FRANÇA
 

Paris - 18 JUL 2020  


As chamas que saíam pela roseta da catedral de Nantes no começo da manhã deste sábado reavivaram os piores temores dos cidadãos desta cidade do oeste da França e de todo um país que ainda tem na retina o devastador incêndio da Notre Dame de Paris, em 15 de abril de 2019. Embora os bombeiros tenham declarado no meio da manhã que o fogo estava “circunscrito” e informado que não era comparável ao que há pouco mais de um ano destruiu boa parte do emblemático templo gótico parisiense, as expressões de comoção das autoridades de todo o país não cessaram. O primeiro-ministro Jean Castex anunciou que viajará a Nantes nas próximas horas com alguns membros de seu Governo. Logo depois das 13h (8h em Brasília), os bombeiros declararam que o incêndio estava controlado.


Segundo o Ministério Público, tudo aponta para um incêndio intencional. “O incêndio começou em três pontos, e isso nos leva a privilegiar a hipótese criminal, isto não foi casualidade”, declarou Pierre Sennes, promotor de Nantes, à rádio regional France Bleu. Segundo a emissora, o Ministério Público abriu uma investigação por “incêndio voluntário”. O promotor acrescentou que os bombeiros e os agentes deveriam poder entrar hoje mesmo na catedral para analisar “as circunstâncias dos fatos”.

Os bombeiros foram alertados por volta das 7h45 (2h45 em Brasília) por transeuntes que viram chamas saindo pela roseta da fachada. Segundo o diretor regional de bombeiros, Laurent Ferlay, seus subordinados se depararam um “incêndio violento na altura do grande órgão”, que aparentemente foi “totalmente destruído”. Além disso, segundo detalhou em declarações à imprensa, a plataforma sobre a qual o instrumento está situado “é muito instável e ameaça ruir”.

 

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Bombeiros na catedral de Nantes.STEPHANE MAHE / REUTERS


Apesar disso, salientou Ferlay, “confirmo que não estamos em um cenário da Notre Dame de Paris ou de 1972”, o ano em que a catedral do Nantes sofreu outro devastador incêndio que destruiu o teto da catedral, cuja parte mais antiga datava do século XV, e causou tanto dano que os serviços religiosos só puderam ser retomados em 1985, 13 anos mais tarde.

Para os cidadãos de Nantes, é impossível não recordar aquele desastre, reconheceu a prefeita da cidade, Johanna Rolland. “Mas neste estágio, e digo com precaução, a situação não parece comparável com a de 1972”, declarou.

Segundo o chefe de bombeiros, as tarefas dos cerca de cem bombeiros mobilizados durarão toda a jornada. Castex viajará a Nantes à tarde (hora local). “Quero saber o que aconteceu, acima de tudo vou manifestar minha solidariedade à população”, declarou o chefe de Governo francês. Castex estará acompanhado de seus ministros do Interior, Gérald Darmanin, e Cultura, Roselyne Bachelot. Ambos manifestaram também sua “grande emoção” com a nova ameaça a uma “joia do patrimônio” nacional, como disse a ministra.

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Imagem da catedral com a zona restrita e os bombeiros trabalhando para extinguir o fogo. STEPHANE MAHE / REUTERS

 


O desastre também provocou a consternação do presidente Emmanuel Macron, que se uniu às mensagens de apoio a Nantes. “Depois do Notre Dame, a catedral de São Pedro e São Paulo, no coração de Nantes, está em chamas. Apoio nossos bombeiros que assumem todos os riscos para salvar esta joia do gótico da cidade dos duques”, disse numa mensagem no Twitter.