'Deixem de lado as suas diferenças', pediu Trump aos democratas e republicanos. Ao falar sobre terrorismo, presidente anunciou que vai manter Guantánamo aberta.

Por G1

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez seu primeiro discurso do Estado da União, no qual pediu que democratas e republicanos se unam para aprovar um novo plano de infraestrutura e a reforma migratória. Em sua fala, que ocorreu na noite de terça-feira (30, madrugada de quarta, 31, no Brasil), Trump anunciou que assinou uma ordem executiva para manter aberto o presídio na Baía de Guantánamo, em Cuba.

O discurso, que acontece anualmente em uma sessão conjunta do Congresso, é uma forma de o presidente prestar esclarecimentos sobre a situação do país e planos para o futuro a senadores, deputados, militares e membros da Suprema Corte. O primeiro discurso do Estado da Nação foi feito por George Washington, em 1790. Trump não fez o discurso no ano passado, porque ele seria realizado apenas alguns dias após sua posse.

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Em geral, a oposição aproveita a ocasião para enviar mensagens simbólicas. Neste ano, os congressistas democratas se vestiram de preto para assistir ao discurso, em apoio ao movimento #TimesUp, que combate o assédio e abuso sexual.

No início de sua fala, Trump pediu que democratas (oposição) e republicanos (maioria no Congresso) “deixem de lado as suas diferenças e busquem um terreno comum” para servir à população. “Vamos começar hoje a reconhecer que o estado da nossa união é forte, porque nosso povo é forte”.

Ele então elencou as conquistas de seu governo, sendo muitas vezes aplaudido de pé pela maioria republicana. Trump disse que no ano passado foram criados 2,4 milhões de novos empregos no país e que, “após anos de estagnação, estamos finalmente vendo salários mais altos”. Afirmou que o desemprego entre afro-americanos e hispano-americanos é o mais baixo já registrado.

Também se vangloriou da reforma tributária aprovada pelo Congresso de maioria republicana em dezembro, dizendo que ela trouxe um “tremendo alívio” para a classe média e os pequenos negócios.

“Esse é o nosso novo momento americano. A todos os cidadãos que nos estão assistindo, esse é o seu momento. Se você trabalha duro e acredita em você e na América, você pode ser o que quiser. Juntos, podemos alcançar qualquer coisa”, disse.

“Nesta noite, quero falar sobre que tipo de futuro nós vamos ter, e que tipo de nação vamos ser. Todos nós, juntos, como uma equipe, um povo e uma família americana”, acrescentou.

Infraestrutura

O presidente disse que por muito tempo o país perdeu dinheiro e esteve “submisso” economicamente a outros países, mas que vai trabalhar para “arrumar acordos comerciais ruins e aprovar novos acordos”.

“Nossa nação perdeu riqueza, mas isso vai acabar”, disse.

“Acabamos com a guerra à energia americana e ao bonito e limpo carvão. Somos um exportador muito orgulhoso de energia ao mundo”.

Segundo o presidente, muitas montadoras de automóveis estão transferindo suas plantas de outros países para dentro dos EUA e se expandindo. “São notícias que os americanos não estão acostumados ao ouvir, porque antes as companhias saíam do país, e agora estão voltando”.

Trump afirmou que além de reconstruir indústrias, também é o momento de o país reconstruir sua infraestrutura, e pediu aos congressistas que aprovem um novo plano de infraestrutura que destine investimentos de US$ 1,5 trilhão.

“Estou pedindo aos dois partidos para se unirem para nos dar a infraestrutura segura, rápida, confiável e moderna que a nossa economia precisa e que a nossa população merece”.

"Construiremos novas estradas, pontes, autopistas, ferrovias e vias navegáveis em nossa terra", disse ao Congresso. "E nós faremos isso com o coração americano, as mãos americanas e o empenho americano".

Imigração

Mais uma vez, Trump pediu união entre democratas e republicanos para aprovar uma reforma migratória, e detalhou a proposta que apresentou na semana passada e deve ser votada pelo Congresso nas próximas semanas.

