AFP - O conflito entre China e Estados Unidos pelo domínio econômico e tecnológico e a crescente tensão com o Irã podem dominar a reunião de cúpula do G20, que acontecerá na sexta-feira (28) e sábado na cidade japonesa de Osaka.  

Entre os chefes de Estado e de Governo que representam quase 85% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, a dupla formada por Donald Trump e Xi Jinping concentrará todas as atenções, como aconteceu no encontro anterior do G20, ano passado em Buenos Aires.  

Em um momento no qual Washington acumula tarifas sobre as importações chinesas e ameaça impor taxas a todos os produtos do país asiático em breve, os presidentes americano e chinês concordaram em retomar as negociações em Osaka.  

A disputa, acompanhada de sanções americanas a grandes empresas chinesas como a Huawei, pode provocar o descarrilamento do crescimento mundial.  Resta saber se a China está disposta a fazer algum gesto, especialmente no que diz respeito à tecnologia, e se Trump abandonará a retórica bélica em seu discurso econômico, no momento em que inicia a campanha pela reeleição em 2020.  

Matthew Goodman, do Center for Strategic and International Studies de Washington, destaca três resultados possíveis em Osaka.  O primeiro seria a assinatura de um acordo, algo improvável mas não impossível por parte de Donald Trump, magnata do setor imobiliário que "gosta de acordos", ainda mais com uma grande cobertura da imprensa.  

A segunda possibilidade seria um fiasco, que poderia chegar ao ponto do cancelamento do encontro bilateral. E o terceiro resultado imaginado, "o mais provável", é uma "trégua" como a estabelecida na reunião do G20 de Buenos Aires e que não durou muito.  

Para Alice Ekman, diretora do departamento da China no Instituto Francês de Relações Internacionais, "a tensão é tamanha que, mesmo que um acordo seja alcançado, e é impossível saber no momento, este deixará uma marca".  "Além do enfoque olho por olho, dente por dente, no lado chinês há uma vontade de propor uma oferta alternativa (de globalização) sobretudo tecnológica, e que esta oferta se converta em uma referência".  

A vontade de afirmação chinesa supera em muito o âmbito econômico. Desta maneira, Pequim já anunciou que não permitirá nenhuma discussão durante o G20 sobre as enormes manifestações das últimas semanas em Hong Kong.  Xi Jinping acaba de fazer uma visita à Coreia do Norte, uma viagem triunfal e ostensivamente cordial, no momento em que as negociações entre Donald Trump e Kim Jong Un parecem estagnadas, apesar das "excelentes" e "magníficas" cartas que ambos dizem ter trocado. 

O presidente americano afirmou na segunda-feira que recebeu uma mensagem de Pyongyang por ocasião de seu aniversário.  O confronto bilateral também resvala para o Irã, objeto de uma crise internacional que provoca grande tensão atualmente.  

A China, um dos principais países importadores do petróleo iraniano, está aliada com Teerã frente aos Estados Unidos. União Europeia (UE) e Rússia pedem respeito ao acordo sobre o programa nuclear iraniano de 2015, do qual Donald Trump não deseja nem ouvir falar e sobre o qual o Irã deixará de cumprir alguns compromissos.  

O Japão, anfitrião do G20, tentou atuar como mediador entre Irã e Estados Unidos, sem sucesso.  Os europeus, que enfrentam uma complicada negociação para os postos chaves de suas instituições e que também são alvos de tarifas comerciais americanas, podem ter um peso verdadeiro em um conflito que não para de aumentar, com ataques a petroleiros, um drone abatido e ataques americanos cancelados no último momento?  Washington anunciou na segunda-feira sanções financeiras contra as principais autoridades do Irã, incluindo o guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei.  

A estratégia de pressão de Trump sobre Teerã agrada à Arábia Saudita, grande rival regional do Irã e membro do G20.  O cenário, no entanto, desagrada a Moscou. O presidente russo Vladimir Putin terá a oportunidade de conversar sobre a questão com Trump em Osaka, em uma reunião bilateral.  

Para os países latino-americanos, a agenda estará marcada pelas questões de imigração e sobretudo econômicas, com os avanços nas negociações do tratado comercial entre União Europeia e Mercosul.  A situação na Venezuela também deve ser abordada durante a reunião de cúpula.