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Avignon, França – Com medidas restritas para viajantes brasileiros há quase um ano, a União Europeia começa a se fechar definitivamente para o país. Relações até então amistosas foram postas de lado para elevar a maior nação da América Latina ao posto de “persona non grata”. Numa Europa em pleno combate da terceira onda do novo coronavírus, o Brasil se tornou um de seus maiores pesadelos. Com o número de mortos beirando os 360 mil, uma situação epidemiológica fora de controle e uma vacinação que suscita questionamentos mundo afora, fronteiras se fecham uma após a outra. Cientistas franceses levantam verdadeira campanha por medidas rigorosas por medo de a variante P1, dominante no país verde e amarelo, jogar por terra os esforços de vacinação no velho continente e causar uma quarta onda da doença na pátria da Torre Eiffel.
O primeiro a cortar voos com o Brasil foi Portugal que, na semana passada, saiu de um confinamento de 11 semanas. Os voos estão suspensos até amanhã, mas a expectativa é de que a medida seja renovada. Só podem ganhar terras lusitanas, em voos de repatriação, “portugueses ou cidadãos estrangeiros residentes em Portugal que manifestaram, junto dos postos consulares portugueses no Brasil, necessidade de regresso imediato a território nacional”, informa comunicado da embaixada no Brasil.
Ontem, foi a vez de o primeiro-ministro francês, Jean Castex, anunciar na Assembleia Nacional (a Câmara dos Deputados): “Constatamos que a situação se agrava (no Brasil) e decidimos suspender até nova ordem todos os voos entre o Brasil e a França”. O último voo, da Air France saiu ontem do Rio de Janeiro com destino a Paris. Os dois aeroportos da capital francesa estão operando em apenas dois terminais, com número restrito de companhias aéreas – a Latam, por exemplo, já não figurava nos painéis de bordo.
As medidas haviam sido endurecidas no sábado. Viajantes que chegavam ao Aeroporto Charles de Gaule vindos do Brasil eram separados dos demais passageiros para um teste obrigatório. Na Itália, decreto do dia 6 do mês passado proibiu a entrada no país de pessoas que tenham permanecido ou transitado no Brasil nos 14 dias anteriores à viagem.
''Se não limitarmos a chegada de viajantes do Brasil e também outros países, dentro de algumas semanas ou meses poderemos ter uma quarta onda''
Rémi Salomon, Presidente da Comissão Médica de Estabelecimento da Assistência Pública - Hospitais de Paris (AP-HP)
Na França, cuja população enfrenta seu terceiro confinamento, a situação do Brasil é destaque cotidianamente na imprensa. Considerada uma catástrofe, as matérias tentam explicar as razões da média de 3 mil mortes diárias. A variante P1, que em três meses se alastrou mundo afora, é a grande preocupação, sobretudo diante da incógnita sobre a eficácia da vacina Coronavac, desenvolvida na China pelo laboratório Sinovac.
As dúvidas sobre as vacinas chinesas – incluindo as desenvolvidas pela estatal Sinopharm – ganham força diante das últimas afirmações vindas do país oriental confirmando eficácia na faixa dos 50%. Sábado, pronunciamento do diretor do Centro Chinês de Controle e de Prevenção de Doenças, Gao Fu, aumentou ainda mais as especulações sobre a necessidade de dose suplementar ou mistura da vacina. “É preciso encontrar solução para as vacinas que não têm taxa de proteção tão elevada”, disse.
Na França, o “lançador de alerta” é o médico Rémi Salomon, Presidente da Comissão Médica de Estabelecimento da Assistência Pública – Hospitais de Paris (AP-HP), uma rede de 39 hospitais que formam o centro hospitalar universitário de Paris e região e acolhe anualmente mais de 10 milhões de pacientes. Nos últimos dias, seus posts no Twitter sobre o assunto tiveram milhares de curtidas e ultrapassaram a casa dos 365 mil views. Neles, ele evoca a P1 no Brasil e seu crescimento exponencial na Colômba Britânica (província no Canadá) e pede medidas drásticas não apenas para o Brasil, como para outros países onde a situação é grave, caso do Chile e da Índia.
“A contagiosidade da P1 é muito ligada à falta de medidas e muitas situações que favorizam a circulação, mas, aparentemente, o vírus por si só é mais contagioso, mais que a variante britânica e a cepa original”, afirma. “Essa e outras mutações parecem ter resistência a anticorpos: os naturais não são resistentes para proteger e os adquiridos com a vacina protegem menos também. Ainda são dados de laboratório, não o temos no conjunto da população”, adverte.
O professor Salomon lembra que uma circulação tão ativa facilita a circulação de mutações. Embora na França a P1 represente menos de 1% dos casos, segundo o Ministério da Saúde, a ordem é bloquear qualquer possibilidade. “Se não limitarmos a chegada de viajantes do Brasil e também outros países, dentro de algumas semanas ou meses poderemos ter uma quarta onda”, avisa.
