Sputnik - A China tem contatado com países do sudeste asiático após os EUA, a Austrália e o Reino Unido, anunciarem a criação de um pacto de segurança trilateral, chamado de AUKUS, com o objetivo de conter a influência de Pequim na região.

Liu Jinsong, diretor-geral do departamento de assuntos asiáticos do Ministério das Relações Exteriores chinês, participou de várias reuniões com os embaixadores das Filipinas, de Cingapura, da Tailândia, da Malásia e da Indonésia em Pequim, nos últimos dias, para discutir sobre a nova aliança promovida pelos Estados Unidos, informa o South China Morning Post.

Durante essas reuniões, Liu teria denunciado o AUKUS como resultado de "cliques motivados por questões raciais e geopolíticas", acrescentando de igual modo que a Austrália "sempre esteve buscando amigos no Ocidente em vez de no Oriente".   

Sob a nova aliança, a Austrália poderia adquirir tecnologia submarina movida a energia nuclear dos EUA, de modo a construir uma frota que poderia ser enviada para o mar do Sul da China ou para o estreito de Taiwan. 

Porém, a criação deste novo pacto marca uma importante mudança estratégica em relação à Austrália, que há muito tenta equilibrar seus laços de segurança com os EUA e suas relações econômicas com o gigante asiático. 

Até agora, as reações ao AUKUS têm sido bastante polarizadas no sudeste da Ásia, uma área que tem sido um dos principais palcos de competição entre Pequim e Washington.


Entre os dez membros da ASEAN (sigla inglesa da Associação de Nações do Sudeste Asiático), Cingapura e as Filipinas reagiram positivamente ao acordo de segurança trilateral, enquanto que a Indonésia e a Malásia expressaram preocupações sobre uma possível corrida armamentista na região. 

O Vietnã, que tem sido o Estado mais crítico ante as reivindicações de Pequim no mar do Sul da China, se mostra cauteloso, dizendo preferir manter o controle da situação e, ao mesmo tempo, exortar todos os países a garantir a "paz, estabilidade, cooperação e desenvolvimento" na área.

Outros membros da ASEAN, incluindo a Tailândia, Brunei, o Camboja, Laos e Mianmar, ainda não revelaram suas posições sobre o assunto.
 
Ivy Kwek, diretora de pesquisa do think tank com sede na Malásia Pesquisa para o Progresso Social, acredita que "a China pode aproveitar esta oportunidade para dissipar os receios de que possa retaliar contra qualquer um dos três países [do AUKUS] ou países que demonstrem seu apoio ao pacto de defesa, e afirmar seu compromisso com a paz e estabilidade da região [...] É inegável que o AUKUS foi motivado pelo aumento do poder militar e da assertividade da China, portanto seria sensato que a China não fizesse nada precipitado que pudesse ser entendido como uma confirmação para essa narrativa", citada pelo South China Morning Post.

Por sua vez, Aaron Rabena, membro do grupo de pesquisa Caminhos para o Progresso na (região da) Ásia-Pacífico, em Manila, nas Filipinas, apontou que Pequim pode usar seu poder econômico para garantir que seus vizinhos do sudeste asiático não seguem o exemplo da Austrália. 

"Seria do melhor interesse da China garantir que os países regionais não tomassem partidos, mesmo que apenas como expressão de apoio político, pois o apoio político poderia, eventualmente, levar a uma cooperação política e estratégica", explicou o especialista, citado na matéria.