Estados Unidos

O embaixador dos Estados Unidos em Israel, Mike Huckabee, anunciou hoje um mecanismo apoiado pelo seu país para distribuir ajuda na Faixa de Gaza. “Não será perfeito, especialmente nos primeiros dias. Porque é um desafio logístico fazer com que isto funcione. A ajuda humanitária não dependerá de nada além da nossa capacidade de fazer entrar os alimentos em Gaza”, declarou em referência se o fornecimento de ajuda dependia da retomada de um cessar-fogo.

Huckabee adiantou que o plano deve entrar em vigor dentro de pouco tempo e afirmou que vários parceiros já se comprometeram em participar no acordo de ajuda humanitária. No entanto, não especificou quais são, dizendo que os detalhes serão divulgados nos próximos dias. “Há organizações sem fins lucrativos que farão parte da liderança”, indicou, acrescentando que outras organizações e governos também terão de estar envolvidos, mas não Israel.

“Os israelenses vão estar envolvidos no fornecimento da segurança militar necessária, porque se trata de uma zona de guerra, mas não vão estar envolvidos na distribuição dos alimentos ou mesmo na sua introdução em Gaza”, revelou o embaixador.

Além disso, ainda está previsto que o presidente norte-americano Donald Trump irá visitar o Oriente Médio em breve.

Desde o dia 2 de março o governo de Tel Aviv proibiu por completo a entrada de qualquer ajuda humanitária no território palestino, onde vivem cerca de 2,4 milhões de pessoas.  As autoridades israelenses alegam que o bloqueio tem como objetivo forçar o Hamas a libertar reféns.

Os líderes europeus e os grupos de ajuda humanitária criticaram o plano de Israel, que impediu a entrada de ajuda em Gaza desde que rompeu o cessar-fogo com o Hamas em março, para que empresas privadas assumissem a distribuição de ajuda humanitária no enclave. Israel ainda acusou as agências, incluindo a Organização das Nações Unidas, de permitir que a ajuda caísse nas mãos do Hamas, que, segundo o país, se apodera de fornecimentos destinados a civis e os entrega às suas próprias milícias.

Enquanto isso, a população de Gaza enfrenta uma gravíssima crise humanitária, sem alimentos, medicamentos, água potável entre outros itens essenciais. As organizações humanitárias internacionais já advertiram que a fome é generalizada e há um forte aumento das mortes relacionadas com a subnutrição.

A proposta de criação de uma Fundação Humanitária em Gaza, que distribuiria alimentos a partir de quatro locais de distribuição segura, similar aos planos anunciados por Israel no início desta semana, foi criticada pela comunidade humanitária por agravar efetivamente a deslocação da população palestina.

Huckabee argumentou que haverá um número inicial de centros de distribuição que poderiam alimentar mais de um milhão de pessoas, antes de serem aumentados para atingir dois milhões. “A segurança privada será responsável pela segurança dos trabalhadores que entram nos centros de distribuição e na distribuição dos alimentos. Tudo será feito de acordo com o direito internacional”, explicou.

“É muito difícil imaginar a distribuição e qualquer ajuda e operação humanitária em Gaza sem a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA). É impossível substituir a UNRWA num lugar como Gaza. Somos a maior organização humanitária. Em Gaza, temos mais de dez mil pessoas trabalhando para entregar o pouco que resta dos mantimentos e a organização gere também abrigos para as famílias deslocadas”, afirmou Juliette Touma, porta-voz da organização.

“Parece ter sido concebida para reforçar o controle sobre os bens de subsistência como tática de pressão. E o uso da ajuda humanitária como isca para a deslocação forçada, especialmente do norte para o sul, criará esta escolha impossível: uma escolha entre a deslocação e a morte devido aos bombardeios em curso. É perigoso pedir aos civis que entrem em zonas militarizadas para recolher rações e isso aumentará as deslocações forçadas para fins políticos e militares. Além disso, as pessoas mais vulneráveis que não conseguem chegar a estas áreas designadas enfrentarão dificuldades horríveis para obter ajuda. Há uma alternativa simples: suspender o bloqueio e deixar entrar a ajuda humanitária para salvar vidas. De acordo com o plano, só haveria 60 caminhões a entregar ajuda à Gaza todos os dias, o que representa 1/10 do que foi entregue durante o cessar-fogo, o que está longe de ser suficiente”’, alertou James Elder, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Israel, que acusa o Hamas de desviar a ajuda, já sugeriu também a sua distribuição em centros controlados pelo exército, uma proposta fortemente criticada pela ONU e pelas organizações humanitárias mundiais. “Não participaremos em nenhuma operação de ajuda que não respeite os nossos princípios humanitários de independência, humanidade e imparcialidade”, garantiu hoje Rolando Gomez, porta-voz das Nações Unidas em Genebra.