A Avon Products incluiu a China em seu programa de não utilização de animais em testes e a partir deste mês passou a ser a primeira empresa global de beleza a banir este tipo de procedimento em todas as suas marcas e mercados. 
 
 
A companhia americana, que teve seu controle adquirido pela brasileira Natura & Co em maio, já não testava suas fórmulas em animais há 30 anos. Para garantir a segurança dos produtos, a multinacional utiliza, por exemplo, a aplicação de dados existentes, modelagem computacional e testes in vitro.
 
A China era exceção por conta de regras locais. No mercado chinês, o uso de animais em testes é apontado pelo governo como obrigatório para algumas categorias de produtos — por exemplo, protetores solares e desodorantes. Para colocar a decisão em operação, a empresa teve de articular diferentes setores, como pesquisa e desenvolvimento, suprimentos, marrketing e comunicação.
 
Como a China não alterou suas regras, a Avon decidiu fazer algumas adaptações para continuar no país. A fabricante de produtos de beleza adotou reformulações nas linhas de produtos e vai abrir novos canais de e-commerce que dispensaram o cumprimento dos requisitos legais para testes em animais.
 
Antes da decisão, a Avon já vinha trabalhando em parceria com organizações científicas chinesas na tentativa de desenvolver alternativas que garantissem a análise de segurança do produto sem o uso de animais. Em seu site, a companhia explicou a razão de não ter abandonado um mercado que tem regras contrárias ao que a empresa pratica em outros países. A empresa diz que está comprometida em atender às necessidades dos clientes no país asiático — um mercado importante para a fabricante — e em expandir seus negócios e o de mulheres que trabalham como revendedoras. 
 
Por meio de comunicado, Jonathan Myers, diretor de Operações da Avon, explicou a decisão. “Como uma empresa global de beleza, é extremamente importante para nós poder continuar a construir nossos negócios na China. Nosso objetivo é fornecer produtos para atender às necessidades de nossos clientes sem comprometer nosso compromisso com o bem-estar animal, nossos altos padrões de segurança de produtos ou nossa aderência aos requisitos regulamentares.” Ainda segundo o executivo, a empresa vem investindo “em como desenvolver novas inovações para a China e, em alguns casos, alterando os canais de distribuição, somos capazes de oferecer essa mudança marcante. Globalmente, nenhum dos produtos da Avon será testado em animais.”
 
Uma das declarações de Myers deixa implícito que, apesar da decisão, a empresa pretende continuar a argumentar junto aos órgãos reguladores chineses a respeito da necessidade de serem adotadas alternativas nessa área.“Não acreditamos que testes em animais sejam necessários para comprovar a segurança do produto e não testamos produtos em animais em nenhuma parte do mundo. Continuaremos a pressionar por uma maior aceitação de alternativas”, afirmou o executivo.
 
Para a Peta, ONG internacional que atua na defesa dos animais, o anúncio da Avon é classificado como “trabalhando pela mudança regulamentar”, por isso a fabricante de produtos de beleza não aparece nem na lista daquelas que não fazem mais os testes em animais, nem na relação das que ainda usam esse recurso.
 
“A Peta celebra o compromisso de longo prazo da Avon em encerrar todos os testes cosméticos em animais em todo o mundo, e sabemos que milhões de consumidores também o farão. O suporte da Avon a (outros) métodos de testes fez uma diferença significativa no desenvolvimento, na utilização e na aceitação de alternativas”, declarou Kathy Guillermo, vice-presidente sênior.
 
Receita 
Com operações em cerca de 50 países, hoje, a Avon tem uma receita anual ao redor de US$ 6 bilhões e é uma das maiores empresas de venda direta do mundo. Em maio, seu controle foi vendido à Natura & Co por aproximadamente US$ 3,7 bilhões, criando um grupo avaliado em US$ 11 bilhões. No Brasil, o negócio já teve o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ligado ao Ministério da Justiça. A maior subsidiária da Avon é a brasileira.
 
José Vicente Marino, presidente da operação brasileira da Avon desde setembro do ano passado e com passagem por Natura, Johnson e Alpargatas,  lembra que a companhia vem trabalhando há décadas junto a parceiros como o Instituto para Ciências In Vitro, Frame e a Humane Society International na busca de alternativas aos testes em animais. “Estamos confiantes de que esse avanço apoiará nossos esforços para atender às expectativas de nossos clientes e revendedoras em todo o mundo.”
 
Além de abandonar o teste em animais, a empresa busca formas de incorporar mais ingredientes vegetais, naturais e sintéticos em suas fórmulas. A linha Distillery, lançada recentemente em alguns mercados, como o americano e europeu, conta com produtos veganos, feitos com concentrados obtidos por meio de um processo de destilaria.
 
Brasil tem novas regras
No Brasil, está em vigor desde setembro passado a Resolução Normativa 18 do Conselho Nacional de Experimentação Animal (Concea), que determina a diminuição ou a substituição do uso de animais por métodos alternativos em 17 tipos de testes e experimentos. A norma tem de ser seguida tanto por empresas quanto por instituições de pesquisa, tanto públicas quanto privadas.
 
O Consea é responsável por estabelecer regras para o uso humanitário de animais tanto no ensino quanto na pesquisa científica. A norma, aprovada em 2014, previa cinco anos para adequação. Segundo o conselho, as atuais metodologias têm a aceitação regulatória internacional. Para o órgão, a mudança permite garantir a “reprodutibilidade e a confiabilidade do resultado dos testes, além do bem-estar dos animais”.O descumprimento da resolução prevê de multas (incluindo os pesquisadores) ao fechamento do setor responsável pelo experimento até que seja feita a adequação. A nova regra muda o uso de animais em testes de segurança exigidos para produtos como brinquedos, medicamentos, cosméticos e material escolar.
 
Um exemplo dado pelo Concea é o do teste de irritabilidade (teste de Draize), em que se injeta a substância testada no olho de um coelho. Outras tecnologias foram desenvolvidas e hoje é possível fazer o mesmo trabalho com os olhos de bovinos e aves que vêm de abatedouros.
 
Natura & Co na bolsa
Na quarta-feira (18), a Natura & Co Holding S.A., controladora da Natura, The Body Shop e Aesop, anunciou o início da negociação de suas ações (NTCO3) na B3, no segmento Novo Mercado. A decisão faz parte da reestruturação corporativa da empresa, que inclui a aquisição da Avon Products, Inc. O negócio vai criar o quarto maior grupo global do setor de beleza.
 
A partir de agora, os acionistas que detinham os papéis da Natura Cosméticos (NATU3 – B3) passam a ser donos de ações da Natura & Co Holding, na proporção de um para um. A Natura & Co passará a ser a acionista controladora da Avon após a conclusão da transação, prevista para o primeiro trimestre de 2020.
 
No acordo, a Natura & Co vai controlar a Avon em uma operação de troca de ações. Os acionistas vão ficar com, aproximadamente, 76% da companhia combinada. Já os donos dos papéis da Avon ficarão com os cerca de 24% restantes. Assim que o negócio for concluído, a Natura & Co terá ainda seus American Depositary Receipts (ADRs) listados na Bolsa de Valores de Nova York (NTCO).