Ataques suicidas promovidos pelo Taleban mataram 48 pessoas em duas ações realizadas em lugares diferentes no Afeganistão nesta terça-feira (17).
Empenhado em boicotar as eleições no país, que acontecem daqui a dez dias, a milícia realizou uma ação próxima a um comício eleitoral do presidente Ashraf Ghani, na cidade de Charikar. O ataque deixou 26 mortos e 42 ferido. O atual líder afegão não ficou ferido.
"Quando as pessoas estavam entrando em uma área policial, um idoso dirigindo uma motocicleta chegou em alta velocidade e detonou seus explosivos", disse Mohammad Mahfooz Walizada, chefe de polícia de Parwan, província à qual pertence a cidade de Charikar.
Os corpos cobriram o chão empoeirado enquanto a fumaça subia do local da explosão. Um gigantesco outdoor azul com o rosto do companheiro de chapa de Ghani, Amrullah Saleh, pairava sobre a cena.
Socorristas correram para colocar os feridos em caminhonetes e assim tirá-los de lá. Entre as vítimas, há homens, mulheres e crianças.
Ghani busca sua reeleição no dia 28 de setembro. No início da campanha, os talebans anunciaram que não mediriam esforços para sabotar o processo –ameaçando, inclusive, os que se dispuserem a votar.
"Não participe de comícios desta eleição de marionetes, porque todos esses eventos são nossos alvos militares", disse o grupo em comunicado nesta terça. "Se alguém se machucar, apesar dos avisos, a culpa será da própria pessoa."
No centro de Cabul, capital do país, outra explosão, realizada por um homem a pé, nas proximidades da embaixada dos Estados Unidos deixou 22 mortos e 38 feridos. As duas ações foram reivindicadas pelo grupo terrorista.
No Twitter, o presidente afegão compartilhou uma foto do público presente no ato de campanha e acusou o Taleban de tentar destruir a defesa de direitos democráticos.
"Ofereço minhas sinceras condolências às vítimas das tragédias de hoje em Cabul e Parwan e rezo pela rápida recuperação dos feridos", escreveu.
Os ataques ocorrem dias depois da suspensão das negociações de paz entre o Taleban e os Estados Unidos, que mantêm uma grande operação militar no Afeganistão.
Após meses de conversas, uma reunião secreta havia sido marcada com o presidente Donald Trump em solo americano no início deste mês, mas foi cancelada em cima da hora depois que um ataque do Taleban no Afeganistão matou um sargento do Exército americano.
Na semana passada, no aniversário dos ataques de 11 de setembro, Trump prometeu intensificar os ataques contra o Taleban. O grupo foi derrubado do poder no Afeganistão em 2001, após a invasão promovida pelos Estados Unidos.
À época, o governo americano o acusou o grupo de dar abrigo a terroristas da Al Qaeda, autores do ataque. Nos anos seguintes, Washington apoiou um governo local contrário ao Taleban, e as investidas terroristas no país seguiram acontecendo.
A retirada de tropas da região foi uma das promessas do governo Trump, que anunciou em 2017 um novo plano estratégico para o país. No entanto, o documento foi criticado por não estabelecer um prazo para o retorno dos militares aos Estados Unidos.
Ele afirmou à época que "uma retirada apressada [das tropas] criaria um vácuo que terroristas –incluindo o Estado Islâmico e a Al-Qaeda- ocupariam instantaneamente, como ocorreu antes do 11 de Setembro".
Em 2013, Trump era crítico ferrenho da presença americana do Afeganistão e defendia uma "saída acelerada". "Por que continuamos gastando nosso dinheiro? Vamos reconstruir os Estados Unidos!", escreveu em janeiro de 2013.
O ex-presidente americano Barack Obama chegou a prever, durante seu governo, uma retirada total das tropas até 2016, o que não conseguiu cumprir.