SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com apenas 25 anos, João Côrtes já mostrou que adora se reinventar. De garoto-propaganda da Vivo, saltou às novelas da Globo e já tem experimentado até a direção de filmes. Seu foco atual, no entanto, é a representatividade e, se possível, "transformar a mentalidade da sociedade".
 
O artista assumiu publicamente ser gay, em junho do ano passado, por meio de um texto publicado em seu Instagram. Segundo ele, "algo planejado". "Eu já estava querendo fazer isso, justamente por entender a importância da representatividade e do meu lugar de fala", afirma em entrevista por telefone ao jornal Folha de S.Paulo.

Côrtes conta que a decisão de falar sobre sua sexualidade publicamente demorou meses para ser tomada, mas é uma decisão da qual não se arrepende. "É muito bacana poder ser essa imagem de reconhecimento. Quero que as pessoas possam olhar e se sentir menos sozinhas no mundo, na orientação delas, no gênero delas."

Como parte dessa representatividade que quer mostrar, Côrtes roteirizou e atuou, no fim de 2020, no curta-metragem "Flush", que rendeu o prêmio de melhor ator para o ator Nicolas Prattes, 23 , no Festival Independente de Cinema de Montreal, no Canadá.

"Eu escrevi Flush, um curta LGBT, e um mês e meio depois filmamos", conta. A direção de fotografia do curta foi feita por seu irmão, Gabriel Côrtes, e a direção-geral foi de Diego Freitas. "É um filme que fez até mais sucesso que o longa", comenta referindo-se ao filme "Nas Mãos de Quem me Leva", que ele dirigiu em 2018.

Na trama, escrita totalmente em inglês, os telespectadores acompanham reflexões de dois personagens com pensamentos diferentes: Sarah (João Côrtes), uma pessoa não binária, e Tom (Nicolas Prattes), um menino cis gênero e conservador, que passam a noite no banheiro da faculdade após ficarem acidentalmente trancados.

"É muito bacana, todos nós estamos muito felizes com esse reconhecimento e nos sentindo fortalecidos após investir tanto na arte", comenta João sobre o curta fazer sucesso em premiações no exterior. "De alguma maneira 'validaram' a nossa arte. Então isso é bem bonito".

Para Côrtes, o trabalho é como uma ferramenta para transformar a sociedade, que para ele está agora potencializada por um sentimento de responsabilidade, por ser "um homem gay e artista", de ser parte do movimento de mudança e mostrar para a indústria que ele trabalha que "uma coisa não tem a ver com a outra".

Recentemente, atores como Jonathan Bailey, 32, da série "Bridgerton" (Netflix) e Igor Cosso, 29, da novela "Salve-se Quem Puder" (Globo), declararam que já foram orientados a não se assumirem gays, para não prejudicá-los em sua carreira como atores. "As próprias pessoas grandes do mercado falavam que não seria bom um ator gay se assumir", chegou a afirmar Igor ao canal Transdiário no YouTube.

Bailey disse que as conversas mais conservadoras que teve foram com outros gays da indústria da arte, e que ouvia falas como "Oh, não, você não pode se assumir! Você realmente não deveria fazer isso! Se fizer isso, muitas coisas ruins podem acontecer", conta em entrevista a revista Attitude.

Côrtes defende o fim dessa avaliação de um artista por sua sexualidade. "O fato de eu ser ator não tem a ver com o fato de eu ser gay", afirma. "Acredito que devemos continuar lutando pelo nosso espaço, continuar nos provando, e provando que na verdade, não é sobre quem nós somos, não interessa a nossa vida pessoal. O que interessa é o nosso trabalho".