Na Itália, cerca de 5,6 milhões de alunos voltaram às salas de aula nesta segunda-feira(foto: Vincenzo PINTO / AFP)
A pandemia de coronavírus vai se agravar na Europa nos próximos dois meses e a mortalidade vai aumentar, alertou nesta segunda-feira (14) um diretor da Organização Mundial da Saúde, um dia após o mundo registrar um recorde de contágios diários. 

Diante da multiplicação de focos da doença em todo o mundo, os países voltam a impor fortes medidas de contenção. A Inglaterra, por exemplo, adotará restrições às reuniões sociais, enquanto Israel voltará a impor um confinamento nacional a partir do fim de semana.

"Vai ser mais duro. Em outubro, em novembro, vamos observar uma mortalidade mais elevada", afirmou em uma entrevista à AFP o médico belga Hans Kluge, diretor para a Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A Europa registra atualmente uma aceleração dos contágios, sobretudo na Espanha e na França, embora a taxa de mortalidade permaneça estável. A OMS Europa organiza uma reunião nesta segunda-feira e na terça-feira com os 55 Estados membros para abordar a resposta à pandemia e elaborar uma estratégia quinquenal.

Segundo Kluge, a descoberta de uma vacina contra o vírus não vai encerrar a pandemia. "Escuto o tempo todo: 'a vacina será o fim da epidemia'. Com certeza não", afirmou.

"Não sabemos se a vacina vai ser eficaz para todos os setores da população. Recebemos alguns sinais de que será eficaz para alguns, mas não para outros", acrescentou.
Desde que surgiu na China em dezembro, o novo coronavírus matou ao menos 924.968 pessoas e infectou mais de 29 milhões, de acordo com um balanço da AFP com base em fontes oficiais. A OMS alertou que no domingo foram registrados 307.930 novos casos no mundo, um recorde de infecções diárias desde o início da pandemia.

Nesse contexto de aceleração, a partir desta segunda-feira a Inglaterra proibirá reuniões com mais de seis pessoas. A medida, que não afeta as demais regiões do Reino Unido, será aplicada em locais fechados e abertos, com exceção de escolas, locais de trabalho, casamentos e funerais.

A partir de terça-feira, em Birmingham, a segunda cidade mais populosa do Reino Unido, não serão autorizados encontros entre amigos ou familiares, anunciaram as autoridades locais.

O Reino Unido, o país mais afetado da Europa (41.623 mortos), registrou mais de 3.500 novos casos de COVID-19 na sexta-feira, os piores dados desde 17 de maio.

Volta às aulas na Itália

Na Áustria, o uso obrigatório da máscara foi estendido a lojas e prédios públicos diante do "início de uma segunda onda", nas palavras do chanceler Sebastian Kurz.

Na Itália, outro país europeu muito afetados pelo vírus, com mais de 35.500 mortes e mais de 280.000 infecções, cerca de 5,6 milhões de alunos voltaram às salas de aula nesta segunda-feira, após seis meses de fechamento.

O país anunciou medidas sanitárias para permitir o retorno: o uso de máscaras, das quais o governo fornecerá cerca de 11 milhões de exemplares diários para professores e alunos, a repetida lavagem das mãos, possível graças aos 170 mil litros de álcool em gel prometidos semanalmente pelas autoridades, e o distanciamento social, possibilitado pela construção de 5.000 novas salas e a expansão de outras 5.000.

Do outro lado do Atlântico, na Venezuela, as aulas presenciais não serão retomadas até o próximo ano.

"Sem dúvida, o retorno presencial às aulas não é favorável para o controle da pandemia, por isso não há retorno presencial na Venezuela e veremos se voltaremos em janeiro", disse o presidente Nicolás Maduro, acrescentando que a educação continuará à distância.

A região da América Latina e Caribe é a mais afetada pelo vírus, com quase 310.500 mortes e 8,3 milhões de infecções, de acordo com um balanço da AFP.

O Brasil é de longe o país mais afetado do continente, com 131.625 mortes e 4,3 milhões de infecções.

Na vizinha Argentina, que no domingo acumulava quase 550.000 casos e mais de 11.000 mortes, aconteceram protestos em diferentes partes do país contra a gestão do governo Alberto Fernández e a quarentena obrigatória.

Confinamento em Israel

Globalmente, apenas Estados Unidos supera o Brasil. A maior potência mundial contabiliza mais de 194.000 mortes e 6,5 milhões de infecções, de acordo com a Universidade Johns Hopkins.

Os números não impediram, no entanto, que o presidente Donald Trump realizasse um comício no domingo em um complexo em Nevada (sudoeste), iniciativa que indignou autoridades locais, já que não são autorizadas reuniões de mais de 50 pessoas neste estado.

Apesar dos surtos da doença em muitos países, os governos estão tentando evitar medidas de contenção rígidas, que têm provocado estragos nas economias.

Em Israel, entretanto, as autoridades decidiram retomar um confinamento nacional por três semanas, para tentar conter a alarmante disseminação do vírus. O país, com nove milhões de habitantes, tem 153.217 casos e 1.103 mortes.

A medida entrará em vigor na sexta-feira, véspera dos feriados judaicos de Rosh Hashanah e Yom Kippur, quando as famílias se encontram e os fiéis se reúnem nas sinagogas.

O ex-chefe do Governo italiano Silvio Berlusconi, hospitalizado desde 3 de setembro por uma infecção pulmonar devido à COVID-19, deixou o hospital San Raffaele em Milão (norte) nesta segunda-feira.