Movimento só em caso urgente
Até a suspensão dos voos, brasileiros só podem entrar na França por motivo considerado “imperioso”. Têm direito de ganhar o país franceses ou estrangeiros com residência fixa. O inverso também valia: deixar o país com destino ao Brasil, apenas com justificativa de razão urgente. “Fazer teste antes da viagem não é suficiente. Se a pessoa jantar com amigos no Rio de Janeiro antes de embarcar e se contaminar, o teste dela dará negativo. Só aparecerá como positivo dentro de cinco e seis dias”, ressalta o médico Rémi Salomon.
Assim como outros pesquisadores, ele defende quarentena a quem chega de voos brasileiros – uma quarentena forçada, a exemplo do que faz a Inglaterra, cujos passageiros de países da lista vermelha (incluindo o Brasil), saem do aeroporto direto para um dos hotéis escolhidos pelo governo. A multa para quem desobedece ou escapa ao controle é de 10 mil libras (cerca de R$ 78 mil). Para os cientistas, a suspensão de voos não é suficiente, uma vez que as conexões ainda estão ativas.
“O primeiro caso de P1 constatado na França, em 4 de fevereiro, é de uma pessoa que saiu de Manaus, passou por São Paulo, desembarcou em Frankfurt (na Alemanha) e pegou um voo para Marselha”, relata Salomon. “Alguns dirão que é atentado à liberdade, mas diante da necessidade de medidas excepcionais, ela se justifica.” O grupo de cientistas cobra ainda uma medida comum, como o fechamento de fronteiras, em toda a União Europeia, além de uma coordenação mundial em função de variante presente em cada país.
Vacina da J&J é suspensa nos EUA
As campanhas de vacinação ao redor do mundo sofreram um novo revés ontem. Nos Estados Unidos e na África do Sul foi suspensa a aplicação do imunizante contra a COVID-19 da Johnson & Johnson após o aparecimento de um tipo raro de coágulo sanguíneo, o que também atrasará sua distribuição na Europa. No entanto, o laboratório americano Pfizer disse que “acelerou a produção” da sua vacina contra a COVID e poderá abastecer os Estados Unidos com um excedente de 10% das doses previstas até o fim de maio. As principais autoridades sanitárias americanas recomendaram “por precaução” fazer uma “pausa” no uso da vacina da Johnson & Johnson, a única de uma só dose autorizada e da qual os Estados Unidos já aplicaram 6,8 milhões de injeções.
A agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos (FDA) está investigando seis casos de mulheres que desenvolveram graves coágulos sanguíneos após terem recebido a vacina. Um caso foi fatal e uma paciente se encontra em estado crítico. Mas, segundo a Casa Branca, isto “não terá um impacto significativo no plano de vacinação, já que a vacina da Johnson & Johnson representa menos de 5% das aplicações nos Estados Unidos até agora”. O presidente Joe Biden assegurou que “há vacinas suficientes para todos os americanos. Isso é absolutamente indiscutível”.
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O primeiro a cortar voos com o Brasil foi Portugal que, na semana passada, saiu de um confinamento de 11 semanas. Os voos estão suspensos até amanhã, mas a expectativa é de que a medida seja renovada. Só podem ganhar terras lusitanas, em voos de repatriação, “portugueses ou cidadãos estrangeiros residentes em Portugal que manifestaram, junto dos postos consulares portugueses no Brasil, necessidade de regresso imediato a território nacional”, informa comunicado da embaixada no Brasil.
Ontem, foi a vez de o primeiro-ministro francês, Jean Castex, anunciar na Assembleia Nacional (a Câmara dos Deputados): “Constatamos que a situação se agrava (no Brasil) e decidimos suspender até nova ordem todos os voos entre o Brasil e a França”. O último voo, da Air France saiu ontem do Rio de Janeiro com destino a Paris. Os dois aeroportos da capital francesa estão operando em apenas dois terminais, com número restrito de companhias aéreas – a Latam, por exemplo, já não figurava nos painéis de bordo.
As medidas haviam sido endurecidas no sábado. Viajantes que chegavam ao Aeroporto Charles de Gaule vindos do Brasil eram separados dos demais passageiros para um teste obrigatório. Na Itália, decreto do dia 6 do mês passado proibiu a entrada no país de pessoas que tenham permanecido ou transitado no Brasil nos 14 dias anteriores à viagem.
''Se não limitarmos a chegada de viajantes do Brasil e também outros países, dentro de algumas semanas ou meses poderemos ter uma quarta onda''
Rémi Salomon, Presidente da Comissão Médica de Estabelecimento da Assistência Pública - Hospitais de Paris (AP-HP)
Na França, cuja população enfrenta seu terceiro confinamento, a situação do Brasil é destaque cotidianamente na imprensa. Considerada uma catástrofe, as matérias tentam explicar as razões da média de 3 mil mortes diárias. A variante P1, que em três meses se alastrou mundo afora, é a grande preocupação, sobretudo diante da incógnita sobre a eficácia da vacina Coronavac, desenvolvida na China pelo laboratório Sinovac.
