SÃO PAULO, SP (OFLHPARESS) - Ante uma renovada série de testes de mísseis e ameaças explícitas feitas pela Coreia do Norte, o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, pediu aos Estados Unidos para participar de exercícios de emprego de armas nucleares como forma de conter a ditadura de Kim Jong-un.

 "As armas nucleares pertencem aos EUA, mas o planejamento, compartilhamento de informação e exercícios devem ser conduzidos de forma conjunta com a Coreia do Sul", afirmou em entrevista ao jornal Chosu Ilbo.

Segundo Yoon, Washington viu a proposta, que chamou de dissuasão estendida, de forma "bem positiva". A Coreia do Sul abriga o terceiro maior contingente de forças americanas fora dos EUA, 26,5 mil soldados, herança do apoio dado a Seul na guerra disputada com o Norte comunista, de 1950 a 1953.

Entre 1958 e 1991, os EUA mantiveram armas nucleares táticas no país aliado, mas as retiraram como parte dos esforços de redução de risco global após o fim da Guerra Fria. Em 2006, Pyongyang conduziu o primeiro de seus seis testes nucleares, montando um arsenal estimado talvez 45 ogivas.

Em 2017, após dois testes no ano anterior, explodiu uma bomba de hidrogênio, mais potente, e lançou uma série de novos mísseis, levando o governo de Donald Trump a aceitar negociar diretamente termos para levantar sanções impostas ao país.

Trump e Kim se encontraram duas vezes, mas as conversas descarrilaram. Em 2022, com os olhos do mundo na Guerra da Ucrânia, Kim voltou a aumentar o ritmo de lançamentos ameaçadores, inclusive de armas com alcance intercontinental.

Alarmado, o Japão incluiu a ameaça na justificativa para dobrar seu orçamento militar, que visa obviamente conter o maior aliado de Kim, a China. Na véspera do ano novo, foram lançados mais projeteis balísticos, assim como no domingo (1º), quando o ditador norte-coreano fez um discurso no qual chamou o Sul de "inimigo indiscutível" e anunciou querer aumentar "exponencialmente" seu arsenal atômico.

Na semana passada, Seul teve de enviar caças para interceptar drones norte-coreanos que ameaçaram violar seu espaço aéreo. No sábado (31), Kim apresentou uma série de grandes lançadores de foguetes de 600 mm, capazes de disparar projeteis nucleares táticos sobre boa parte do território ao sul.

 A pressão levou à reação sul-coreana. Nos meios políticos, o reposicionamento de armas americanas em seu território e mesmo do desenvolvimento próprio da bomba estão na ordem do dia, e o anúncio de Yoon vai de encontro a isso.

A questão é que, por mais que a Guerra Fria 2.0 esteja em pleno vapor, Washington não vê razão para escalar a situação no entorno estratégico da China com um movimento desses, ainda mais quando o líder Xi Jinping tem buscado acomodação. A Coreia do Sul, rival histórica do Japão, não faz parte do Quad -aliança entre americanos, japoneses, indianos e australianos que visa conter a China.

Na Coreia do Norte, a movimentação foi seguida de uma mexida na cúpula da defesa do país. O número 2 da estrutura bélica do país, Pak Jong Chon, foi substituído por Ri Yong Gil na reunião de fim de ano da Comissão Militar Central.

O anúncio foi feito nesta segunda (2) pela mídia estatal, naturalmente com a opacidade usual acerca de motivos. Também caíram o ministro da Defesa e o chefe do Estado-Maior do Exército, o que pode ser uma rotação normal em um regime dado a evitar o fortalecimento de rivais internos, ou a sinalização de alguma mudança de postura regional –mais agressiva, dada a fala de Kim no sábado.

Pak é um general de carreira meteórica, cujo trabalho no programa de mísseis norte-coreano o levou ao título de marechal e a participar do Politburo, o coração político do regime. Agora, parece que caiu em desgraça.

Ainda na região, o crescentemente alarmado Japão anunciou ter enviado caças para interceptar voos de drone de reconhecimento chinês WZ-7 perto da ilha de Miyako-jima, próxima a Taiwan, que Pequim considera sua. Os incidentes ocorreram no domingo e nesta segunda, segundo o Ministério da Defesa.

Em uma nota, a pasta afirmou que despachou aeronaves de combate e navios para monitorar um exercício do porta-aviões chinês Liaoning, acompanhado por cinco embarcações, no Pacífico. Foi a primeira operação japonesa do tipo após o anúncio de uma nova política de defesa, mais assertiva e que prevê maior gasto militar.