Glória Maria foi a primeira entrevistada da nova temporada do programa Conversa com Bial, da Rede Globo. Em uma entrevista por vídeo-chamada, a jornalista comentou a respeito da forma que a imprensa vem sendo tratada pelo atual presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Essa foi a primeira vez que ela falou publicamente após sete meses de tratamento contra um tumor no cérebro.


"Às vezes eu penso que não é possível que estou vivendo para ver e ouvir isso tudo. Vai além de qualquer imaginação. Política, para mim, é uma coisa de nível tão alto e o que estou vendo agora é de uma tristeza. Graças a Deus não cubro mais política, porque eu já teria apanhado ou teria batido, com certeza".

Quando Pedro Bial perguntou sobre o que ela faria caso um governante a mandasse "calar a boca", se referindo a recentes episódios protagonizados por Bolsonaro na porta do Palácio do Alvorada, Glória disparou: "Eu não me calaria nunca. Eu diria para ele: 'Vamos conversar, vamos falar juntos. Eu pergunto e você responde".


Repórter da emissora há 50 anos, Glória Maria atuou na cobertura dos principais programas da emissora desde a década de 1970. Ela contou, ainda, que durante a ditadura militar foi perseguida pelo então presidente general João Figueiredo. 


"Quando ele foi indicado, a gente foi fazer a famosa fala dele na Vila Militar, em que ele dizia 'para defender a democracia, eu bato, prendo e arrebendo'. Eu sou boa em português, e ele citou uma coisa da gramática que não existia mais, e eu disse: 'presidente, o senhor me desculpa, mas isso que o senhor citou não existe mais'. Ele gritava: 'tira essa mulher daqui, tira essa mulher daqui'. Eu saí escorraçada e passei todo o governo Figueiredo ouvindo 'tira essa neguinha da Globo daqui'", relembrou.


Para Glória, o Brasil continua tão racista quanto naquela época. "A única diferença é que as coisas ganham uma proporção maior, mas nada mudou. A discriminação continua igualzinha", comentou a repórter.