NOVA YORK

A polícia de Nova York reforçou a segurança nessa segunda-feira (20/1), de olho no possível indiciamento de Donald Trump por ter comprado o silêncio de uma atriz pornô com quem teria mantido uma relação - uma "caça às bruxas" segundo o ex-presidente, que convocou seus apoiadores a apoiá-lo.

Apenas um punhado de simpatizantes do ex-presidente se manifestaram nessa segunda diante do tribunal de Manhattan, onde um grande júri analisa a investigação realizada pelo promotor distrital Alvin Bragg, que poderia transformá-lo no primeiro ex-presidente dos Estados Unidos acusado de um delito penal.

Inclusive, ele pode chegar a ser preso e algemado, um cenário sem precedentes para o qual a polícia de Nova York se prepara com barricadas em torno do gabinete do promotor e da Trump Tower, na Quinta Avenida.

Trump afirmou no sábado, por meio de sua rede social Truth Social, que seria "detido" na terça-feira, o que representaria um golpe em sua pré-campanha para tentar uma nova candidatura à Presidência americana em 2024.

"Estamos operando com vazamentos, estamos operando com informação limitada, mas está claro que eles veem o presidente Donald Trump como uma ameaça", disse Gavin Wax, presidente da juventude republicana de Nova York, que convocou o protesto.

Diante do tribunal, também protestaram detratores do ex-presidente republicano, como Bob Fertek, um nova-iorquino que considera Trump uma "fraude" e que gostaria de vê-lo no banco dos réus.

'Caos'

O bilionário que acabou com o equilíbrio entre os poderes nos EUA, voltou, nesta segunda, a atacar, por meio da Truth Social, a atuação do promotor Bragg, que tachou de "corrupta". O magistrado negro e democrata foi eleito pela população.

Para Trump, o evento investigado prescreve em dois anos. "E o mais importante, NÃO FOI CRIME!", escreveu ele hoje na Truth Social.

Alina Habba, uma advogada do ex-presidente, alertou no domingo na emissora CNN que, "se [os democratas] decidirem culpá-lo por uma infração que, na verdade, ele não cometeu, vão criar um caos".

As autoridades locais temem uma repetição do caos do ataque ao Capitólio, sede do Congresso em Washington, em 6 de janeiro de 2021, quando Trump incitou seus apoiadores a ignorar os resultados das urnas, que deram a vitória ao democrata Joe Biden, e a impedir sua posse.

Nas redes sociais, os trumpistas prometem impedir o indiciamento de seu herói, em especial o grupo "The Donald", que pede uma "greve nacional" ou até mesmo uma "guerra civil 2.0", de acordo com os meios Rolling Stone e Daily Beast.

Caso complexo

O caso da atriz pornô Stormy Daniels é juridicamente complexo. Stephanie Clifford, o verdadeiro nome de Daniels, recebeu 130.000 dólares de Trump semanas antes das eleições de 2016. A promotoria garante que a intenção do magnata era comprar o silêncio da atriz sobre uma suposta relação extraconjugal.

A Justiça de Nova York tenta esclarecer se Trump é culpado de falso testemunho, uma infração, ou de violar a lei sobre financiamento eleitoral, um delito penal.

Na semana passada, a investigação se acelerou. Michael Cohen, ex-advogado e agora arqui-inimigo do republicano, responsável por entregar o dinheiro a Daniels, prestou depoimento perante um grande júri, cujo veredicto pode levar a uma acusação. Daniels, por sua vez, está cooperando com os promotores.

Trump também foi encorajado a testemunhar para esse grande júri. Segundo um de seus advogados, o magnata está pensando em fazê-lo.

"Os promotores quase nunca convidam o alvo da investigação a depor ante o grande júri a menos que tenham a intenção de acusá-lo", explicou à AFP o ex-promotor e professor de direito Bennett Gershman.

De acordo com seu colega Renato Mariotti, é provável que, no caso de um indiciamento, Trump, que vive em sua mansão de Mar-a-Lago, em Palm Beach, Flórida, compareça voluntariamente ao tribunal de Manhattan.

No domingo, vários nomes importantes do Partido Republicano manifestaram apoio a Trump, em particular seu ex-vice-presidente, Mike Pence, que rompeu com o magnata em 2021 e com quem poderia competir nas primárias pela indicação da legenda às eleições de 2024.