Com quase a totalidade das urnas apuradas, presidente teve mais da metade dos votos
O presidente turco, o conservador Recep Tayyip Erdogan, venceu as eleições presidenciais e parlamentares deste domingo (24). Após tensas horas de resultado indefinido, ele chegou aos 53% dos votos com 92% das urnas apuradas.
De acordo com esses resultados preliminares, os eleitores lhe deram a maior parte dos votos e lhe pouparam a ida ao segundo turno, que estava previsto para este 8 de julho.
Se os resultados forem confirmados, Erdogan terá se consolidado no poder - ele foi premiê de 2003 a 2014 e é presidente desde então.
Seu principal rival, o social-democrata Muharrem Ince, recebeu 30%. Havia bastante expectativa da oposição de que Ince pudesse ir para o segundo turno, dadas as massas que conseguiu reunir na véspera. Seus simpatizantes contestam o resultado e dizem que houve fraude.
Já no Parlamento, Erdogan e seu AKP (Partido Justiça e Desenvolvimento) tiveram 54,7% dos votos em parceria com o aliado MHP (Partido de Ação Nacionalista). As legislativas só têm uma fase.
O bloco de oposição - que inclui a sigla de Ince, o CHP (Partido Republicano do Povo) - somou 33,6% de apoio na Casa.
O presidente votou em Istambul, a principal cidade do país. Ali, disse a jornalistas que o processo eleitoral "mostra quão avançada é a democracia turca". "A Turquia está vivendo uma revolução", afirmou.
Na escola religiosa de Eyüp, em Istambul, o fluxo de eleitores era constante - votavam entre inscrições do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, e uma ilustração do conquistador islâmico Saladino (século 12). "Erdogan é o melhor. Forte, justo. Os outros candidatos apoiam o terrorismo", disse à reportagem o administrador Mehmet Kankiliç, 26. "Os opositores são mentirosos e não respeitam o nosso líder."
Em outros locais de votação, imagens circuladas pela mídia mostravam eleitores indo às urnas de cadeira de rodas ou com tanques de oxigênio - tamanha era a ansiedade por participar. O comparecimento às urnas foi de 87%, segundo o governo. O voto é em tese obrigatório, mas os ausentes não costumam ser multados.
Estas eleições estavam a princípio programadas para novembro de 2019. Em abril passado o presidente decidiu antecipar a data. Segundo analistas, ele temia que a crise econômica latente pudesse prejudicar a sua reeleição e o futuro do partido dentro do Parlamento.
Os resultados têm grande impacto na Turquia, um poderoso membro da Otan (aliança militar ocidental) que faz fronteira com Síria e Iraque.
Erdogan governou o país nos últimos 15 anos com uma mão cada vez mais pesada, cerceando a imprensa e seus opositores. Depois de uma tentativa frustrada de golpe em julho de 2016, ele promoveu um extenso expurgo em que mais de 140 mil pessoas foram detidas.
Exatamente devido a esse cenário autoritário foi que a oposição decidiu se aliar em um mesmo bloco neste ano, com a intenção de retirar ao menos a maioria parlamentar de Erdogan. A aliança inclui o social-democrata CHP (Partido Republicano do Povo), o conservador IYI e o islamita Saadet - siglas que Erdogan não esperava ver unidas.
Mais de 50 milhões de turcos, em uma população de 80 milhões, estavam aptos a votar. As urnas foram fechadas às 17h locais (às 11h em Brasília). Em meio aos receios de atividade terrorista ou violência partidária, o governo empregou 38 mil policiais em Istambul.
Apesar dessa preocupação, a jornada eleitoral não teve incidentes de violência. No entanto, algumas organizações de oposição denunciaram fraudes eleitorais, já antecipadas. Houve denúncias semelhantes no plebiscito constitucional celebrado no ano passado.
A organização Oy ve Ötesi monitorou os locais de voto com milhares de voluntários. "Quando determinados grupos políticos têm demasiada presença em torno das urnas, isso pode levar a disrupções nos resultados", afirmou à reportagem um dos líderes daquele grupo, Sercan Çelebi, nas primeiras horas do pleito de domingo. "Então enviamos monitores independentes para garantir o equilíbrio."
Nas últimas semanas, entretanto, grupos de monitores ligados à sigla pró-curda HDP (Partido Democrático do Povo) foram detidos. Durante o domingo (24), circularam vídeos que supostamente mostravam interferência nas urnas - algo que não foi confirmado oficialmente.