SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESSS) - O perfil oficial da Casa Branca no Twitter expôs perdões das dívidas concedidos a congressistas do Partido Republicano que criticaram o novo programa de perdão de dívida estudantil do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciado esta semana.
 
A iniciativa, uma promessa de campanha do democrata, é considerada histórica e trará alívio para milhões de estudantes universitários que contraíram dívidas com o governo federal para custear seus estudos.

Biden propôs a eliminação de US$ 10 mil em dívidas de empréstimos para pessoas com renda anual abaixo de US$ 125 mil (em torno de R$ 630 mil), ou para famílias com rendimento de menos de US$ 250 mil por ano.


A oposição diz que a medida é injusta com estudantes que pagaram os seus estudos integralmente e também com aqueles que não acessaram o ensino superior.

Porém, alguns congressistas republicanos se beneficiaram do programa PPP - Paycheck Protection Program (Programa de Proteção ao Contracheque, em tradução livre), implementado ainda no governo de Donald Trump, em 2020. A medida, que visava conceder empréstimos para pequenos negócios não demitirem funcionários durante a pandemia, durou até maio de 2021.

Algumas das dívidas perdoadas pelo governo federal foram expostos nas publicações da Casa Branca, que mirou naqueles que ainda apoiam Trump dentro do partido.

"A deputada Marjorie Taylor Greene teve US$ 183,504 em empréstimos do PPP perdoados", escreve a Casa Branca em um tuíte. No vídeo compartilhado, a deputada chama, durante uma entrevista, a medida do governo Biden de "injusta" e diz que se trata de uma escolha eleitoral, já que os EUA terão eleições parlamentares em novembro.

Uma outra publicação aponta que o deputado Vern Buchanan teve US$ 2,3 milhões de dívidas do PPP perdoadas. O congressista, em sua postagem, diz que "o perdão de empréstimos estudantis imprudente e unilateral de Biden é injusto com os 87% dos americanos sem dívidas com empréstimos estudantis e aqueles que seguiram as regras".

O perfil da Casa Branca não foi a único a olhar para os dados públicos do programa de Trump e encontrar deputados republicanos que pegaram empréstimos por essa via.

Uma organização que milita por políticas progressistas retuitou um questionamento do perfil jurídico do Partido Republicano, que dizia: "Se você pega um empréstimo, pague-o. Ponto final". "E sobre o pagamento desses empréstimos?", questionou a página sobre a lista de deputados beneficiados na gestão Trump.

Problema da dívida estudantil nos Estados Unidos é histórico. A medida, sem precedentes, é uma tentativa de conter o aumento exponencial das dívidas estudantis no país, mas não lida com a causa do problema: o alto custo do ensino universitário nos EUA.


Os críticos questionam se Biden possui autoridade para impor a medida. Entretanto, o departamento de Justiça dos EUA analisou a legalidade da proposta e concluiu que a Secretaria Federal de Educação tem poder para autorizar a redução ou eliminação da obrigação de pagamento das dívidas estudantis. Mesmo assim, a possibilidade de enfrentamentos na Justiça é alta.

"Essas ações são voltadas para as famílias que mais precisam: os trabalhadores e as pessoas de classe média, fortemente atingidas durante a pandemia", disse Biden, ao anunciar a medida.

O governo visa atingir 43 milhões de pessoas, das quais 20 milhões poderão ter suas dívidas eliminadas por completo.

Em torno de 60% das pessoas que recorreram aos empréstimos são beneficiários dos Pell Grants, auxílios estudantis federais concedidos durante a graduação, e poderão ter direito a um alívio de até 20 mil dólares em suas dívidas.

A proposta visa criar um novo plano de pagamentos, por meio do qual os requerentes de empréstimos não poderão pagar mais do que 5% de seus rendimentos, em vez dos 10% aplicados atualmente.

A medida não exigirá aprovação no Congresso, mas pode levar mais de um ano até ser finalizada. O plano do governo foi apresentado após mais de um ano de negociações, e enfrentou forte pressão dos liberais, que tentavam eliminar por completo as dívidas estudantis, e dos moderados e conservadores, que questionavam os critérios do governo.