As dúvidas sobre as vacinas chinesas – incluindo as desenvolvidas pela estatal Sinopharm – ganham força diante das últimas afirmações vindas do país oriental confirmando eficácia na faixa dos 50%. Sábado, pronunciamento do diretor do Centro Chinês de Controle e de Prevenção de Doenças, Gao Fu, aumentou ainda mais as especulações sobre a necessidade de dose suplementar ou mistura da vacina. “É preciso encontrar solução para as vacinas que não têm taxa de proteção tão elevada”, disse.
Na França, o “lançador de alerta” é o médico Rémi Salomon, Presidente da Comissão Médica de Estabelecimento da Assistência Pública – Hospitais de Paris (AP-HP), uma rede de 39 hospitais que formam o centro hospitalar universitário de Paris e região e acolhe anualmente mais de 10 milhões de pacientes. Nos últimos dias, seus posts no Twitter sobre o assunto tiveram milhares de curtidas e ultrapassaram a casa dos 365 mil views. Neles, ele evoca a P1 no Brasil e seu crescimento exponencial na Colômba Britânica (província no Canadá) e pede medidas drásticas não apenas para o Brasil, como para outros países onde a situação é grave, caso do Chile e da Índia.
“A contagiosidade da P1 é muito ligada à falta de medidas e muitas situações que favorizam a circulação, mas, aparentemente, o vírus por si só é mais contagioso, mais que a variante britânica e a cepa original”, afirma. “Essa e outras mutações parecem ter resistência a anticorpos: os naturais não são resistentes para proteger e os adquiridos com a vacina protegem menos também. Ainda são dados de laboratório, não o temos no conjunto da população”, adverte.
O professor Salomon lembra que uma circulação tão ativa facilita a circulação de mutações. Embora na França a P1 represente menos de 1% dos casos, segundo o Ministério da Saúde, a ordem é bloquear qualquer possibilidade. “Se não limitarmos a chegada de viajantes do Brasil e também outros países, dentro de algumas semanas ou meses poderemos ter uma quarta onda”, avisa.
Movimento só em caso urgente
Até a suspensão dos voos, brasileiros só podem entrar na França por motivo considerado “imperioso”. Têm direito de ganhar o país franceses ou estrangeiros com residência fixa. O inverso também valia: deixar o país com destino ao Brasil, apenas com justificativa de razão urgente. “Fazer teste antes da viagem não é suficiente. Se a pessoa jantar com amigos no Rio de Janeiro antes de embarcar e se contaminar, o teste dela dará negativo. Só aparecerá como positivo dentro de cinco e seis dias”, ressalta o médico Rémi Salomon.
Assim como outros pesquisadores, ele defende quarentena a quem chega de voos brasileiros – uma quarentena forçada, a exemplo do que faz a Inglaterra, cujos passageiros de países da lista vermelha (incluindo o Brasil), saem do aeroporto direto para um dos hotéis escolhidos pelo governo. A multa para quem desobedece ou escapa ao controle é de 10 mil libras (cerca de R$ 78 mil). Para os cientistas, a suspensão de voos não é suficiente, uma vez que as conexões ainda estão ativas.
“O primeiro caso de P1 constatado na França, em 4 de fevereiro, é de uma pessoa que saiu de Manaus, passou por São Paulo, desembarcou em Frankfurt (na Alemanha) e pegou um voo para Marselha”, relata Salomon. “Alguns dirão que é atentado à liberdade, mas diante da necessidade de medidas excepcionais, ela se justifica.” O grupo de cientistas cobra ainda uma medida comum, como o fechamento de fronteiras, em toda a União Europeia, além de uma coordenação mundial em função de variante presente em cada país.
Vacina da J&J é suspensa nos EUA
As campanhas de vacinação ao redor do mundo sofreram um novo revés ontem. Nos Estados Unidos e na África do Sul foi suspensa a aplicação do imunizante contra a COVID-19 da Johnson & Johnson após o aparecimento de um tipo raro de coágulo sanguíneo, o que também atrasará sua distribuição na Europa. No entanto, o laboratório americano Pfizer disse que “acelerou a produção” da sua vacina contra a COVID e poderá abastecer os Estados Unidos com um excedente de 10% das doses previstas até o fim de maio. As principais autoridades sanitárias americanas recomendaram “por precaução” fazer uma “pausa” no uso da vacina da Johnson & Johnson, a única de uma só dose autorizada e da qual os Estados Unidos já aplicaram 6,8 milhões de injeções.
A agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos (FDA) está investigando seis casos de mulheres que desenvolveram graves coágulos sanguíneos após terem recebido a vacina. Um caso foi fatal e uma paciente se encontra em estado crítico. Mas, segundo a Casa Branca, isto “não terá um impacto significativo no plano de vacinação, já que a vacina da Johnson & Johnson representa menos de 5% das aplicações nos Estados Unidos até agora”. O presidente Joe Biden assegurou que “há vacinas suficientes para todos os americanos. Isso é absolutamente indiscutível”.