(FOLHAPRESS) - O governo dos Estados Unidos gostaria que o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fosse a Washington se reunir com o presidente Joe Biden assim que possível –idealmente já em janeiro, a depender das agendas dos dois líderes.
 
Embora em um encontro em Brasília nesta segunda-feira (5) uma delegação de Washington e a equipe de transição não tenham encontrado datas possíveis para que o petista viajasse antes da posse, a Casa Branca acha importante que a visita ocorra no início do novo governo brasileiro.

A gestão Biden acredita que o Brasil vai retomar um papel muito ativo no cenário internacional, por isso fez questão de convidar Lula ainda antes da posse, em sinal de respeito e indicando "prioridade para a relação", segundo autoridades americanas.

A reunião desta segunda teve o ambiente descrito como "muito positivo". Nela, os representantes de Washington afirmaram que Biden gostaria de ver instituições financeiras multilaterais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), cujo presidente eleito é o brasileiro Ilan Goldfajn, aumentando financiamento para os países –inclusive os de renda média– lidarem com impactos da crise climáticas e com a insegurança alimentar.

Do lado americano, participaram do encontro Jake Sullivan, titular do Conselho de Segurança Nacional, e Juan González e Ricardo Zúniga, diretor-sênior e vice-secretário para assuntos do hemisfério Ocidental do órgão. Pelo governo de transição, além de Lula, estavam o ex-chanceler Celso Amorim, Fernando Haddad, cotado para o Ministério da Fazenda, e o senador Jaques Wagner (PT-BA).

Também foi abordado o interesse dos EUA em possíveis cooperação e financiamento para ações de mitigação da crise climática na região.

Os americanos levantaram ainda o assunto da possibilidade de uma nova missão ao Haiti, sem pressionar o Brasil. Afirmaram que gostariam de aprender com a experiência do país, já que o Exército brasileiro comandou a missão das Nações Unidas no Haiti (Minustah) por 13 anos.

O convite de Washington a um presidente eleito no Brasil não é novidade. A Casa Branca fez o mesmo na primeira eleição de Lula, em 2002, quando a vitória do petista gerava ansiedade no mercado financeiro e nos EUA, que não sabiam quão radical seria o mandato do líder sindicalista de esquerda.


O petista se reuniu em dezembro daquele ano com o então presidente George W. Bush, antes de assumir o poder. Contrariando expectativas, a química foi boa, e os dois se reuniram diversas vezes, com direito a churrasco na Granja do Torto e encontro na casa de campo dos chefes do Executivo americanos, Camp David.

Em junho de 2003, o brasileiro voltou a visitar Bush, já como presidente. "Lula tem demonstrado em seu governo de seis meses que é um político pragmático, disposto à abertura internacional, ao desenvolvimento empresarial, à promoção do comércio e à luta contra a corrupção e a fome em seu país", disse o americano na época.

A sucessora de Lula, Dilma Rousseff, foi convidada pelo governo de Barack Obama para ir a Washington antes da posse, mas não foi –ainda como presidente eleita, participou de reunião do G20 em Seul em 2010, ao lado do padrinho político. Ela depois faria da Argentina seu primeiro destino internacional.

Já Jair Bolsonaro não foi aos EUA em 2018, antes da posse, porque estava impossibilitado de viajar, ainda em decorrência das cirurgias por que passou após ser esfaqueado na campanha, em Juiz de Fora (MG). Mas recebeu em casa o então conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton.

Em março de 2019, já na Presidência, ele foi a Washington e se reuniu com Donald Trump na primeira visita internacional bilateral –antes, havia ido ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, em janeiro.