Paris fecha lojas, museus e monumentos por medo de novos atos de vandalismo
Paris, a Cidade Luz, a capital dos museus, dos teatros, a urbe das grandes avenidas e bulevares, se tornou neste sábado uma cidade fantasma, fortificada por sacos de areia e segurança máxima e coberta pro gás lacrimogêneo em meio a um novo dia de violência com durante outra manifestação dos coletes amarelos. É o quarto ato, que se dirigiu rumo à capital francesa, símbolo do poder central rechaçado por este movimento de protesto popular. Apesar dos pedidos de calma por parte do Governo, de deputados, de autoridades locais e até de sindicatos, a tensão é enorme e as forças de segurança receberam ordem de apresentar-se em massa. Ao menos 500 manifestantes foram detidos.
A concentração em locais movimentados, como junto ao Arco do Triunfo, começaram na primeira hora da manhã. A delegacia de polícia informou que as prisões foram feitas por “participação em grupo com vistas a preparar atos de violência contra pessoas ou destruição” e 32 pessoas estavam em prisão preventiva, segundo a mídia francesa.
Depois de uma hora e meia reunidos com um Philippe “atento e sério”, os coletes amarelos “livres” consideraram que seu trabalho —explicar as demandas dos cidadãos— estava “feito” e exigiram um sinal “rápido” do presidente Emmanuel Macron. “Agora cabe ao presidente assumir a responsabilidade e falar de forma simples e clara”, disse Benjamin Cauchy na saída da reunião.
À espera do discurso de Macron
Macron, o principal alvo da ira da população, guarda um silêncio que não foi quebrado desde sua volta da Argentina no domingo passado. O presidente da Assembleia Nacional, Richard Ferrand, assegurou que o governante falará sobre a crise dos coletes amarelos. Mas fará isso “no início da semana” que vem, para não jogar “mais lenha na fogueira” antes de um dia em si tenso de sábado, disse à Agência France Presse.
A questão não é tanto quantos coletes amarelos chegarão até Paris para se manifestar, mas a forma como o farão. O número de participantes nos protestos tem diminuído ao longo das semanas, mas não os atos violentos que os acompanharam. O principal problema continua sendo a morfologia de um movimento que carece de líderes claros e incontestes, e que não responde a nenhuma das características tradicionais dos protestos sociais. O ministro do Interior, Christophe Castaner, considerou que “vários milhares de pessoas” se manifestarão este sábado em Paris, alguns deles “ultraviolentos”, disse. A promotoria de Paris anunciou na quinta-feira a abertura de uma investigação “por incitação a crime ou delito” e por “organização de uma manifestação ilegal” para um dos iniciadores do movimento dos coletes amarelos, Eric Drouet, que esta semana conclamou a “entrar” no palácio do Eliseu durante uma entrevista na televisão.
Forte presença policial
Em torno de 8.000 policiais e guardas em Paris, 89.000 em toda a França, foram mobilizados para evitar que o “Ato IV”, como foi chamado pelos manifestantes este novo sábado de protestos —o terceiro de peso—, volte a gerar cenas de caos, de carros em chamas e barricadas incendiárias, monumentos vandalizados como o Arco do Triunfo no sábado passado e centenas de prisões. Cerca de doze veículos blindados da guarda municipal foram deslocados desde a madrugada em Paris, um gesto inédito que demonstra a seriedade com que a situação é vista por um Governo atacado pela revolta da população, que não foi aplacada nem pelo anúncio da suspensão, durante todo 2019, da taxa sobre o combustível que foi o que detonou o movimento.
Uma cidade blindada
Durante toda a sexta-feira, as lojas de algumas avenidas na “região de maior risco” —praticamente todo o centro, desde o Arco do Triunfo até a praça da República, ponto de chegada tradicional das manifestações— cobriram suas vitrines com pranchas de madeira ou até de metal. Não só se protegeram lojas de luxo e bancos, alvo preferido dos distúrbios do sábado passado, mas também supermercados e cafés. “Fechamos! Loucura total”, comentava a caixa do café Nostrum, perto do Arco do Triunfo, sobre as precauções em um dia que normalmente deveria ter sido uma longa jornada de trabalho, tão perto das festas de fim de ano. Algumas portas acima, a loja da Apple também confirmava o fechamento total durante o dia, atendendo ao apelo feito nesse sentido pelas autoridades. Mesmo pagando um preço alto: 1 milhão de euros (cerca de 5 milhões de reais) de perda de receita desde o início dos protestos, há um mês, segundo a Federação do Comércio e da Distribuição (FDC), citada pela Reuters.
Os funcionários municipais também trabalharam muito. Por ordem da prefeita Anne Hidalgo, até a manhã de sábado foi preciso retirar mais de 2.000 itens de mobiliário urbano suscetíveis de serem usados como “armas” pelos revoltosos. Uma “célula de crise” aberta no Consistório supervisionará e coordenará com as autoridades centrais durante todo o dia a situação em uma metrópole em que se desaconselha a residentes e turistas passar pela região central, e onde o transporte público foi praticamente interrompido. Assim, há pouco o que fazer em uma cidade em que a maioria dos museus e monumentos, da torre Eiffel à catedral de Notre Dame até o mais afastado Panteão, também permanecerão fechados de forma preventiva e onde muitos teatros e a ópera cancelaram também seus espetáculos.