Fotos publicadas nesta quinta-feira, 12, nas redes sociais mostram o presidente autoproclamado da Venezuela, Juan Guaidó, ao lado de dois membros de uma milícia da Colômbia, denominada Los Rastrojos, em ponto indefinido no trajeto até a fronteira entre os dois países.
Funcionários do governo venezuelano têm usado as fotografias como uma prova de que a entrada de Guaidó na Colômbia, em fevereiro, foi orquestrada com o auxílio de criminosos, gerando uma crise para a oposição venezuelana e para o presidente da Colômbia, Ivan Duque.
Ambos acusam o presidente Nicolás Maduro de apoiar e ceder território venezuelano para milícias como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Liberação Nacional (ELN) exercerem suas atividades e controle de território. Grupos menores como o Los Rastrojos foram criados com dissidentes das milícias maiores.
Na ocasião das imagens, Guaidó se deslocava para um evento na cidade colombiana de Cúcuta, próxima à fronteira com a Venezuela e ponto estratégico para a entrada de imigrantes venezuelanos no país.
Um empresário britânico organizou na cidade um show beneficente em 22 de fevereiro, para arrecadar fundos para o envio de itens de ajuda humanitária aos venezuelanos. Guaidó esteve presente, ao lado de Duque, o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez e o presidente do Chile, Sebastian Piñera, além de outros apoiadores da oposição venezuelana.
Nesta sexta, após um dia de silêncio em relação ao episódio, Guaidó negou manter vínculos com grupos paramilitares colombianos, afirmando em entrevista para uma rádio colombiana que "era difícil saber quem me pedia fotos".
O chefe da Assembleia Nacional venezuelana expressou que durante a travessia entre a Venezuela e a Colômbia, onde teve que desviar de diversos bloqueios das autoridades para cruzar a fronteira, muitas pessoas pediram para tirar fotos.
Ao ser questionado se os paramilitares das fotografias ajudaram-no a cruzar a fronteira, Guaidó respondeu que recebeu o apoio de "cidadãos da fronteira", e que sua equipe o aguardava do lado colombiano. "Nossos aliados na fronteira colombo-venezuelana, evidentemente, é o exército colombiano, que está fazendo um grande trabalho enfrentando esses grupos, e a polícia, que felizmente deteve esses irregulares, o que celebramos", defendeu.
O comandante das Forças Armadas da Colômbia, general Luis Fernando Navarro, revelou à imprensa local nesta sexta as identidades de Albeiro Lobo Quintero, conhecido como Brother, e Jhon Jairo Duran, o Menor, ambos do Los Rastrojos.
Quintero se entregou às autoridades colombianas pouco depois das fotografias terem sido tiradas, enquanto Duran foi capturado enquanto era transportado em uma canoa com um ferimento, após ter lutado contra outro grupo paramilitar na Venezuela.
A difusão das fotografias levou à abertura de um processo judicial contra Guaidó, o quinto neste ano, para investigar o caso. O procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, considerou "impensável" a hipótese de que as fotografias sejam de "fãs", afirmando que Guaidó e o seu entorno "mantêm relação com estes grupos criminosos".
Em resposta, Duque reiterou que "Guaidó é um herói, é um defensor da democracia, um defensor de seu povo, é um homem que teve a valentia e força de enfrentar um ditador", considerando as explicações fornecidas por Guaidó "satisfatórias".
As relações entre Venezuela e Colômbia também se fragilizaram na semana passada, após Maduro ter enviado tropas para treinamentos militares em ponto próximo à fronteira entre os países, acusando Duque de deixar tropas colombianas a postos para atacar a Venezuela.
O episódio é originário do anúncio de dois dissidentes das Farc, considerados desaparecidos até o início de setembro, de que retornariam à luta armada. Guaidó e Duque acreditam que a milícia, dissolvida após a assinatura do acordo de paz na Colômbia, receba apoio do governo venezuelano.