WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Joe Biden quer fazer de seu ambicioso pacote de infraestrutura, detalhado nesta quarta-feira (31), uma forma de pavimentar a implantação de sua agenda ambiental, destinando bilhões de dólares à modernização e transformação das duas maiores fontes de poluição nos EUA: carros e usinas de energia elétrica.
 
O objetivo do presidente americano é criar milhões de empregos, reformar pontes e ampliar a rede de banda larga do país, ao mesmo tempo em que tenta cumprir suas aspirações sobre energia limpa e equidade racial, mas já enfrenta obstáculos políticos de saída.

O Partido Republicano tem se rebelado contra a ideia de aumentar os impostos das empresas para pagar o plano trilionário –a alíquota iria de 21% para 28%, revertendo o corte promovido por Donald Trump.


Entre os principais pontos do pacote para tentar cumprir o roteiro verde e mais igualitário de Biden estão o investimento em pesquisa e novas tecnologias para energia limpa, modernização de construções em comunidades carentes, como escolas e hospitais, para que sejam mais resistentes a enchentes, furacões, incêndios, e outros impactos do aquecimento global, e o esforço massivo para ampliar o número de carros elétricos no país, que hoje representam apenas 2% da frota americana.

Biden promete eliminar a emissão de carbono do setor elétrico até 2035 e sabe que, para isso, precisa acelerar mudanças estruturais na forma que os EUA produzem energia –o país hoje é o segundo maior poluente do mundo, atrás apenas da China.

Em termos de valores, as fatias inicialmente destinadas a essas propostas são grandes: US$ 213 bilhões para responder à desigualdade econômica, por meio da modernização dos prédios em comunidades mais pobres; US$ 400 bilhões para o que Biden chama de "infraestrutura de cuidados", dedicada a famílias com idosos e pessoas com deficiência em áreas carentes; e a construção de 500 mil estações de carregamento de carros elétricos até 2030.

Biden ainda propõe a expansão dos incentivos fiscais para a compra de veículos desse tipo e créditos para empresas que fabricam baterias para essa frota.

No detalhamento do plano, ainda estão gastos de US$ 180 bilhões com pesquisa e desenvolvimento, US$ 115 bilhões para reparar pontes e estradas –as 10 mais importantes do país estão na lista–, US$ 85 bilhões para transporte público, US$ 42 bilhões para portos e aeroportos, US$ 100 bilhões para banda larga e US$ 111 bilhões para infraestrutura hídrica –incluindo US$ 45 bilhões para assegurar que nenhuma criança beba água proveniente de canos de chumbo, o que pode retardar o desenvolvimento.

Biden pediu ao Congresso que aprove o pacote de US$ 2 trilhões para gastos com infraestrutura ao longo de oito anos, o que seria pago com aumento de impostos sobre as empresas por 15 anos.

Se aprovado, o investimento do governo americano em infraestrutura atingiria os níveis mais altos desde a década de 1960. No fim de fevereiro, a Sociedade Americana de Engenheiros Civis classificou com nota "C menos" a rede de infraestrutura do país e disse que ao menos US$ 5,9 trilhões (R$ 32,4 trilhões) deveriam ser investidos no setor na próxima década.

Outros estudos mostram que mais de 27 milhões de americanos são servidos por sistemas de água que violam os padrões de saúde estabelecidos por lei.

Assessores de Biden dizem que os US$ 2 trilhões detalhados nesta quarta podem ser apenas a primeira parte do projeto –que chegaria a US$ 4 trilhões a serem investidos em dez anos.

Eles reconhecem, no entanto, que o tamanho do foco nas mudanças climáticas e na agenda ambiental são um entrave político e que Biden vai ter que decidir até que ponto poderá ir com suas ambições sobre energia limpa para ganhar apoio de republicanos.

Para a aprovação de projetos como esses, geralmente são necessários os votos de 60 dos 100 senadores, o que significa conquistar ao menos 10 republicanos, que não costumam apoiar ideias sobre energias renováveis ou mitigação de desigualdades.

Outra saída para dar aval ao projeto sem concessões seria fazer uso de um mecanismo especial conhecido como "conciliação". O arranjo, utilizado para avançar com o pacote de socorro econômico, por exemplo, exige apenas maioria simples dos cem senadores para medidas que envolvem orçamento, e impede que opositores obstruam a votação.