Brasil247 – Gaza está à beira de uma tragédia humanitária ainda maior, com a iminente falta de alimentos terapêuticos essenciais para salvar a vida de crianças gravemente desnutridas. O alerta foi feito nesta quinta-feira (25) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e outras agências internacionais, em reportagem da Reuters. A crise humanitária é a consequência do genocídio promovido pelo governo de Israel, diante do silêncio e da cumplicidade das potências ocidentais.

“Estamos agora enfrentando uma situação crítica, estamos ficando sem suprimentos terapêuticos”, afirmou Salim Oweis, porta-voz da UNICEF em Amã, Jordânia. Ele explicou que os estoques do alimento pronto para uso (RUTF, na sigla em inglês) — fundamental para tratar desnutrição aguda — devem se esgotar até meados de agosto se não houver reposição. “Isso é realmente perigoso para as crianças, que já enfrentam fome e desnutrição neste momento”, acrescentou.

O UNICEF informou que só restam suprimentos para tratar 3 mil crianças, número insuficiente diante da demanda crescente. Nas duas primeiras semanas de julho, a organização atendeu 5 mil crianças em estado de desnutrição aguda em Gaza. Os alimentos terapêuticos incluem biscoitos de alto valor calórico e pasta de amendoim com leite em pó — insumos indispensáveis no combate à desnutrição severa.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também soou o alarme: a maioria dos estoques de tratamento já foi consumida, e o que ainda está disponível deve acabar em breve. Um programa da entidade para prevenir a desnutrição em gestantes e crianças com menos de cinco anos poderá ser interrompido por falta de suplementos.

 A fome em Gaza tem se agravado rapidamente desde que Israel iniciou, em outubro de 2023, sua ofensiva militar contra o grupo Hamas. Em março, o governo israelense impôs um bloqueio total à Faixa de Gaza, interrompendo o fornecimento de alimentos, água e remédios. Embora o cerco tenha sido parcialmente suspenso em maio, as restrições persistem e impedem que a ajuda humanitária chegue em volume suficiente.

O resultado dessa política, segundo as agências de ajuda internacional, é que apenas uma fração do necessário está chegando à população. Israel afirma que tem permitido a entrada de ajuda e responsabiliza o Hamas pelo sofrimento da população. A agência militar COGAT, que coordena o fluxo de ajuda, disse à Reuters que está trabalhando com organizações internacionais para melhorar a distribuição, embora centenas de caminhões permaneçam bloqueados nas fronteiras.

A organização Save the Children, que mantém uma clínica em Gaza Central, declarou que não consegue enviar seus próprios estoques desde fevereiro e depende integralmente das remessas da ONU. “Se os suprimentos da UNICEF acabarem, isso também afetará os parceiros e outras organizações que dependem desses estoques para atender as crianças”, alertou Alexandra Saieh, chefe de política humanitária global da entidade.

Entre abril e meados de julho, o UNICEF admitiu 20.504 crianças com desnutrição aguda, sendo 3.247 em estado severo — quase o triplo registrado no primeiro trimestre de 2025. A OMS confirmou que pelo menos 21 crianças com menos de cinco anos morreram de desnutrição neste ano. O Ministério da Saúde de Gaza anunciou, ainda, que duas pessoas morreram de fome na noite de quarta para quinta-feira, elevando para 113 o número de mortos por inanição — a maioria nas últimas semanas.

 A imagem dramática da crise foi registrada por Mohammed Salem, fotógrafo da Reuters, que flagrou a mãe palestina Ghaneyma Joma ao lado de seu filho Younis, gravemente desnutrido, no hospital Nasser, em Khan Younis, no sul de Gaza.

Diante da escassez extrema e da obstrução à entrada de ajuda, cresce o apelo das agências humanitárias para uma ação internacional urgente. A contínua política de bloqueio e destruição promovida por Israel tem acelerado o genocídio de um povo, onde milhares de crianças são empurradas à morte pela fome.