Um medicamento demonstrou pela primeira vez que melhora a sobrevida em pacientes com COVID-19: barato e de fácil acesso, o corticoide dexametasona reduz a mortalidade nos pacientes mais graves, de acordo com pesquisadores britânicos. 

"A dexametasona reduz as mortes em um terço em pacientes sob ventilação artificial", disseram em um comunicado os responsáveis pelo grande ensaio clínico Recovery.

Segundo eles, "para cada grupo de oito pacientes submetidos à ventilação artificial, uma morte foi evitada", graças a este corticoide.

Pouco depois do anúncio, o governo britânico disse que o tratamento será usado imediatamente para tratar os pacientes afetados.

"A dexametasona é barata, já está no mercado e pode ser usada imediatamente para salvar vidas em todo mundo", disse um dos responsáveis pelo Recovery, professor Peter Horby, da Universidade de Oxford.

"O benefício em termos de sobrevivência é significativo em pacientes doentes o suficiente para precisarem de oxigênio, para os quais a dexametasona agora deve se tornar o tratamento básico", afirmou.

Em um vídeo postado em sua conta no Twitter, o ministro da Saúde, Matt Hancock, disse que o Reino Unido tem 200.000 tratamentos prontos para uso armazenados desde março.

Este medicamento já é usado em muitas indicações por seus poderosos efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores.

"Este é um grande passo na busca de novas maneiras de tratar pacientes com COVID", declarou o professor Stephen Powis, diretor médico do NHS, o serviço público de saúde britânico.

De fato, como apontado pelos responsáveis do Recovery, "a dexametasona é o primeiro medicamento observado que melhora a sobrevida em caso de COVID-19".

Um medicamento de outra família, o antiviral remdesivir, demonstrou alguma eficácia em acelerar a recuperação de pacientes hospitalizados com COVID-19. O anúncio foi feito oficialmente no final de abril pelas autoridades americanas.

No entanto, o remdesivir não conseguiu provar que evitava mortes.

Combinação

Nesta fase, apesar de uma infinidade de pistas, nenhum outro tratamento teve resultados convincentes.

No início de junho, o mesmo ensaio Recovery concluiu que a hidroxicloroquina, sobre a qual alguns países têm grandes esperanças, não tinha efeito benéfico contra a COVID-19.

Essa descoberta levou as autoridades de saúde americanas a retirarem na segunda-feira a autorização emergencial de uso da hidroxicloroquina contra a COVID-19, bem como um medicamento intimamente relacionado, a cloroquina, que já fora defendida pelo presidente Donald Trump.

Por fim, o grupo hospitalar parisiense AP-HP havia garantido no final de abril que outro medicamento, o tocilizumabe, reduzia "significativamente" o risco de morte, ou de entrar em terapia intensiva, em pacientes com COVID-19 em estado grave. Essas alegações ainda não foram, porém, apoiadas por números, ou pela publicação de um estudo.

Muitos especialistas acreditam que a chave para o tratamento da COVID-19 não será um único medicamento, mas uma combinação de vários.

Talvez uma das soluções possa consistir em "combinar baixas doses de dexametasona com outras drogas que atuam na inflamação, ou com terapias direcionadas ao vírus, como o remdesivir", explicou nesta terça-feira Stephen Griffin, da Universidade de Leeds.

No estudo Recovery, 2.104 pacientes receberam dexametasona (oral ou intravenosa) por dez dias, na dose de 6 mg por dia.

Comparados a 4.321 outros pacientes que não o receberam, os pesquisadores determinaram que o tratamento reduziu a mortalidade em um terço nos pacientes submetidos à ventilação artificial.

Além disso, a mortalidade foi reduzida em um quinto em pacientes menos graves que receberam oxigênio através de uma máscara, sem intubação.

O tratamento não mostrou nenhum benefício, porém, para pacientes que não precisaram de assistência respiratória.

Esses resultados ainda não foram publicados na forma de um estudo detalhado, mas foram assunto de um comunicado de imprensa do Recovery.

Após a avaliação da hidroxicloroquina, é a segunda vez que esse importante ensaio clínico permite chegar a uma conclusão importante sobre a COVID-19. No total, mais de 11.500 pacientes de 175 hospitais do Reino Unido estão participando deste estudo, que avalia vários tratamentos.