A proposta prevê que 1,8 milhão de imigrantes sem documentos que chegaram aos EUA quando crianças tenham acesso à cidadania americana, que um muro seja construído na fronteira com o México, que o país acabe com a "loteria de vistos" e com a "imigração em cadeia", que ocorre quando um imigrante chega com mais parentes. No momento em que falava sobre o "atual sistema de imigração quebrado", foi vaiado.

Segundo Trump, por décadas as "fronteiras abertas" do país permitiram a proliferação de drogas, armas e gangues, em um fenômeno que levou à "perda de muitas vidas inocentes".

“Hoje estou estendendo uma mão aberta para trabalhar com membros dos dois partidos, democratas e republicanos, para proteger nossos cidadãos, de todo passado, cor, religião e crenças”.

Um acordo entre democratas e republicanos sobre imigração é esperado para até o dia 8 de fevereiro, quando expira o orçamento provisório do governo.

Terrorismo

O combate ao terrorismo e o grupo extremista Estado Islâmico também foi abordado por Trump, que disse que ainda há muito o que fazer para derrotar o grupo.

“No ano passado, eu prometi que iríamos trabalhar duro com os nossos aliados para extinguir o ISIS [Estado Islâmico] da face da Terra. Um ano depois, estou orgulhoso em dizer que a coalizão liberou quase 100% do território uma vez ocupado por esses assassinos no Iraque e na Síria. Mas ainda há muito trabalho a ser feito. Vamos continuar a nossa luta até que o ISIS seja derrotado”.

O presidente disse que os terroristas não são meros criminosos, mas "combatentes inimigos" e, que quando são capturados fora de seu território devem ser tratados como terroristas. Neste momento, Trump anunciou que assinou uma ordem executiva para manter aberta a prisão de Guantánamo, em Cuba, revogando os esforços do ex-presidente Barack Obama para fechá-la.

"Acabo de assinar enquanto entrava aqui uma ordem ao secretário [de Defesa] James Mattis (...) para reexaminar nossa política de detenção militar e para manter abertas as instalações de detenção na Baía de Guantánamo".

Os EUA transformaram a sua base na baía de Guantánamo em uma prisão após os atentados de 11 de setembro de 2001 e enviaram para lá centenas de suspeitos de terrorismo. A administração foi acusada de mantê-los em condições consideradas desumanas por organismos internacionais.

Arsenal nuclear

Trump defendeu um reforço na defesa do país, citando ameaças de países e rivais, como China, Rússia e Coreia do Norte, que "desafiam nossos interesses, nossa economia e nossos valores".

Sobre o regime do líder norte-coreano Kim Jong-un, afirmou que ele apresenta uma ameaça aos EUA e pediu um reforço no arsenal nuclear americano. "A busca irresponsável da Coreia do Norte de possuir mísseis nucleares poderia muito em breve ameaçar a nossa terra", disse.

"Como parte da nossa defesa, precisamos modernizar e reconstruir nosso arsenal nuclear, com a esperança de nunca ter que usá-lo, mas tornando-o tão forte e poderoso que impeça qualquer ato de agressão", afirmou Trump.

"Talvez haverá um momento mágico em que os países do mundo vão se unir para eliminar suas armas nucleares, mas infelizmente não chegamos lá", acrescentou.

Saúde e treinamento profissional

Durante seu discurso, o presidente também mencionou que uma das maiores prioridades de seu governo neste ano no campo da saúde é reduzir o preço de drogas prescritas. "Em muitos outros países, essas drogas custam muito menos do que nós pagamos nos Estados Unidos e isso é muito injusto. Os preços vão baixar, acompanhem". Nesta área, também defendeu que doentes terminais tenham acesso a tratamentos experimentais para tentar salvar suas vidas.

Em um dos raros momentos em que foi aplaudido por democratas, Trump defendeu a criação de novas escolas de treinamento profissional.

"Vamos investir no desenvolvimento da força de trabalho. Vamos abrir grandes escolas vocacionais para que nossos futuros trabalhadores possam aprender um ofício e a entender todo o seu potencial. E vamos apoiar as famílias de trabalhadores ao conceder a licença familiar paga", disse.