os deputados do partido "Os Republicanos", de direita, votaram com a maioria presidencial.  
 
Com a apresentação de centenas de emendas, a coalizão de esquerda Nupes defendeu a manutenção dos regimes especiais, como nos casos da RATP (transportes), das indústrias de eletricidade e gás (IEG) ou do Banco da França. Mas a maioria defendeu o seu fim, como uma medida de "justiça".  

Restam ainda cerca de 16.000 emendas para serem discutidas em uma semana, nos outros 19 artigos do projeto apresentado pelo governo da primeira-ministra Élisabeth Borne, e que tem sido bastante contestado. 

O adiamento da idade da reforma dos 62 para os 64 anos suscita "uma profunda rejeição", reagiu Laurent Berger, secretário-geral do sindicato CFDT.  

Este sábado será o quarto dia de manifestação contra o projeto de reforma da Previdência. As mobilizações reuniram, sem grandes incidentes, entre 757 mil pessoas, de acordo com o ministério do Interior (2 milhões segundo os organizadores), em 7 de fevereiro. Os protestos reuniram 1,27 milhão (2,5 milhões), em 31 de janeiro. 

 E se os franceses são apenas preguiçosos?  

 Em um artigo de opinião publicado no Jornal The New York Times, em 29 de janeiro, o historiador e autor Robert Zaretsky questiona: "estariam os franceses, como no estereótipo, apenas sendo preguiçosos? ". Numa longa análise, ele investiga se, pelo contrário, os trabalhadores franceses seriam apenas mais realistas, na medida em que não viam o trabalho como a única fonte de satisfação na vida.  

"As estatísticas oferecem uma resposta inicial", escreve Zaretsky, apontando para uma questão de produtividade e destacando que o assunto merece uma discussão ampla. "Embora a produtividade agregada dos trabalhadores franceses seja ligeiramente inferior à dos trabalhadores americanos, é dramaticamente superior à dos seus pares europeus. Na verdade, é superior à média do G7", aponta. 

O principal bloqueio do texto da reforma da Previdência está no aumento da idade mínima da aposentadoria, de 62 para 64 anos, e o governo não abre mão desse ponto.