Santiago (Chile)
UOL
Os enviados do papa Francisco finalizaram nesta terça-feira (19) sua segunda missão no Chile com um chamado a fazer justiça para as vítimas de abusos sexuais, em momentos de novas denúncias de sacerdotes chilenos por pedofilia.
O arcebispo de Malta, Charles Scicluna, e monsenhor Jordi Bertomeu concluíram seu trabalho de uma semana no Chile instando a continuar as investigações e anunciando a criação de um sistema de "escuta" para receber novas denúncias.
"Investigar é um dever de justiça; necessitamos fazer justiça para as vítimas pelo bem do país e também da Igreja", disse Scicluna em uma última coletiva de imprensa no Chile.
O sacerdote disse também que "reconhecer e admitir a verdade completa, com todas as suas dolorosas repercussões e consequências, é o ponto de partida para uma cura autêntica, tanto para as vítimas como para o autor dos abusos".
Em meio a uma forte crise da Igreja chilena ante uma onda de denúncias de abuso sexual, o papa Francisco enviou ao Chile Scicluna e Bertomeu, pela segunda vez em quatro meses, para escutar novos testemunhos de vítimas e tentar reconciliar a diocese da cidade de Osorno, fortemente dividida após a designação em 2015 de um bispo acusado de encobrimento.
Ambos os enviados estiveram no fim de semana em Osorno, cerca de 900 km ao sul de Santiago, onde no domingo pediram perdão por parte do papa Francisco aos fiéis.
Na segunda-feira da semana passada, antes do início da nova missão de Scicluna e Bertomeu, o pontífice aceitou a renúncia do bispo Juan Barros, acusado de encobrir os abusos sexuais do influente sacerdote Fernando Karadima, condenado pelo Vaticano em 2011.
No aeroporto, o arcebispo Scicluna prestou declaração como testemunha em uma das denúncias de abuso sexual da Igreja que a justiça chilena investiga paralelamente.
"Realizamos uma série de diligências, fundamentalmente pelas denúncias em relação a pessoas que faziam parte da congregação dos (irmãos) Maristas", explicou a jornalistas um dos promotores que investigam as denúncias, Raúl Guzmán.
Na semana passada, os escritórios eclesiásticos de Santiago e da cidade de Rancagua - onde 14 sacerdotes foram suspensos após denúncias de abuso sexual a menores - foram alvo de buscas pela justiça.
Ao mesmo tempo, as dioceses da cidade de Temuco e Aysén informaram que outros quatro sacerdotes receberam denúncias de abusos sexuais contra menores.
Em um comunicado, o bispado de Temuco (sul) informou que o sacerdote Pablo Isler Venegas foi sancionado em 2015 por abuso sexual de menores, com a proibição de exercer publicamente o ministério sacerdotal e de trabalhar com adolescentes e jovens.
A nota acrescenta que o processo começou em 2011 com as primeiras denúncias, mas que por solicitação das vítimas não se havia tornado público até agora.
A diocese informou, ainda, que outros dois sacerdotes, Juan Carlos Mercado e José Bastías, enfrentaram denúncias de abuso sexual de menores. Mercado apresentou em 2013 sua renúncia ao ministério sacerdotal, e Bastías se encontra suspenso do exercício público do ministério enquanto enfrenta um processo penal canônico por abusos sexuais a menores.
A diocese de Aysén, também no sul do Chile, informou que o presbítero Porfirio Díaz também foi suspenso enquanto enfrenta uma investigação canônica preliminar após uma denúncia de abuso sexual de menores, em um caso que se soma ao informado na segunda-feira pela Congregação dos Sagrados Corações sobre uma denúncia contra o sacerdote Juan Andrés Peretiatkowicz.
O sacerdote, de 82 anos, se encontra há cinco anos sem encargos pastorais por motivos de saúde.